As notas de Peso Mexicano são arranjadas para uma fotografia com uma nota de um dólar americano na Cidade do México, México, na quarta-feira, 27 de Janeiro de 2016 Fotógrafo: Susana Gonzalez/Bloomberg
Economia

Imigrantes latinoamericanos e caribenhos cooperam na redução da pobreza em seus países por meio de remessas online, apontam dados do Banco Mundial

A América Latina é a região do mundo que mais recebe dinheiro por meio de remessas online do exterior. Em países como El Salvador, Honduras, Jamaica e Haiti, as remessas chegaram a ultrapassar 20% do PIB

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Apesar da estagnação econômica global, causada principalmente pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, as remessas de dinheiro online continuam em crescimento. Em 2022, segundo o Banco Mundial, houve um aumento de 5% de envio de dinheiro de um país para outro por meio de sites e aplicativos. A América Latina continua encabeçando a fila das remessas online, com um crescimento dos fluxos estimado em 9,3% no último ano. 

As remessas de dinheiro sempre foram uma forma importante de transferência de renda entre países, especialmente entre aqueles que têm familiares ou amigos vivendo no exterior ou pessoas que migram para países mais ricos com o objetivo de retornar para seus países de origem depois de alguns anos de trabalho. No entanto, o processo de enviar dinheiro por meio de remessas tradicionais costumava ser caro, demorado e complicado. Nos últimos anos, o avanço tecnológico do setor permitiu o desenvolvimento de soluções mais rápidas e acessíveis, o que pode explicar o crescimento no volume de remessas internacionais recentemente. 

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Mas há também outros fatores, como a globalização e a popularização do trabalho remoto, o que permite maior locomoção e ganhos em outras moedas. O professor e pesquisador de economia da Universidade Livre de Berlim, Christian Ambrosius, explica que as remessas são especialmente importantes para famílias de baixa renda quando há algum tipo de circunstância emergencial, conflitos ou tragédias naturais. 

“Podem ser diferentes tipos de emergências, por exemplo: quebra econômica do país, terremotos, enchentes e outros desastres. Portanto, as remessas são muito importantes para estabilização e funcionam como um seguro para as famílias em situações em que são fortemente afetadas economicamente”. 

Christian Ambrosius. Professor e pesquisador do Instituto de Estudos Latino Americanos, Universidade Livre de Berlim. 

No México, a segunda maior economia da América Latina, 25% dos lares recebem remessas e o montante total de envios para o país bateu recorde em 2022, segundo anúncio do presidente do país, Andrés Manuel López Obrador, chegando aos 58 bilhões de dólares. O recebimento de dinheiro por meio de remessas do exterior está concentrado nas regiões mais pobres, como o estado de Oaxaca, no sul do país. 

Ambrosius explica que é preciso levar em conta que o México tem uma população migratória muito grande que vive nos Estados Unidos. De acordo com o censo populacional do Departamento de Trabalho dos EUA, cerca de 27% da população de imigrantes no país é de origem mexicana. Ambrosius ressalta também que “algo que sempre importa é também o valor das moedas, portanto um dólar mais forte, por exemplo, gera a possibilidade de mais remessas”. 

A mesma lógica se aplica a migrantes de outros países latino-americanos e essa foi uma das razões que possibilitaram Vanessa Mattos, de 28 anos, a ajudar a família no Brasil, enquanto faz mestrado na Alemanha. Ela trabalha em um restaurante para arcar com os gastos dos estudos e conta que a alta desvalorização do real frente ao euro ampliou suas condições de manter a assistência financeira aos pais, que vivem no interior da Bahia. “No início, lá em 2020, o euro estava mais valorizado, então eu conseguia mandar mais dinheiro. Mesmo assim, hoje, não me vejo ajudando meus pais da mesma maneira que eu estou ajudando agora se eu estivesse no Brasil. Não por agora, na situação econômica que está”. 

A estudante brasileira envia cerca de 100 euros (R$570,00 – cotação atual do euro comercial) por mês para os pais. “Dependendo das contas que eles têm e do que eles precisam, faço as contas e envio. Às vezes mais, às vezes menos, pois também depende de como é meu salário no mês”, afirma Vanessa. 

As remessas online são parte crucial do produto interno bruto de pequenos países da América Latina, como Haiti, Jamaica, Honduras e El Salvador. Na Guatemala, as remessas chegam a cerca de 20% do PIB, depois das exportações e dos investimentos estrangeiros. Para cerca de seis milhões de famílias – de um total de 17 milhões que recebem remessas – esse dinheiro é a principal fonte de renda, segundo dados do Banco Mundial. Na Nicarágua, metade das remessas do exterior representam 60% da renda das famílias receptoras e, em média, 15% da renda dos remetentes, segundo a organização Diálogo Interamericano.