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Economia

Open banking pode abocanhar até R$ 110 bilhões dos bancos tradicionais no Brasil

Prestes a ser implementado no Brasil, o open banking irá disputar 60 milhões de clientes e pode causar uma perda de receitas para os grandes bancos de até R$ 110 bilhões

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Prestes a ser implementado no Brasil, o open banking irá disputar 60 milhões de clientes e pode causar uma perda de receitas para os grandes bancos de até R$ 110 bilhões, de acordo com estimativa da Roland Berger.

Estudo realizado pela consultoria alemã mostra que o Brasil tem potencial para ser a nova referência mundial em open banking, considerando as mudanças que o Banco Central (BC) pretende implementar e que devem promover transformações mais efetivas do que as verificadas na União Europeia e no Reino Unido e, consequentemente, um impacto maior no sistema bancário tradicional.

Acertos do open banking brasileiro

A agenda regulatória do open banking é uma tendência global, mas o desenho do open banking e a estratégia de implementação mudam em cada país. De acordo com o diretor sênior da Roland Berger, João Bragança, os diferenciais do desenho do open banking brasileiro são a gestão centralizada da implementação no Banco Central (BC), a criação de um padrão de comunicação via APIs (application programming interface) e um escopo de produtos mais amplo. 

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O estudo da Roland Berger aponta gargalos na implementação do open banking na União Europeia e no Reino Unido, como a descentralização da implementação e a customização de APIs, o que resultou em um grande problema de comunicação entre as interfaces de cada instituição. No Reino Unido, foi exigido que 50% do mercado adotasse uma API padrão.

“O Brasil está aprendendo com os erros que outros países cometeram e está indo além: implementação coordenada pelo Banco Central, participação de todas as instituições, API padronizada e um escopo de produto muito maior. Isso amplia a concorrência, reduz preços, aumenta a qualidade da oferta para o consumidor”, explica Bragança.

Imagem: Roland Berger/Divulgação

Experiência do cliente e maior oferta de produtos são soluções para se manter competitivo

Para Bragança, as empresas do setor bancário poderão adotar duas estratégias para manter a competitividade: o fortalecimento do relacionamento com os clientes, aprimorando a experiência do consumidor; ou a ampliação da oferta de produtos e a eficiência de gestão, em que a disputa é pelo preço e pelo equilíbrio entre risco e retorno. 

Enquanto fintechs, big techs e varejistas podem ter mais facilidade para se adequar à primeira estratégia, os grandes bancos devem priorizar a segunda e agir rápido para evitar a perda de receita e de clientes, buscando formas de se manter atrativos junto aos clientes de alta e baixa renda. Isso porque a clientela de alta renda já é contemplada por plataformas/players de investimentos e a clientela de baixa renda ganhou atenção com o Caixa Tem e carteira digitais

Por outro lado, esse mesmo cenário coloca os grandes bancos em vantagem na competição pela classe média, para a qual há menos ofertas específicas e é justamente a maior clientela dessas instituições. 

“Os bancos tradicionais têm vantagem com a classe média, que é menos disputada por players emergentes. Então, vale mais investir em bons produtos para esse segmento do que entrar na concorrência por mercados nichados que já estão bem atendidos”, analisa Bragança.

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Ele reforça a urgência de mudanças na interface de experiência do cliente. 

“Os bancos tradicionais não possuem mindset digital para competir com players que nasceram digitais. Precisam melhorar a interface de experiência do cliente. No Brasil, o sistema financeiro é muito concentrado, com baixa concorrência, o que fez com que os bancos tradicionais desenvolvessem um modelo de negócio pouco orientado ao cliente e muito orientado ao produto.”

Imagem: Roland Berger/Divulgação

Open banking traz o empoderamento do cliente

O aspecto fundamental do open banking é a maior autonomia do cliente na escolha dos serviços e produtos bancários que consome, bem como de quem vai consumir. 

O compartilhamento obrigatório, pelas instituições financeiras, das informações bancárias de seus clientes e a implementação de uma camada de tecnologia padronizada, que irá simplificar a comunicação e a portabilidade de dados entre as instituições, resultará em redução de custos e maior acesso ao crédito para o consumidor.

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A premissa é simples: se o cliente tem mais autonomia e facilidade para migrar para outros serviços e produtos, a competição entre as instituições financeiras prestadoras de serviços para segurar o cliente aumenta – algo saudável para um setor conhecido por ser concentrado. 

Imagem: Roland Berger/Divulgação
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