Andrés Manuel López Obrador, presidente do México, e Jair Bolsonaro, presidente do Brasil.
Economia

As 3 principais medidas adotadas (até agora) pelas duas maiores economias da América Latina

Brasil e México anunciaram uma série de medidas para mitigar os impactos do Covid-19

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Há uma semana, o Financial Times divulgou que 14 países da América Latina e do Caribe já solicitaram ajuda urgente do Fundo Monetário Internacional (FMI) para mitigar o impacto da crise do coronavírus.

Espera-se que a região seja atingida por sua pior recessão em 50 anos, segundo Alejandro Werner, chefe do departamento do hemisfério ocidental da instituição. Ele não disse quais países pediram assistência, mas que os 14 mencionados buscam acesso a um total de US$ 4,48 bilhões.

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Werner disse ao Financial Times que a América Latina estava particularmente exposta ao impacto do novo coronavírus porque já estava patinando antes, afetada pelos baixos preços das commodities e do preço do petróleo, e pela fuga de capitais, com investidores procurando ativos e mercados mais seguros.

O mais recente previsão da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL) é de uma queda de pelo menos -1,8% no PIB da região, “embora uma contração entre -3% e -4%, ou mais, não possa ser descartada”. O desemprego na região pode aumentar em 10 pontos percentuais. Isso poderia levar o número de pobres na região a subir de 185 milhões para 220 milhões de pessoas, em meio a um total de 620 milhões de habitantes; e a quantidade de pessoas que vivem em extrema pobreza pode aumentar de 67,4 milhões para 90 milhões.

É verdade que o poder de fogo da região quando se trata de gastos públicos para impedir o colapso da economia é muito menor do que o dos Estados Unidos, Reino Unido ou União Européia. Mesmo assim, as maiores economias da América Latina anunciaram uma série de medidas para tentar mitigar os impactos do COVID-19, desde a injeção de liquidez no mercado financeiro até a ajuda emergencial a cidadãos e empresas.

Até este domingo, juntos, Brasil e México têm 25.183 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus, e já respondem por 1.414 mortes pela doença.

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Fique por dentro das principais medidas econômicas adotadas (até agora) pelas duas maiores economias da América Latina:

Brasil

No final de fevereiro, quando o primeiro caso de coronavírus foi confirmado no Brasil e também na América Latina, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a resposta mais importante deveria ser aprovação das reformas já planejadas. Isso mudou drasticamente com a escalada de casos de Covid-19 no país. Desde então, várias medidas foram anunciadas pelo governo brasileiro:

  1. Uma das primeiras medidas do governo brasileiro foi zerar a alíquota do imposto de importação de 50 produtos médicos e hospitalares necessários para combater a pandemia e determinar que, através da Receita Federal , itens como álcool gel, máscaras, luvas e etc. teriam desembaraço aduaneiro simplificado.
  2. Nas últimas semanas, uma assistência financeira emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais, microempresários e desempregados no país também foi proposta pelo Executivo e aprovada pelo Congresso. Para as mães responsáveis ​​pela renda de suas famílias (famílias monoparentais), o projeto permite a concessão de duas cotas de assistência, ou seja, R$ 1.200 (quase US$ 240). A ajuda será concedida pelos próximos três meses. O auxílio emergencial custará R$ 98 bilhões e deve chegar a 100 milhões de brasileiros, incluindo os 77 milhões de pessoas de baixa renda que já estão registradas no Cadastro Único. Em meio a críticas por demorar muito para aprovar essa medida – três semanas se passaram entre o primeiro rascunho da ideia e a assinatura do presidente Jair Bolsonaro – o governo também tem o desafio de operacionalizar o acesso a essa assistência financeira. O app de registro dos cidadãos foi disponibilizado na última terça-feira. Desde então, mais de 32 milhões de brasileiros fizeram seus pedidos de ajuda emergencial, e os primeiros pagamentos devem ser feitos a partir desta segunda-feira (13). O advogado especializado em inovação RonaldoLemos alertou que havia sérios riscos de fraude e inconsistências imprevistas no processo. Na últimas quinta e sexta-feira, milhares procuraram os escritórios da Receita Federal por terem irregularidades no CPF, condição que impede a concessão da ajuda financeira. A Receita insiste que as pessoas podem regularizar a situação pela Internet, mas o fato é que a maioria das pessoas não têm acesso à rede ou simplesmente não sabe como fazer isso.
  3. O Banco Central também anunciou uma linha de crédito de BRL 40 bilhões para financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas. O programa financiará até dois salários mínimos por funcionário. Se o trabalhador ganhar mais do que isso, o crédito contemplará apenas o limite estabelecido e a empresa poderá completar o pagamento. Segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o programa pode atingir cerca de 12 milhões de pessoas e 1,4 milhão de empresas. A iniciativa foi formulada pelo Ministério da Economia do país e pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O empréstimo será oferecido por bancos que processam folhas de pagamento. Em troca, as empresas não poderão demitir ninguém pelos próximos dois meses. O acesso prático a essas linhas de crédito, no entanto, ainda não está claro. Na semana passada, apenas dois dos cinco maiores bancos do país já haviam divulgado abertamente informações sobre como obter financiamento: o ItaúUnibanco e Bradesco. Neste sábado, uma pesquisa realizada pelo Sebrae mostra que 30% dos empresários tiveram de recorrer a empréstimos para manter seus negócios. Segundo o levantamento, 29,5% deles aguardam resposta das instituições financeiras e 59,2% já tiveram seus pedidos negados.

