Ter alguém que você conhece testando os produtos que você quer comprar ao vivo e, diferente do que já acontece na TV, respondendo perguntas instantaneamente, tem tudo para ser a experiência máxima em comércio eletrônico, certo? Essa é a ideia por trás do AliExpress Connect, a nova plataforma do site de compras internacionais do grupo Alibaba que faz a ponte entre influenciadores e as principais marcas do canal.
Lançada no final de maio, o objetivo da plataforma é ousado: atrair mais de 100 mil criadores de conteúdo em todo o mundo este ano, aumentando esse número para 1 milhão nos próximos três anos, e ajudar pelo menos 100 deles a obter uma renda anual de mais de US$ 1 milhão. “Sim, você pode pensar que esse é um objetivo ousado, mas a verdade é que já está acontecendo na China. Muitas pessoas estão ganhando mais do que isso aqui”, diz Martin Wang, diretor de Cooperação para o Comércio Social e Operações Internacionais da AliExpress desde janeiro deste ano, em entrevista ao LABS.
Com a plataforma, o grupo Alibaba pretende repetir no AliExpress o sucesso que teve no seu marketplace local, Taobao. Nele, os chamados KOLs (key opinion leaders, que é como os chineses também costumam se referir aos influencers no setor do e-commerce) vem fazendo uma verdadeira revolução em termos de vendas.
E a missão pode não ser tão difícil de fato. De acordo com os resultados do primeiro trimestre do Alibaba, juntamente com a Lazada, a plataforma de comércio eletrônico da empresa para o Sudeste Asiático, o AliExpress alcançou 180 milhões de usuários ativos em março. Na China como um todo, os mercados de varejo do Alibaba fecharam o primeiro trimestre com 729 milhões de usuários ativos. Nos próximos cinco anos, o objetivo da empresa é atingir mais de 1 bilhão de consumidores chineses e continuar a crescer globalmente à medida que o mercado doméstico se aproxima da saturação.
Embora alguns veículos internacionais como a Bloomberg tenham dito que o foco inicial da plataforma era a Europa – principalmente Rússia, França, Espanha e Polônia, onde está a maioria dos usuários do AliExpress –, a América Latina também é um alvo importante para a empresa chinesa.
Sabemos já há algum tempo que a América Latina é o segundo mercado de comércio eletrônico que mais cresce n mundo, e também sabemos como os latino-americanos são sociais, por isso é claro que o potencial da Connect na região é enorme
Martin Wang, diretor de Cooperação para o Comércio Social e Operações Internacionais da AliExpress.
Em tempos de crise econômica global causada pela pandemia do COVID-19 – com certeza a maior em décadas – Wang diz que uma das principais missões da Connect é oferecer novas fontes de renda e oportunidades de trabalho para influenciadores e criadores de conteúdo, dando a eles também acesso a novas ferramentas de desempenho e dicas importantes que podem ajudá-los a expandir seus negócios. Por isso, além da versão para PC, a AliExpress também antecipou o lançamento da versão móvel da plataforma.
A estratégia é importante não apenas diante dos rivais da empresa na China, mas globalmente no momento em que o Facebook, Instagram e Pinterest também criaram novas funcionalidades para impulsionar as compras em suas plataformas.
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Por que os influenciadores são uma estratégia-chave para a AliExpress?
A idéia geral é fazer com que o consumidor fique mais tempo no site, vendo e comprando mais produtos. No meio desse processo, o consumidor também conhece melhor as marcas e passa a confiar mais nelas. “As pessoas podem ver nossos produtos em tempo real e, através desses vídeos ao vivo, podem saber como esses produtos funcionam, obter instruções de uso de pessoas que falam seu idioma, criando uma nova experiência sensorial para o comércio eletrônico. Especialmente para o comércio eletrônico internacional isso é ainda mais importante, gera confiança nas pessoas”, enfatiza Ken Huang, Head da América Latina na AliExpress.
Huang diz que, entre o final de 2018 e o início de 2019, a AliExpress começou a trabalhar com influenciadores no Brasil, principalmente com os maiores, com até 30 milhões de seguidores, e esses influenciadores foram realmente eficazes na divulgação da imagem da AliExpress.
