Nexodata startup health tech Brasil
Foto: Nexodata/Divulgação
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A Nexodata quer digitalizar a saúde no Brasil com uma receita de cada vez

Após rodada de investimento que teve participação de Mercado Libre e Albert Einstein, o próximo passo da startup é o lançamento de um marketplace de medicamentos

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Acabou aquela história de precisar decifrar qual o tratamento indicado pelo médico em um receituário cheio de garranchos. A startup Nexodata, health tech que criou uma solução de receita eletrônica para prestadores de saúde, empresas de tecnologia e farmácias, viu a demanda pelo seu serviço explodir durante a pandemia e agora colhe os frutos desse crescimento.

Hoje, a Nexodata está presente em 200 hospitais (antes da pandemia, apenas um hospital fazia uso da solução). A startup também tem como clientes outras 150 empresas de tecnologia da área e alcança hoje 100 mil médicos no país. A health tech estima que suas receitas sejam usadas por 2 milhões de pacientes por ano.

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Entre janeiro de 2020 e outubro de 2021, o time da companhia saltou de dez para 80 funcionários — e deve fechar o ano com pelo menos 100 colaboradores. De acordo com o presidente da Nexodata, Pedro Dias, a onda de digitalização do setor ainda não alcançou seu ponto mais alto. “A primeira visão da Nexodata é viabilizar a digitalização integral de todo o sistema de saúde no Brasil, tanto o mercado privado quanto o setor público”, conta Dias, que fundou a startup em 2017 ao lado de Lucas Lacerda — a dupla também criou a startup de planos de saúde corporativos Vitta, vendida para a Stone em 2020 — e do médico Antonio Carlos Endrigo.

Saúde fora do hospital

De acordo com um relatório recente do Distrito, as health tech brasileiras levantaram US$ 222 milhões em capital até agosto de 2021, totalizando 39 transações diferentes. O setor é o quarto que mais recebeu aportes, atrás de fintechs, real estate e edtechs.

A autorização pelo Conselho Federal Medicina e pelo Ministério da Saúde, em março de 2020, para a telemedicina (o atendimento de pacientes por meio de videoconferência) foi fundamental para a expansão do setor. De acordo com o cofundador da Nexodata, telemedicina e receitas digitais são dois hábitos que chegaram pela preocupação com a contaminação durante a pandemia, mas que vão ficar por conta da comodidade — e devem coexistir com o formato analógico.

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“É importante entendermos os passos grandes que demos, no setor. No ano passado, o principal passo foi aceitar o atendimento à distância, aceitar a saúde fora do hospital, a saúde dentro de casa de alguma forma. A telemedicina foi um dos grandes viabilizadores disso”, aponta o cofundador da Nexodata.

Para Dias, as receitas digitais complementam o teleatendimento e abrem novas possibilidades de mercado.

O recurso da receita digital começa a mudar a trajetória do consumidor porque ele possibilita que você tenha um fluxo de adesão ao tratamento ou de compra dos medicamentos com uma fricção muito menor

Pedro Dias, presidente da Nexodata

Para expandir essa visão, a Nexodata anunciou uma rodada de captação Série A de R$ 35 milhões em junho, com participação do MELI Fund — fundo de investimentos do Mercado Livre — , Hospital Israelita Albert Einstein, Floating Point, FIR Capital e do “family office” do fundador da XP, Guilherme Benchimol.

No total, a Nexodata já levantou R$ 40 milhões de investidores. LTS Investments, de Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, a Arpex Capital, de André Street, e Eduardo Mufarej injetaram capital seed na startup.

Com os recursos, a Nexodata planeja lançar seu marketplace, permitindo que pacientes com uma receita digital possam comprar medicamentos sem sair de casa. O serviço também vai contar com uma ferramenta de comparativo de preços.

Para manter a privacidade, a health tech conta com o trabalho integrado entre equipes de desenvolvimento, proteção de dados e compliance, garantindo que o fluxo aconteça de acordo com as legislações vigentes, inclusive de LGPD.

A startup espera apresentar o recurso em breve, mas ainda avalia os aspectos estratégicos e regulatórios do lançamento.

A disputa pelos pacientes digitais

Lidando com um público cada vez mais conectado, as health techs precisam proporcionar experiências tão boas quanto carteiras digitais, redes sociais e outros. Por outro lado, criar uma experiência omnicanal no setor é mais complicado do que no varejo tradicional. Comprar um medicamento não é a mesma coisa que escolher uma refeição ou eletrodoméstico.

“O desafio é entender como fazemos, a partir de um documento digital, para criar uma experiência de adesão ou tratamento que também seja tão boa quanto temos em outras soluções que utilizamos”, comenta Dias.

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Pedro Dias, presidente da Nexodata: executivo de 25 anos quer digitalizar o atendimento de saúde no país. Foto: Divulgação

Outro ponto que afeta diretamente a inovação no setor de saúde é a regulamentação, que normalmente acontece de maneira mais lenta que em outras áreas. Enquanto o Banco Central discute as etapas do open banking, por exemplo, avanços na área da saúde como a liberação das teleconsultas só aconteceram involuntariamente, acelerados pela pandemia.

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De acordo com o presidente da Nexodata, o mercado está alguns passos atrás quando o assunto é um componente essencial na experiência digital: a integração de informações.

“Saúde tem um problema de interoperabilidade, que é como você liga um sistema no outro. E não é algo que acontece só no Brasil”, lembra Dias. “Falando especificamente de receitas digitais para medicamentos e exames, essas pontas podem ser conectadas em uma experiência sem fricção”, aposta o executivo.

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