O PicPay foi criado por três amigos no final de 2012, em Vitória, Espírito Santo. A carteira digital capaz de realizar pagamentos via QR Code (uma das primeiras no mundo com essa funcionalidade) só ganhou tração de fato em 2015. Quase dez anos depois, conta com mais de 50 milhões de usuários (mais de 39 milhões deles ativos) e se reestruturou para se transformar em um super app.
Em 2020, em meio à pandemia do novo coronavírus, o PicPay tinha 38,8 milhões de usuários – um crescimento de 231% comparado ao ano anterior. São cerca de R$ 3 bilhões em transações por mês. Para ganhar mais relevância entre os brasileiros e ser aquele ícone da tela inicial preferido de todos eles, a plataforma tem atuado em cinco frentes: social, carteira digital, marketplace financeiro, compras e anúncios. A chave para fazer com que todas essas áreas funcionem como uma perfeita engrenagem é o efeito de rede – gerar maior valor à medida que mais pessoas utilizem os serviços.
A verdade é que a fintech não quer mais ser vista apenas como uma companhia que oferece serviços financeiros. A pretensão é se tornar uma versão ocidental do WeChat, aplicativo chinês pelo qual os usuários fazem praticamente tudo, de troca de mensagens a compras e transações bancárias. Anderson Chamon, co-fundador do PicPay e hoje vice-presidente e responsável por Produtos e Tecnologia da plataforma, frisa que as relações sociais envolvem dinheiro. E ao invés de se esquivar desse “quase tabu”, o PicPay usa isso a seu favor e a favor dos clientes.
Em meio ao crescimento exponencial, tanto de usuários quanto de oferta de serviços, a empresa se prepara para uma oferta inicial de ações (IPO). A expectativa no mercado é de que a abertura aconteça ainda em 2021, na norte-americana Nasdaq. Uma estimativa tendo em base de comparação o Nubank e o Banco Inter avaliou o PicPay em aproximadamente US$ 35 bilhões (cerca de R$ 200 bilhões no câmbio atual).
O que é o PicPay, como funciona?
Basicamente, o PicPay é um aplicativo de carteira digital que, entre outras coisas, permite aos usuários enviar e receber dinheiro, pagar contas, armazenar cartões de fidelidade e cupons de desconto. Pouco a pouco, o PicPay vem se firmando como um app social que também funciona como carteira digital, oferecendo soluções como dividir a conta do bar ou rachar o valor do presente de aniversário de um amigo, além de fazer o parcelamento em determinadas lojas e serviços.
No PicPay, quando uma pessoa paga ou recebe dinheiro, o usuário tem a opção de deixar a transação visível para os seus seguidores, assim como qualquer rede social. As movimentações visíveis estão lá para que amigos possam comentar e curtir. Os valores, porém, nunca são públicos. O uso do app é 100% gratuito para operações não comerciais. Outro grande atrativo é a possibilidade de fazer pequenos pagamentos pelo cartão de crédito entre amigos. Essa opção antes não era comum, já que o cartão de crédito sempre foi focado em transações comerciais.
O app do PicPay está disponível para Android e iOS. O perfil dos usuários é identificado por um @ e pode ser aberto ou fechado. No caso do último, ele só pode ser seguido depois da autorização do dono do perfil. E caso os usuários não queiram que algum pagamento seja visto nem pelos seus seguidores, eles podem optar por tornar a transação privada.
Ao contrário do que alguns possam imaginar, a criação do PIX, plataforma gratuita de pagamentos instantâneos do Banco Central, acabou facilitando a vida dos usuários do PicPay na hora de transferir dinheiro para a carteira digital.
Os usuários hoje não são de um só segmento ou faixa etária. A expansão e popularidade do aplicativo fazem com que hoje ele seja representado pela cara da população brasileira. Já em números, eles ultrapassam o de fintechs bem estabelecidas – inclusive o unicórnio brasileiro Nubank, e também grandes bancos tradicionais como o Santander Brasil. O PicPay, porém, tem ambições que vão muito além de concorrer no mesmo âmbito das instituições financeiras.
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Os serviços oferecidos pelo PicPay
Crédito pessoal – Em junho de 2020, a empresa lançou um serviço de crédito pessoal. Além de uma base pré-aprovada de 14 milhões de pessoas, também disponibilizou o serviço de peer-to-peer lending, em que usuários pudessem pedir dinheiro emprestado para outros. Para comandar a nova área da empresa, o executivo Frederico Trevisan foi contratado em maio de 2020, trazendo junto seus mais de 15 anos de experiência no setor e passagens por bancos como Santander, Citi e Itaú Unibanco.
Cartão PicPay
Em um passo para ampliar transações fora da plataforma, em 2019 o PicPay lançou um cartão de crédito e chegou a emitir 5 milhões de unidades. Além de saques disponíveis 24 horas por dia sem taxas, a empresa passou a disponibilizar também o rendimento de carteira
PicPay comércio eletrônico
Qualquer parceiro pode se conectar a uma loja virtual aberta.
PicPay Empresas
O serviço foi lançado em 2017 e tem 3 modalidades: Microempreendedor Individual, Pequenas Empresas e Grandes Empresas , de forma que é possível monitorar todas as transações em tempo real, pelo app ou pelo site PicPay Lojistas.
Os pagamentos podem ser feitos através do celular ou à distância, através de um link ou QR Code, eliminando a necessidade da maquininha. As máquinas da Cielo, Rede e Getnet possuem tecnologia compatível para receber pagamentos através de QR Code, o que permite que usuários PicPay façam pagamentos em mais de 5 milhões de estabelecimentos que possuem os dispositivos.
PicPay Cashback
O PicPay também tem um serviço de cashback por meio de campanhas. Os usuários recebem notificações informando sobre as promoções e os valores podem ser utilizados para pagar outros usuários, em estabelecimentos parceiros, serviços e games da PicPay Store.
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Expansão sem aquisições
Embora acompanhem de perto as movimentações do mercado, a equipe do PicPay não foi agressiva no sentido de aquisições. Chamon não descarta uma mudança nessa postura. O executivo e cp-fundador diz acreditar em aquisições, desde que elas façam com que a estratégia interna da empresa avance.
Há também o desejo de expandir o PicPay para além das fronteiras do Brasil. Não se trata ainda de um plano e sim de uma aspiração, alinhada com o projeto de se tornar o “WeChat ocidental”. Porém, Chamon acredita que o mercado e os desafios no Brasil ainda são muito grandes, e pensar em expandir internacionalmente não é um bom uso do seu tempo.
A empresa teve o seu primeiro prejuízo em 2020: R$ 275 milhões. Operar no vermelho não é incomum para empresas de tecnologia em alto ritmo de crescimento, e o PicPay acredita que pode dar lucro já a partir de 2021. Tirando os investimentos no crescimento da plataforma, eles já operam com margens positivas.
O Picpay é controlado pelo Banco Original, um neobanco que se tornou sócio em 2015 e detém 22,70% do negócio. Os demais acionistas controladores do PicPay são J&F Participações (do grupo J&F que também detém o Banco Original), com 9,66% da empresa, e José Batista Sobrinho, fundador da gigante do agronegócio JBS que deu origem ao grupo J&F, com 67,64% .