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“À medida que avançamos, descobrimos que o poder das próprias plataformas e dos micro e médios influenciadores era igualmente importante. No Double 11 do ano passado (11 de novembro ou no Dia do Solteiro na China, a maior data de vendas do país), tivemos mais 120 milhões de novos seguidores provenientes desses influenciadores. Desde então, colaboramos com mais de 100 influenciadores para promover nossos produtos no Brasil. E muitos deles estão atualmente no AliExpress Connect”, explica Huang.

O executivo diz que a empresa utiliza não apenas influenciadores brasileiros no Brasil, mas também os que vivem na China. “Recrutamos alguns deles, os convidamos a visitar as fábricas também, para que eles possam mostrar onde os produtos são feitos, enquanto são feitos”, diz Huang.
Como a AliExpress Connect funciona
Os influenciadores são convidados a se inscrever na AliExpress Connect, individualmente ou através de suas agências. A inscrição na plataforma pode ser feita com um clique, por meio de uma conta vinculada ao Facebook, Instagram, Twitter, TikTok, VK ou Google.
Logo após o registro, os influenciadores podem realizar inúmeras tarefas e campanhas, incluindo a criação de conteúdo original para as marcas. O sistema da Connect também fornece ferramentas de treinamento e análise para dar suporte ao processo criativo.
Os lojistas da AliExpress, por sua vez, também podem postar tarefas diretamente na plataforma, usando filtros para selecionar os influenciadores mais adequados para essas tarefas.
10 anos de AliExpress no Brasil
Mesmo com uma queda inicial nas vendas a partir de fevereiro, principalmente devido à interrupção da cadeia de suprimentos e logística causada pela pandemia do COVID-19, mas também por causa das medidas de isolamento social no Brasil, Huang diz que a AliExpress não desistiu de seus planos para o país.
O Brasil está sempre entre os cinco maiores mercados da empresa e a América Latina é o segundo maior mercado de comércio eletrônico do mundo. Neste ano de 2020, a empresa comemora seu 10º aniversário no Brasil.
“A pandemia afetou a todos e a AliExpress não é exceção. Ela nos trouxe desafios, mas também oportunidades”, disse Huang ao LABS. No curto prazo, como forma de melhorar os serviços da empresa para os clientes brasileiros, a AliExpress fechou novos acordos de frete aéreo e lançou novas opções de entrega e pagamento.
Em março, a AliExpress começou a permitir que brasileiros pagassem suas compras com cartão de crédito em até 12 parcelas. Em maio, a AliExpress lançou o AliExpress Direct, um novo serviço que coordena todas as compras e consolida os pedidos do mesmo usuário em uma única remessa.
A taxa do Direct é de US$ 3 (R$ 14), mas se o pagamento total exceder US$ 30 (R$ 140), a taxa do AliExpress Direct será gratuita. Atualmente, o novo serviço está disponível para a maioria dos produtos abaixo de US$ 10 (R$ 46).
Além disso, o AliExpress criou um serviço de devolução gratuita. Agora, o consumidor pode devolver o produto dentro de 15 dias após o recebimento dos pedidos, sem ter que pagar a taxa de devolução e terá um reembolso, uma vez confirmadas as condições de recebimento e produto. Esta opção está disponível para todos os produtos com o ícone “Devolução gratuita” na página de detalhes do produto.
E no início deste mês, a empresa fechou um acordo para dois voos semanais entre China e Brasil e Chile com a companhia aérea de cargas Atlas Air Worldwide. A medida, segundo o executivo, tem como objetivo garantir o prazo de entrega das encomendas, mesmo em meio à pandemia da COVID-19.
Os voos estão sendo fretados por uma parceria entre a Cainiao e a empresa intermediadora de fretes Sinotrans. Segundo o portal especializado Air Cargo World, o primeiro voo para a América Latina chegou ao Aeroporto Internacional de Guarulhos, na região de São Paulo, em 6 de junho.
Plano de médio a longo prazo
Além das ações de curto prazo já mencionadas, Huang disse que a AliExpress mantém seu plano de médio prazo de ter um centro de distribuição no Brasil e que a empresa também está em negociação para construir parcerias locais em logística.
“Ainda não chegamos a nenhuma parceria oficial para este armazém. Mas esse continua sendo um plano de médio a longo prazo; quando chegar a hora certa e as condições certas, avançaremos”, disse Huang ao LABS.