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México

Logo após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no México, o presidente Andrés Manuel López Obrador (AMLO) foi criticado por não tomar medidas mais restritivas para incentivar as pessoas a ficar em casa. Enquanto as principais cidades do país entraram em auto-isolamento ou bloqueio, cancelando voos e fechando as fronteiras terrestres, López Obrador continuou a argumentar que tais medidas não eram necessárias e que elas prejudicariam a economia mexicana. 

A maior preocupação do presidente veio do fato de o produto interno bruto mexicano ter encolhido 0,1% em 2019, o primeiro ano de López Obrador no cargo. Foi a primeira queda anual no PIB desde 2009.

Cerca de uma semana atrás, no entanto, AMLO mudou de idéia e agora pede aos cidadãos que puderem, fiquem em casa.

  1. No início de março, o Banco Central do México reduziu sua taxa de juros para 6,5%, adiantando sua reunião de política monetária em três dias. De acordo com a Forbes, o corte na taxa coincidiu com os cortes de emergência feitos pelo Federal Reserve, que reduziram a taxa de empréstimos overnight dos Estados Unidos para entre 0% e 0,25%. A taxa real do México (após a inflação) é de cerca de 3%. Isso dá ao Banxico espaço para reduzir novamente a taxa do país nas próximas semanas. Ainda segundo a Forbes, pelo menos 8% da economia do México está com problemas. É que com a escalada das infecções por coronavírus, os milhões de americanos que costumam passar suas férias de verão no México cancelaram suas reservas.
  2. AMLO também anunciou que o México oferecerá MXN 25 bilhões (US$ 1 bilhão) para dar 1 milhão de empréstimos para pequenas empresas. Cada pequena empresa urbana tem direito a um empréstimo de MXN 25.000. Segundo ele, cada empresário terá 3 meses para gastar o valor sem nenhum tipo de cobrança. “No quarto mês, eles começam a pagar MXN 850 mensalmente, por 36 meses, a uma taxa de juros de 6,5% ao ano, que é a taxa de juros do Banxico“, disse López Obrador.
  3. Ele também disse que programas sociais destinados a quase metade da população que vive na pobreza aumentariam, mas nenhuma outra medida para ajudar as empresas do setor privado a sobreviver à crise, como incentivos fiscais, foi anunciada. AMLO disse que priorizaria os gastos sociais, juntamente com seus projetos de infraestrutura de aeroportos, trens e refinarias. Essas medidas, disse o presidente do México, seriam suficientes para criar 2 milhões de novos empregos. Os líderes empresariais, no entanto, temem que, ao interromper todas as atividades, exceto as essenciais, para impedir a propagação do Covid-19 sem a compensação de grandes estímulos, até 1,2 milhão de empregos sejam perdidos.