De maneira geral, 2020 será um ano de desaceleração, quase estagnação para as economias mais desenvolvidas. Os Estados Unidos devem crescer menos de 2%, a China deve desacelerar de 6,2% para 5,7% e a economia mundial como um todo, estimam FMI e outras instituições, crescerá em torno de 3%.
São os emergentes, de diferentes continentes, incluindo o latino-americano, que farão o ponteiro mexer. E o Brasil é o principal candidato para liderar esse movimento. “Na América Latina, que responde por cerca de 7% do PIB mundial, o crescimento deve passar de 0,2% para 1,3%, com aceleração no Brasil, moderação das recessões argentina e venezuelana e certa retomada no México”, escreveu o economista-chefe do Itaú-BBA, Mário Mesquita, em artigo para o jornal Valor Econômico.
LEIA TAMBÉM: Os produtos digitais estão prontos para decolar na América Latina
Depois de uma contração no primeiro trimestre deste ano, o segundo e o terceiro trimestres surpreenderam analistas da maior economia da região, com avanços de 0,4% e 0,6%, respectivamente, de acordo com o IBGE. Embora em ritmo lento, a economia brasileira está voltando à vida, com sinais que vão do aumento no consumo interno à retomada de alguns dos setores mais castigados pela crise que assolou o país entre 2014 e 2016, como a construção civil e o setor de serviços.
A confiança do empresariado voltou com a aprovação da reforma da Previdência e a manutenção de um ambiente favorável à retomada, com a inflação sob controle e a taxa básica de juros no seu menor nível histórico, 4,5% ao ano. Mas nada entusiasma mais o empresariado que a postura liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, que espera que uma reforma tributária e outros projetos de desburocratização e desvinculação de recursos passem no Congresso em 2020.
Para conquistar também a confiança da população, a volta do emprego seria o fator mais importante na equação de 2020, ano em que o país também terá de enfrentar uma nova agenda de reformas em meio a eleições locais. Mas os analistas já avisaram que a recuperação do mercado de trabalho será lenta e gradual.
“Certamente o Brasil possui as melhores condições para crescimento dentre os emergentes, mas precisa realizar as reformas estruturantes necessárias para organizar sua economia, reduzir o déficit fiscal, ampliar a competitividade e agregar segurança jurídica para conseguir atrair investimentos”, disse Alvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais, ao LABS.
Ele explica que apenas a Colômbia se aproxima do Brasil em termos de previsão de crescimento, podendo avançar 3% em 2020, mas com menor capacidade de atrair investimentos.
LEIA TAMBÉM: Investimento chinês no Brasil supera 2018 e deve crescer ainda mais em 2020
O México, por sua vez, corre o risco de fechar 2019 em recessão ou crescimento quase nulo, e seguir patinando em 2020, se os cortes nos juros e a renovação do acordo comercial com os Estados Unidos e o Canadá, além de outros fatores, não surtirem o efeito desejado.
Em dezembro, o Banco Central do país cortou os juros pela quarta vez seguida. A decisão já era esperada pelo mercado, afinal taxas mais baixas tendem a aumentar o consumo e o crédito e, portanto, reanimar a economia. Com a inflação baixa (2,97% em novembro) e a atividade em retração há três trimestres seguidos, o risco de o fechar o ano em recessão é real. O próprio Banxico reduziu a projeção de crescimento do país neste ano, que pode ficar entre uma contração de 0,2% e uma expansão de 0,2%. A última previsão do FMI, revisada em outubro, era de 0,4%.
Para 2020, a previsão do Banxico é de um crescimento da economia entre 0,8% e 1,8%. O economista-chefe do Modalmais é mais cauteloso, fala em crescimento de 1% para a economia mexicana, devido ao novo governo de caráter populista e que tem tomado medidas que podem complicar a situação fiscal do país, como o ajuste de 20% do salário mínimo do país.
“Já a Argentina com novo governo também populista está próxima novamente do default de sua dívida, e com isso terá dificuldades para crescer e organizar sua economia”, ressalta Bandeira.
Falando de setores específicos, a América Latina continuará sendo um mercado-chave para o comércio eletrônico e os serviços digitais.
Segundo a consultoria GSMA, a região terá 450 milhões de assinaturas de internet móvel – chegando a 100% de penetração de adultos – até 2020. Com isso, Brasil, México e Argentina estão no top 10 dos mercados globais com mais horas dedicadas à internet.
Não à toa, as previsões para o comércio eletrônico na região são bastante positivas. Segundo dados do Crunchbase, as vendas no e-commerce devem fechar 2019 acima dos US$ 84 bilhões, e crescer 21,3% em 2020. Somente no Brasil, um estudo da Euromonitor e do PayPal aponta que o e-commerce pode faturar US$ 28 bilhões em 2020, um crescimento de mais de 40% em relação a 2019.
Para além de 2020, a consultoria Americas Market Intelligence (AMI) destaca que há um enorme potencial ainda a ser explorado na região. O comércio eletrônico representa apenas 2% do PIB total da América Latina e menos de 1 em cada 4 pessoas são compradores online.