The New Fish, produto feito de ervilha da The New Butchers. Foto: Divulgação
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A plant-based que "chegou de fininho" e quer construir a categoria no Brasil: The New Butchers

A startup está no meio de uma Série A para seguir com o crescimento acelerado, como o aumento de 60% das vendas pré-pandemia até agosto

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Engenheiro mecânico, Bruno Fonseca trabalhava com motores diesel. Em meados de 2018 assumiu um projeto na engenharia para reduzir a emissão de CO2 de motores e se apaixonou por temas ambientais. Saiu da engenharia para se dedicar a isso. 

No mundo corporativo também mudou de área, deixou o setor automobilístico para trabalhar em agro. “Fiz essa decisão porque entre as indústrias a que mais gera efeitos no meio ambiente é a indústria da carne”, disse. 

Em uma empresa agroquímica, Fonseca conheceu o mercado por dois anos. “Nessa época eu já não consumia carne e nenhum derivado animal. Estava em busca de algo para resolver o problema de que iria faltar planeta com o crescimento populacional se a gente não mudasse nosso hábito alimentar. Desde então ficou claro que eu iria me dedicar a alimentos”, contou, em entrevista ao LABS.  

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Em 2013, Fonseca fundou sua primeira empresa: Eat Clean, que produz pasta de amendoim, de castanha e amêndoas. “Não usamos nenhum aditivo químico e a maioria dos nossos insumos são orgânicos”, complementa. 

Cerca de quatro anos depois, o jovem empreendedor conheceu a técnica para imitar a textura e o sabor da carne animal: a extrusão, uma tecnologia usada para fazer a massa do macarrão, adaptada para que vegetais simulem fibras de proteína. “Pensei que se a gente conseguisse um produto desse que fosse saudável e entregasse sabor, ainda mais que a carne é parte da cultura do Brasil, seria um caminho perfeito porque conseguiríamos preservar o planeta sem causar nenhum prejuízo para a saúde das pessoas”. 

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O novo projeto, de carne à base de plantas, foi tocado em paralelo à Eat Clean. Ele conta que quando analisou os números e o tamanho do mercado, viu que o negócio resolveria um problema para o meio ambiente e decidiu que focar na nova empresa.

Assim surgiu a The New Butchers, no final de 2019, lançada com capital próprio, recurso financiado pela EatClean. “A Eat Clean ainda existe, somos sócios, mas não estou no dia a dia da empresa para poder me dedicar a The New Butchers”, disse. 

No início deste ano, a The New Butchers realizou a primeira rodada de investimento de alguns investidores anjos, incluindo o empresário Paulo Veras, fundador da 99. “Optei por fazer esse caminho de funding da empresa porque a gente viu o tamanho do mercado e a complexidade e a relevância dos demais competidores”, conta. 

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Concorrentes como a bem conhecida Fazenda Futuro, que recebeu US $21,6 milhões de investidores neste ano e vai expandir a operação para os Estados Unidos em 2021.

Assim como a Fazenda Futuro, a The New Butchers entende que seus concorrentes não são as outras plant-based, mas a indústria tradicional da carne. A aposta de Fonseca não é (só) para veganos como ele, mas para os amantes da carne que a desejam substituir por um produto à base de plantas em alguma refeição durante a semana.

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“O nosso posicionamento é de sempre ser a mais saudável das carnes de plant-based. Vemos as outras food techs como uma jornada com um objetivo em comum, que é construir a categoria plant-based e a deixar o mais relevante possível. Chegará um momento mais para frente que a gente vai ter que concorrer com quem vai liderar o setor. Mas o momento atual ainda é de construção da categoria”, afirma. 

Bruno Fonseca, CEO e co-fundador da The New Butchers. Foto: Divulgação

Hambúrguer de carne e de frango, filé de frango e de salmão: tudo feito de ervilha

Os produtos da The New Butchers não contém glúten, e tampouco soja, diferente dos principais concorrentes do mercado de plant-based. “A soja no Brasil tem a questão alergênica. O Brasil é o país que mais consome glifosato, que é um dos principais pesticidas. Ele é proibido em várias partes do mundo, mas aqui no Brasil ele é liberado e muito usado no cultivo da soja, por exemplo”, explica. Em busca de um produto mais saudável, os alimentos da The New Butchers são 100% feitos de ervilha, que, segundo Fonseca, é 10 vezes mais cara do que a produção com soja. No ponto de venda os produtos da The New Butchers oscilam de R$18 a R$ 19,90. 

Segundo Fonseca, a The New Butchers é a única plant-based do Brasil com uma versão de salmão, que assim como o animal, é fonte de ômega 3, e foi a primeira empresa a lançar uma versão de frango plant-based, em outubro do ano passado. E com um diferencial em relação aos rivais: tudo com tecnologia proprietária. 

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Para desenvolver o peixe plant-based, uma das estratégias da startup foi usar fibra de jaca para imitar a fibra da carne. “Temos a fábrica e o P&D próprio desde 2017. Desenvolvemos a flavorização, a parte de textura e imitar as fibras”, conta. 

Segundo o CEO e co-fundador da startup, “tem muito storytelling das foodtechs” sobre a tecnologia empregada para fazer uma plant-based. “Tem muita tecnologia sim, mas a tecnologia está empregada no processo. É um processo de extrusão que se usa há mais de 100 anos na indústria de alimentos”, conta.

Próximos passos

Aposta da tendência ecologicamente sustentável, as foodtechs continuam atraindo investidores. A startup está no meio de uma Série A para seguir com o crescimento acelerado (de aumento de 60% das vendas pré-pandemia até números fechados em agosto), embora não abra valores das vendas por conta das negociações da rodada, segundo Fonseca. “Estamos na etapa de diligências, nossa projeção é que fechemos a rodada até fevereiro do ano que vem”. 

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Com o produto já consolidado, a Série A será aplicada na construção do time e da marca. “Usamos boa parte da rodada com os anjos para fazer nossa fábrica. Fizemos uma expansão de fábrica e a partir de janeiro a gente vai ter uma fábrica com capacidade de produzir 80 toneladas por mês”. 

Hoje, a startup conta com 18 funcionários e a previsão é que até março de 2021 chegue a 30. A ideia é que os 1,200 pontos de venda no varejo hoje (em supermercados como Pão de Açúcar, Oba e Angeloni) se tornem em 8 mil até o primeiro trimestre do ano que vem, além de parcerias com restaurantes no início de 2021.

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