ministro da economia paulo guedes
O ministro da Economia, Paulo Guedes. Foto: Fabio Rodrigues/Agência Brasil
Economia

Economia da América Latina voltará a crescer em 2020, puxada pelo Brasil

Se o país seguir com as reformas estruturantes planejadas e o México conseguir sair do marasmo, a região pode surpreender no ano que vem

Read in english

De maneira geral, 2020 será um ano de desaceleração, quase estagnação para as economias mais desenvolvidas. Os Estados Unidos devem crescer menos de 2%, a China deve desacelerar de 6,2% para 5,7% e a economia mundial como um todo, estimam FMI e outras instituições, crescerá em torno de 3%. 

São os emergentes, de diferentes continentes, incluindo o latino-americano, que farão o ponteiro mexer. E o Brasil é o principal candidato para liderar esse movimento. “Na América Latina, que responde por cerca de 7% do PIB mundial, o crescimento deve passar de 0,2% para 1,3%, com aceleração no Brasil, moderação das recessões argentina e venezuelana e certa retomada no México”, escreveu o economista-chefe do Itaú-BBA, Mário Mesquita, em artigo para o jornal Valor Econômico.

LEIA TAMBÉM: Os produtos digitais estão prontos para decolar na América Latina

Depois de uma contração no primeiro trimestre deste ano, o segundo e o terceiro trimestres surpreenderam analistas da maior economia da região, com avanços de 0,4% e 0,6%, respectivamente, de acordo com o IBGE. Embora em ritmo lento, a economia brasileira está voltando à vida, com sinais que vão do aumento no consumo interno à retomada de alguns dos setores mais castigados pela crise que assolou o país entre 2014 e 2016, como a construção civil e o setor de serviços.

A confiança do empresariado voltou com a aprovação da reforma da Previdência e a manutenção de um ambiente favorável à retomada, com a inflação sob controle e a taxa básica de juros no seu menor nível histórico, 4,5% ao ano. Mas nada entusiasma mais o empresariado que a postura liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, que espera que uma reforma tributária e outros projetos de desburocratização e desvinculação de recursos passem no Congresso em 2020.

Para conquistar também a confiança da população, a volta do emprego seria o fator mais importante na equação de 2020, ano em que o país também terá de enfrentar uma nova agenda de reformas em meio a eleições locais. Mas os analistas já avisaram que a recuperação do mercado de trabalho será lenta e gradual.

“Certamente o Brasil possui as melhores condições para crescimento dentre os emergentes, mas precisa realizar as reformas estruturantes necessárias para organizar sua economia, reduzir o déficit fiscal, ampliar a competitividade e agregar segurança jurídica para conseguir atrair investimentos”, disse Alvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais, ao LABS.

Ele explica que apenas a Colômbia se aproxima do Brasil em termos de previsão de crescimento, podendo avançar 3% em 2020, mas com menor capacidade de atrair investimentos. 

LEIA TAMBÉM: Investimento chinês no Brasil supera 2018 e deve crescer ainda mais em 2020

O México, por sua vez, corre o risco de fechar 2019 em recessão ou crescimento quase nulo, e seguir patinando em 2020, se os cortes nos juros e a renovação do acordo comercial com os Estados Unidos e o Canadá, além de outros fatores, não surtirem o efeito desejado. 

Em dezembro, o Banco Central do país cortou os juros pela quarta vez seguida. A decisão já era esperada pelo mercado, afinal taxas mais baixas tendem a aumentar o consumo e o crédito e, portanto, reanimar a economia. Com a inflação baixa (2,97% em novembro) e a atividade em retração há três trimestres seguidos, o risco de o fechar o ano em recessão é real. O próprio Banxico reduziu a projeção de crescimento do país neste ano, que pode ficar entre uma contração de 0,2% e uma expansão de 0,2%. A última previsão do FMI, revisada em outubro, era de 0,4%.

Para 2020, a previsão do Banxico é de um crescimento da economia entre 0,8% e 1,8%. O economista-chefe do Modalmais é mais cauteloso, fala em crescimento de 1% para a economia mexicana, devido ao novo governo de caráter populista e que tem tomado medidas que podem complicar a situação fiscal do país, como o ajuste de 20% do salário mínimo do país.

“Já a Argentina com novo governo também populista está próxima novamente do default de sua dívida, e com isso terá dificuldades para crescer e organizar sua economia”, ressalta Bandeira. 

LEIA TAMBÉM: Smiles está próxima de ser (re)incorporada pela Gol. E isso é parte de uma tendência mundial

Falando de setores específicos, a América Latina continuará sendo um mercado-chave para o comércio eletrônico e os serviços digitais. 

Segundo a consultoria GSMA, a região terá 450 milhões de assinaturas de internet móvel – chegando a 100% de penetração de adultos – até 2020. Com isso, Brasil, México e Argentina estão no top 10 dos mercados globais com mais horas dedicadas à internet.

Não à toa, as previsões para o comércio eletrônico na região são bastante positivas. Segundo dados do Crunchbase, as vendas no e-commerce devem fechar 2019 acima dos US$ 84 bilhões, e crescer 21,3% em 2020. Somente no Brasil, um estudo da Euromonitor e do PayPal aponta que o e-commerce pode faturar US$ 28 bilhões em 2020, um crescimento de mais de 40% em relação a 2019. 

Para além de 2020, a consultoria Americas Market Intelligence (AMI) destaca que há um enorme potencial ainda a ser explorado na região. O comércio eletrônico representa apenas 2% do PIB total da América Latina e menos de 1 em cada 4 pessoas são compradores online.