Se houve um ano em que precisávamos de férias, foi 2021. O ano passado foi crucial para a indústria de viagens, depois de tanto tempo de isolamento. Uma pesquisa do Booking.com ainda no ano passado mostrou que 7 em cada 10 brasileiros tinham planos para viajar. À medida que a indústria procura acompanhar a demanda e atender às altas expectativas dos viajantes de hoje, várias tendências começam a surgir. Selecionei abaixo as cinco principais:
A casa é em qualquer lugar
A tendência do home office, acelerada pela pandemia, abriu um novo mundo de possibilidades para buscar a combinação ideal de trabalho e vida pessoal, em vez de equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Não estamos mais procurando criar uma linha rígida entre os tempos e lugares em que trabalhamos e os que desfrutamos da casa, da família e das atividades de lazer.
Isso se encaixa com a realidade de uma grande parte dos trabalhadores millennials que, impactados por um custo de vida mais alto, estão evitando os riscos financeiros da casa própria e alugando ao invés de comprar. Sem estarem presos a um único local, eles são livres para adotar um estilo de vida nômade sem ter de se desconectar ou sacrificar aspirações de carreira.
Para o setor de hospitalidade, atender a esses consumidores significa oferecer uma experiência de viagem que torne fazer uma reunião virtual em Tulum (México) ou São Paulo tão fácil quanto em Nova Iorque. Recursos como Wi-Fi de alta velocidade, suporte técnico acessível no idioma e serviço de concierge sete dias por semana precisarão se tornar a norma em todos os níveis e preços, em vez de uma comodidade restrita para viajantes corporativos ou de luxo.
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A América Latina vai prosperar
Como alguém dos Estados Unidos que vive e trabalha na Cidade do México, entrei para uma próspera comunidade de expatriados em toda a América Latina. O custo de vida mais baixo, o clima ameno e a proximidade com os EUA tornam a região ideal para viver e trabalhar. De acordo com a Migration Policy Institute Data, há aproximadamente 800 mil americanos vivendo no México, sendo o país com o maior número de americanos fora dos Estados Unidos. Então, claramente, eu não estou sozinho.
Com o grande número de startups projetadas para simplificar tudo, desde a compra de um carro usado até a abertura de uma conta bancária, o investimento de capital de risco na região é robusto. Só no ano passado, as startups levantaram US$ 15,7 bilhões na América Latina. Isso dará a centros de tecnologia como São Francisco, Nova York e Boston uma competição por talentos.
Esse fenômeno também terá um impacto intersetorial, à medida que os dólares continuarem a fluir para a região. Para o setor de hospitalidade, isso significa que o mercado ficará ainda mais competitivo. A chave para o sucesso será oferecer uma experiência distinta que equilibre tecnologia e o respeito pela cultura e a história da região. Aqui entram ofertas como o planejamento de viagens por aplicativos, check-in online e serviços para hóspedes.
A fidelidade está em jogo
Após um longo período de incertezas, é hora das marcas de hospitalidade aumentarem a aposta na satisfação dos clientes. Cada vez mais, eles estão investindo em novas experiências e novas marcas.
Uma pesquisa recente da McKinsey descobriu que 75% dos consumidores experimentaram uma loja, site ou marca diferente desde o início da pandemia. Esse desejo recém-descoberto de se afastar do familiar indica que a fidelidade do consumidor em todos os setores, incluindo viagens, não é garantida. Conquistar a fidelidade dos viajantes significa ir além do esperado para fazer conexões significativas com os consumidores com o objetivo de que eles se tornem defensores leais da marca.
Uma maneira de fazer isso é capturar dados em todos os pontos ao longo da jornada do consumidor. As empresas obtêm uma infinidade de informações quando solicitam aos clientes que preencham perfis ao reservar sua acomodação, por exemplo. Informações tão simples quanto se estão viajando a negócios ou lazer podem ser usadas para adicionar toques personalizados aos quartos ou apartamentos de hotel, desde adaptadores para dispositivos eletrônicos ou um monitor extra, até protetor solar e toalhas de praia.
Além disso, uma pesquisa com o cliente no check-out pode ajudar a identificar áreas de melhoria que aumentarão a afinidade contínua com a marca e seus serviços.
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Tecnologia de valor agregado
A aplicação da tecnologia para criar ou aumentar a conveniência tem sido o principal elemento por décadas. No futuro, o papel da tecnologia para o setor de hospitalidade será o de ir além da simples criação de conveniências, a fim de agregar valor.
A previsão é de que, na próxima década, experimentaremos mais progresso do que nos últimos 100 anos. A tecnologia continuará a reduzir o tempo necessário para passar da fase da ideia ao lançamento. Também será ainda mais fácil agir de acordo com os insights vindos do consumidor.
Imagine abrir a porta da sua acomodação e ouvir uma playlist feita especialmente para você? Ou encontrar na mesa de centros algumas das suas leituras favoritas ou uma geladeira abastecida das suas comidinhas favoritas?
A inteligência artificial possibilitará novas e emocionantes experiências imersivas para os viajantes. Fazer uma visita virtual a uma atração local antes de investir tempo, energia e dinheiro se tornará mais comum e acessível. A criação de experiências personalizadas e verdadeiramente impactantes fará com que as marcas se destaquem e ganhem a fidelidade do consumidor.
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Indo sozinho
Os viajantes estão aproveitando a tendência de mindfulness e estendendo-a às suas experiências de viagem. A viagem consciente é a prática de mergulhar em um ambiente desconhecido e focar no que você vê, ouve, cheira, saboreia e sente para que possa experimentar a viagem de uma maneira nova e mais personalizada.
Estudos mostram que a capacidade de estar presente no momento é aprimorada quando nos envolvemos em atividades individuais. Os eventos do ano passado aumentaram a necessidade de nos conectarmos com nosso eu interior, por meio do mundo exterior.
Curiosamente, até as empresas de turismo estão aprimorando suas ofertas para viajantes solo para atender ao crescente mercado de pessoas que desejam experimentar destinos sozinhos ou como parte de um grupo. Este é um exemplo de como a indústria pode atender às necessidades dos consumidores e assim não se tornarem obsoletas, à medida que acompanham as tendências do mercado.
Os novos hábitos em decorrência da pandemia continuarão abalando o setor de hospitalidade e trazendo tendências duradouras. A capacidade de estar conectado em todos os lugares, o desejo de se aventurar em novos locais, a necessidade de personalização e os novos usos da tecnologia serão o centro das atenções para os viajantes ao longo deste ano. As marcas de hospitalidade que souberem se adaptar primeiro estarão bem posicionadas para aumentar sua relevância no mercado, além de 2022.