O epicentro da epidemia de coronavírus e seus principais estragos econômicos estão na China, mas os tremores podem ser sentidos do outro lado do planeta, na América Latina. A China é atualmente um dos principais parceiros comerciais da região e o principal mercado de exportações para Brasil, Chile, Peru e Uruguai.
Uma desaceleração da economia chinesa é particularmente ruim para a América Latina, cujos países ainda buscam se recuperar de um longo período de instabilidade e crescimento fraco. Não apenas a queda no preço das commodities afeta diretamente a região como também uma maior lentidão na cadeia logística global tem potencial para frear países de grande base industrial, como o Brasil e o México.
Dependendo da intensidade da redução no crescimento econômico na China, as exportações dos países latino-americanos podem despencar. O comércio da China com a América Latina subiu de US$ 17 bilhões em 2002 para US$ 306 bilhões em 2018, de acordo com o Serviço de Pesquisa do Congresso dos EUA.
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Um documento recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) já incluiu a epidemia de coronavírus entre os “riscos significativos de queda” para as economias latino-americanas em 2020. Antes do surto da epidemia, o fundo projetava para a economia da América Latina um crescimento de 1,6% este ano. Como consequência do vírus, o banco UBS já reduziu sua previsão de crescimento para a economia do Brasil, a maior da região, de 2,5% para 2,1% em 2020.
Segundo o FMI, os países mais afetados na região seriam os exportadores de commodities da América do Sul. O Chile depende da China para 34% de suas exportações, o Peru 28% e o Brasil 26%. Se o crescimento econômico da China cair de 6% para 5% neste ano, o crescimento do PIB do Chile e Peru diminuirá entre 0,3% e 0,5% cada, preveem cenários do FMI. Para o Brasil, o impacto seria um pouco menor, porque o país depende menos do comércio exterior.

O Chile é o maior exemplo dessa espécie de contágio econômico. O país envia para a China mais de um terço de todas as suas exportações. De acordo com a Bloomberg, o governo local busca ativamente outros mercados para sua produção de vinhos, cerejas e frutos do mar. Desde o início da epidemia, as compras dos itens pela China despencaram mais de 50%. Grandes remessas de cobre, principal produto na pauta de exportações chilena, estão paradas em portos, aguardando embarque.
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Já a proporção de mexicanos que se dizem muito preocupados com o coronavírus aumentou de 43% para 57% nas últimas duas semanas, mostrando que o problema da epidemia já causa preocupação na maioria da população. De acordo com a pesquisa do jornal El Financiero, realizada em 7 e 8 de fevereiro, os entrevistados que dizem estar “muito” ou “um pouco” preocupados com o coronavírus somam 79%. Além disso, 42% da população acredita que o país não está “nada preparado” para enfrentar uma eventual epidemia.
O economista sênior para América Latina na Pantheon Macroeconomics, Andres Abadia, disse ao jornal online Quartz que há bastante apreensão entre empresas da região com foco em exportação. “Devemos ter uma queda forte na demanda chinesa por produtos da América Latina e particularmente nas commodities, com interrupção em algumas cadeias de suprimentos”, afirmou.
Evento de tecnologia
Fora da América Latina, a epidemia também continua afetando os negócios. Várias empresas cancelaram recentemente sua participação no Mobile World Congress, maior evento de telecomunicações do mundo que ocorre no fim de fevereiro na Espanha. A Intel decidiu não participar da edição deste ano, seguindo o mesmo caminho de LG, Ericsson, Sony e Amazon.