Conveniência, autonomia, diversificação das ofertas, qualidade dos produtos, melhores escolhas, confiança, segurança, garantia, preço. Não importam os motivos, é bem verdade que os latino-americanos apreciam – e muito – os e-commerces internacionais. E os brasileiros encabeçam a lista dos maiores entusiastas da arte de comprar fora do país. Para se ter uma ideia, uma pesquisa encomendada em 2013 pelo PayPal, revelou que os brasileiros gastaram, naquele ano, cerca de R$ 2,6 bilhões em sites estrangeiros. O estudo mapeou os principais caminhos do comércio eletrônico em uma abordagem global.
As categorias de compras mais procuradas, segundo a mesma pesquisa, incluíram, nessa ordem, vestuário; calçados e acessórios; remédios e cosméticos; joias e relógios; eletrônicos pessoais como tablets e smartphones; computadores e hardware; e eletroeletrônicos. Entre as principais razões que delinearam o cenário e o comportamento do consumidor, ao menos na ocasião da condução do estudo, nenhuma novidade: economia de dinheiro (80%) e variedade de produtos (79%). A busca por itens estrangeiros autênticos e de alta qualidade também entrou na conta.
Levantamentos como esse são hábeis em fazer despontar outra questão dentro desse panorama: desafios como a questão tributária, ainda que incômodos, parecem não impedir o progresso das transações internacionais. Outras dificuldades enfrentadas pelos latino-americanos incluem regulamentações governamentais e os altos impostos praticados, seleção alfandegária e burocracia na logística após a chegada aduaneira. Políticas protecionistas? Sem dúvida. Contudo, não capazes de reprimir essa demanda. Sempre vale esperar pela tão sonhada encomenda.

Salvos esses aborrecimentos, ninguém contesta que, de modo geral, as compras online fora do país representam uma excelente experiência. Uma pesquisa mais recente realizada pela norte-americana de análise da internet comScore, apontou que brasileiros, argentinos, mexicanos, colombianos, chilenos e peruanos compram mais através de tráfego direto, ou seja, acessando diretamente as lojas virtuais das marcas de interesse. Só depois surgem alternativas como busca por palavras-chave no Google e anúncios, por exemplo. Esse levantamento só vem a corroborar a ideia de que os consumidores sabem exatamente o que querem e o principal: de onde querem.
Esse estudo, entretanto, não aventou a possibilidade de uma troca real das compras nacionais pelas internacionais. Ainda assim, o México se destaca em relação a cross-border. Naquele país, os consumidores já tendem a escolher com mais frequência os sites internacionais. O que não se contesta é que a América Latina é uma das regiões onde o comércio eletrônico mais cresce no mundo (para dentro e para fora), sendo superada apenas pela Ásia.
Um dado que ajuda a entender esse crescimento vem da Americas Market Intelligence, a principal consultoria de inteligência e gerenciamento de mercado para a América Latina, baseada na Flórida. Segundo a empresa, em 2012, cerca de 42% da população dos principais países da América Latina tinham acesso à internet. Até o final de 2018, estima-se que essa taxa chegue a 60%.
A evolução do e-commerce
Para além de preferências pessoais, outras razões que ajudam a explicar o sucesso e a boa performance dos sites internacionais entre os latinos, residem em avanços diretamente ligados à evolução global dos sites de e-commerce. Entre eles, o surgimento de cartões e serviços que realizam pagamentos online; formas de pagamento; acesso a empresas que atuam como intermediárias na compra, gerenciando e redirecionado itens comprados em lojas que não entregam em certos destinos; e eventos locais que se impõem na América Latina com uma força sem precedentes, como Cyber Monday, Black Friday e suas diversas reedições, além de outras liquidações que abrem temporadas ano após ano.
No que diz respeito aos métodos de pagamento como indutores dessa evolução, é importante assinalar que muitos latino-americanos têm receio em usar seus cartões ou não possuem um cartão de crédito internacional, o que tornaria inviável a realização de uma compra em sites internacionais no modelo padrão. Assim, sites que oferecem métodos de pagamentos locais, exibindo o preço dos produtos na moeda local de cada país e oferecendo a possibilidade de pagar não só com cartões domésticos, mas também através de meios de pagamento com dinheiro (similares ao boleto bancário no Brasil), possuem um alcance muito maior nesses mercados. Por tudo isso, serviços de solução de pagamentos internacionais como aqueles oferecidos pelo EBANX, permitem que empresas do mundo todo vendam online para esses consumidores, sem a necessidade de abrirem uma operação local em cada país. Em resumo, pagamentos locais são a chave para empresas globais venderem na América Latina.
Isso tudo, sem esquecer do smartphone e seu papel de peso na corrida pelas compras. Em 2017, o Facebook IQ (divisão do Facebook para insights digitais e pesquisa de mercado), encomendou um estudo online para explorar os hábitos de compra de mais de sete mil pessoas em cinco diferentes mercados da América Latina (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e México). O que se descobriu, é que o celular se tornou o principal aliado para compras online, dada a crescente confiança das pessoas nesse dispositivo. De fato, 96% dos latino-americanos com acesso à internet, possuem um smartphone.
Convicções e aspectos culturais também interferem
Culturalmente, há que se considerar outro ponto fundamental para entender esse fenômeno: a ideia de que tudo aquilo que “vem de fora” é sensivelmente melhor, fazendo com que o simples termo “importado” eleve automaticamente o status de certo produto. Uma insatisfação geral com algumas práticas locais, crises políticas e econômicas – vale lembrar que em abril último, um relatório emitido pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal) da ONU e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), revelou que 80% dos latino-americanos não confiam em seus governos –, bem como as sensações de segurança e confiabilidade, também parecem influenciar as decisões de compras forasteiras.
Enfim, listadas e somadas, todas essas razões ajudam a explicar o fenômeno da indiscutível aceitação e encanto dos latino-americanos em relação a compras internacionais. Esse panorama deve ser considerado, sobretudo, por empresas que desejam conquistar novos mercados na América Latina, independente de onde estiverem. Afinal, os olhos do mundo inteiro estão voltados para cá.