A crise política no Peru não é recente, resultado de uma série de acontecimentos que marcaram o país nas últimas três décadas: quatro presidentes foram presos por corrupção, e desde 2011, o país trocou sete vezes de representante. Em contrapartida, o Peru manteve, no mesmo período, o título de economia em mais rápido crescimento na América Latina.
Para este ano, as projeções do Fundo Monetário Internacional preveem uma desaceleração, assim como na maior parte das economias do mundo. E, no caso do Peru, há também a preocupação com possíveis desdobramentos da mais recente crise política local, que resultou na destituição do ex-presidente Pedro Castillo, após uma tentativa mal sucedida de dissolver o Congresso do país, em dezembro passado. Desde então, o Peru está sob o comando da vice de Castillo, Dina Boluarte, que tem enfrentado uma série de protestos desde que assumiu a presidência.
O cenário de instabilidade política tende a colocar o mercado em estado de atenção, no entanto, o Peru tem conseguido sustentar um crescimento econômico consistente nas últimas três décadas, à despeito das turbulências: dados do Banco Mundial apontam que o PIB peruano cresceu seis vezes de 1993 para cá, saltando de USD 34.8 bilhões para USD 223.2 bilhões em 2021, conforme dados mais recentes disponíveis.
Parte dessa consistência pode ser atribuída ao modelo econômico aplicado no Peru nas últimas décadas, que segue a fio o que foi acordado na Constituição peruana de 1993. Além disso, a independência e gestão do Banco Central de Reserva do Peru (BCRP) têm sido um dos pilares do equilíbrio econômico peruano. Essa evolução, nos últimos anos, fez do Peru um exemplo de estabilidade numa região onde a maior parte dos países enfrentam contas públicas desequilibradas. E, mesmo em termos de estabilidade monetária, o Sol Peruano é uma exceção dentre as moedas instáveis dos vizinhos sul-americanos.
Paola Villar, jornalista da Bloomberg Línea no Peru, explica que esse cenário não deve mudar, mesmo com a crise atual, e que a expectativa é que a situação política também se estabilize, sem grande impacto macroeconômico. “A economia peruana sempre caminhou apesar da crise. Pode ser que agora caminhe a passos mais lentos, mas acredito ser difícil retroceder”, opina Villar.
Crescimento econômico impulsiona um mercado digital jovem e acelerado
O avanço da economia peruana tem impulsionado setores do mercado que apenas recentemente ganharam tração no país andino, como o mercado digital, um setor que registrou um crescimento de 90% em 2021 e deve expandir 21% ao ano entre 2022 e 2025, segundo o estudo Beyond Borders 2022-2023.
Além disso, o Peru aparece atualmente como o terceiro país da América Latina com o maior número de compradores digitais nas redes sociais, depois do Brasil e do Chile. De acordo com a Câmara de Comércio de Lima, 77% dos peruanos fazem compras em redes sociais.
A adesão ao comércio digital tem a ver com uma série de fatores, como a ampliação do acesso à internet e as mudanças de hábitos causadas pela pandemia, mas, principalmente, com a popularização dos métodos de pagamento alternativos, como carteiras digitais, transferências baseadas em conta e soluções Buy Now Pay Later (BNPL).
“Por vezes esse avanço não tem sequer a ver com digitalização, mas sim com o fato de fazer negócios online, através de redes sociais e marketplaces”
Paola Villar. Jornalista da editoria Peru da Bloomberg Línea.
As carteiras digitais peruanas, principalmente as mais utilizadas, Yape e Plin, já se tornaram a principal forma de pagamento do país e facilitam o e-commerce por meio das redes, com transferências realizadas pelo celular ou por QR code. O hábito de realizar transferências digitais no Peru já virou até verbo: “yapear”. Dados da Beyond Borders apontam que as carteiras digitais cresceram 52% no último ano no comércio digital do país.
Para Paola Villar, a expectativa é que o setor continue crescendo. “Os mercados digitais seguirão avançando, independentemente dessas dificuldades”, afirma Villar. “As empresas peruanas deram um salto tremendo no setor de e-commerce no Peru e esse avanço já está consolidado”, completa a jornalista.