Apenas 3,8% das cidades do Brasil tem um ecossistema de pagamentos desenvolvido, mostra estudo inédito da Visa
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Economia

Apenas 3,8% das cidades do Brasil tem um ecossistema de pagamentos desenvolvido, mostra estudo inédito da Visa

A Visa Consulting & Analytics avaliou todos os 5,5 mil municípios brasileiros. A mesma análise foi feita em países como México, Colômbia e Chile

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Um levantamento inédito da Visa Consulting & Analytics, o braço de consultoria da Visa, mapeou e diagnosticou todos 5.570 os municípios brasileiros quanto ao grau de desenvolvimento dos pagamentos eletrônicos e digitais. O estudo intitulado Índice de Maturidade para Pagamentos Digitais revelou que apenas 3,8% dos municípios brasileiros podem ser considerados “prontos” do ponto de vista da maturidade do ecossistema de pagamentos. Em outras palavras, cidades em que há maior aderência aos pagamentos digitais, maior número de cartões e de maquininhas por habitante e acesso às novas tecnologias de pagamento digital, como cartões por aproximação, carteiras digitais ou aplicativos que transformam o celular em maquininha, entre outros. 

A maioria das cidades, 75%, foram classificadas como iniciantes (37,8%) ou emergentes (37,6%), o que significa que carecem, antes de qualquer coisa, de investimentos em infraestrutura básica para alavancar seus sistemas de pagamento eletrônico. Os 20,8% restantes são de municípios considerados em transição.

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Uma das finalidades do índice é fomentar a transição do dinheiro físico para o pagamento eletrônico e digital. A Visa espera utilizar a inteligência gerada pelo índice para compreender o contexto de cada cidade no que se refere ao desenvolvimento tecnológico e ao aumento da inclusão financeira e digital da população e planejar ações estratégicas com emissores, credenciadores e estabelecimentos comerciais, como identificar comerciantes que ainda não aceitam pagamentos com cartão ou priorizar esforços em uma determinada localidade para aumentar  o número de cartões emitidos e a aceitação dos pagamentos digitais. Além do Brasil, o estudo foi realizado também no México, Colômbia e Chile ao longo dos últimos três anos. 

Um estudo da Roubini ThoughtLab encomendado pela Visa mostra que a substituição do dinheiro físico gera um impacto positivo nos municípios, com um maior crescimento econômico, mais arrecadação fiscal, geração de empregos, aumento da massa salarial e de produtividade, além de ganhos de eficiência administrativa. Para consumidores e estabelecimentos comerciais os benefícios também são visíveis, já que agregam mais praticidade e segurança, melhor gestão financeira e maior inclusão digital.

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Tania Oliveira, vice-presidente da Visa Consulting & Analytics da América Latina, explica que o desenvolvimento desse ecossistema acontece em duas fases. Primeiro, é necessário garantir que a localidade tenha uma infraestrutura adequada para que os pagamentos eletrônicos e digitais possam ser utilizados, principalmente uma boa estrutura de conectividade; cidades iniciantes ou emergentes precisam de uma ação mais efetiva dos governos para o desenvolvimento dessa infraestrutura. 

Depois, é necessário garantir que aquela comunidade tenha acesso a cartões, maquininhas, bancos, novas tecnologias de pagamentos e a uma variedade de serviços e comércios que ofereçam opções além do dinheiro. “Dependendo do nível em que a cidade está, o governo tem um primeiro papel fundamental e em seguida vem a aceleração promovida pela indústria de pagamentos, como adquirentes, emissores, bancos, e pelo setor produtivo para fazer esse ecossistema florescer”. 

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Há ainda o desenvolvimento de estratégias por verticais. Se o índice mostra que em uma cidade ou região há uma menor aceitação de meios de pagamentos eletrônicos ou digitais em um setor específico – educação ou construção ou restaurantes, por exemplo.

A metodologia está ajudando a direcionar as estratégias junto com nossos parceiros do ecossistema – desde adquirentes, emissores, bancos, setores da indústria, governos – dentro de cada cidade. O índice permite pensar nesses ecossistemas regionais de maneira integrada, mas olhando para o detalhe, para as especificidades de cada local.

Tania Oliveira, vice-presidente da Visa Consulting & Analytics da América Latina

Brasil: pouca maturidade fora dos grandes centros 

Em um país de proporções continentais como o Brasil, o índice confirmou que há uma enorme diferença entre os grandes centros urbanos e a maioria das cidades de médio e pequeno porte no que tange à adoção dos meios de pagamento eletrônicos.

