Economia

Goste-se ou não de Bolsonaro, ele já entendeu o pragmatismo da política

Apesar de declarações toscas aqui e acolá, o plano de voo traçado continua agradando o mercado

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O primeiro ano da era Jair Bolsonaro vai chegando ao fim e a vida segue. Apesar de declarações toscas aqui e acolá flertando com regimes autoritários – que, embora não surpreendam ninguém, devem ser severamente repudiadas –, a democracia continua dando seus passos no Brasil. 

Goste-se ou não do presidente e de seu governo, o certo é que previsões catastróficas feitas por candidatos derrotados em 2018 não se confirmaram. Conflitos políticos permanentes tornam o cenário nebuloso, mas a roda está a girar.

A política é muito pragmática: demanda teatro, verborragias e factóides, mas, na coxia dos palácios em Brasília, a forma com que se exerce o poder muda muito pouco governo após governo. 

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Com Bolsonaro, não é diferente, embora seus seguidores mais histéricos não consigam – ou não queiram – enxergar isso. O presidente eleito prometendo “acabar com tudo isso que está aí” não demorou a perceber que, refém do atual sistema político, precisaria afagar o Congresso e cultivar uma relação generosa com o Judiciário.

Bolsonaro é o mesmo boquirroto da campanha e não vai mudar. Certo de que tem nas mãos algo em torno de um terço do eleitorado, ele joga estrategicamente para essa plateia, apostando em uma permanente polarização com o PT, partido que derrotou nas urnas e cujo líder máximo, Lula, cumpre pena, em liberdade, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. De sorte que quem esperar um presidente com outra postura nos próximos três anos pode desenvolver uma úlcera. A busca pela reeleição, claro, já começou.

O presidente sabe que, para se perpetuar no poder, precisa melhorar bem o cenário econômico, favorecendo a retomada dos investimentos e garantindo de vez a geração de empregos – a derrota de Maurício Macri na vizinha Argentina serviu de alerta. A equipe do ministro Paulo Guedes tem tido suas dificuldades na relação com o Congresso – um exemplo é a reforma tributária empacada –, mas o plano de voo traçado continua agradando o mercado e permitindo que se vislumbre no horizonte avanços significativos.

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A reforma da Previdência, mesmo desidratada, foi aprovada neste ano e é incontestavelmente uma vitória para a saúde das contas públicas. A taxa básica de juros chegou ao menor nível da história, a inflação está controlada abaixo da meta, a Bolsa de Valores bateu recordes, o risco Brasil tem caído e o crescimento, no ano que vem, se tudo correr bem, deve superar 2%. Não é pouca coisa para uma economia que estava em frangalhos às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff.

Com tanta informação e tanto ruído, a impressão que dá é que Jair Bolsonaro se arrasta no governo há muito mais tempo. Crises protagonizadas por seus filhos e por aliados no Congresso tiram o foco dos bons resultados – e dos desafios persistentes – da agenda econômica e da discussão em torno de temas que realmente importam, como educação e segurança pública. 

Ao fim deste governo, teremos a sensação de que vivemos uma eternidade. Bolsonaro continuará fazendo barulho, mas que ninguém se engane: ele já entendeu o pragmatismo da política.