Quando olhamos o resultado por região, sem surpresa, o Sul e o Sudeste concentram a maior parte das cidades consideradas prontas, como Belo Horizonte (MG), São Bernardo do Campo (SP), Curitiba (PR) e Vila Velha (ES). Mas também há surpresas, como Rondonópolis (MT) e Fernando de Noronha (PE), que estão mais avançadas em relação à predominância do pagamento eletrônico na comparação com a média de suas regiões. 

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No grupo de cidades em transição, aparecem capitais como Manaus (AM), Maceió (AL) e Porto Velho (RO). Nessa classificação estão regiões dispostas ao desenvolvimento de um cenário mais digital, mas que ainda possuem problemas de aceitação de pagamentos eletrônicos.

Já na lista das emergentes estão Santarém (PA), Magé (RJ), Juazeiro (BA) e Parnaíba (PI). Essas são cidades com grande potencial de crescimento para a indústria financeira tanto do ponto de vista de emissão de cartões como de aceitação de pagamentos eletrônicos.

As iniciantes são as que ainda demandam investimentos em infraestrutura para que o sistema de pagamento eletrônico seja desenvolvido. Pelo menos 80% das cidades dos estados do Amazonas, Alagoas, Maranhão, Paraíba, Acre e Bahia foram classificadas nesse estágio, como Bragança (PA), Parintins (AM) e Codó (MA).

México: mais cidades prontas que Brasil proporcionalmente

No México, segunda maior economia da América Latina, a análise dos 2.456 municípios mostrou que 6% são considerados prontos – quase o dobro em relação ao percentual de cidades brasileiras prontas. O Centro e o Norte do país são as regiões com maior número de municípios nessa categoria, como Delegación Cuauhtémoc (CDMX), Isla Mujeres (Quintana Roo) e León (Guanajuato). 

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Apesar de ter mais cidades mais maduras do que o Brasil quando se olha o grau de desenvolvimento do sistema de pagamentos eletrônicos, o México tem um número maior de municípios classificados como emergentes (58%) e como iniciantes (22%). A maioria deles estão ao Sul do país, com exceção dos destinos turísticos – algo semelhante ao que acontece com Fernando de Noronha no Brasil. Em transição estão 14% das cidades.

Colômbia: 87% dos municípios são iniciantes 

A Colômbia foi o país com o pior resultado entre os quatro latino americanos estudados pela Visa até aqui, com apenas 13% dos municípios classificados como prontos, em transição ou emergentes. Isso significa que 87% das cidades são consideradas iniciantes, com apenas 13% da população bancarizada e baixíssimo nível de adoção de meios de pagamento eletrônicos.

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Dos 1.122 municípios, apenas 0,7% estão prontos; estão nesse grupo Medellín, Envigado e Sabaneta (Antioquia), Barranquilla (Atlántico), Bogotá e Chia (Cundinamarca), Bucaramanga (Santander) e Cali (Valle del Cauca), cidades em que mais de 57% da população é bancarizada. Os municípios em transição correspondem a 4% do país e os emergentes a 8%. 

O estudo mostrou que o maior desafio no país é melhorar a infraestrutura de conectividade e a aceitação/confiança da população nos meios de pagamento eletrônicos. 

Chile: país bancarizado com adesão super concentrada 

Com 344 municípios e apesar de ser considerado um país com índice elevado de bancarizados, o Chile tem apenas 2% dos municípios na categoria prontos, a exemplo de Santiago, Las Condes, Vitacura e Providencia; 13% estão em transição, ou seja, possuem a infraestrutura de conectividade necessária para os meios de pagamento eletrônicos, mas ainda utilizam muito dinheiro. É o caso de Concepción, Puerto Varas e Viña del Mar. Como no Brasil, a maior parte das cidades chilenas estão nas categorias emergentes (49%) e iniciantes (36%).

Metodologia

A metodologia, já patenteada, consolidou os dados coletados em quatro dimensões: Emissão, Aceitação, Infraestrutura e Condições Socioeconômicas.

O levantamento considerou informações como o número de cartões por habitante; transações de débito e de crédito; quantidade de saques; número de agências bancárias e caixas eletrônicos; número de acessos em banda larga; dados de maquininhas de pagamento por habitante e por quilômetro quadrado, PIB; nível de emprego e desemprego, IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e informações populacionais e educacionais. 

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A partir do cruzamento de dados e de uma análise estatística, o Índice de Maturidade para Pagamentos Digitais chegou à quatro classificações: 

  • Prontos: o sistema de pagamento eletrônico é robusto.
  • Em transição: o sistema de pagamento eletrônico é avançado.
  • Emergentes: o sistema de pagamento eletrônico está subdesenvolvido.
  • Iniciantes: o sistema de pagamento eletrônico não está desenvolvido.
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