Brenno Raiko, sócio e diretor administrativo da Advent International na América Latina. Foto: Divulgação.
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Entrevista: Por dentro da tese da Advent International na América Latina

Por que a região se tornou a queridinha das gestoras de private equity? O LABS conversou com o sócio e diretor administrativo da Advent na região, Brenno Raiko, sobre isso e muito mais

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Só nos EUA, os investimentos de private equity (patrimônio privado) atingiram o valor recorde de US$ 944,4 bilhões em 2021 (até novembro), de acordo com a Dealogic – mais que o dobro do volume de 2020. Para o Wall Street Journal, isso é indica que a era das grandes aquisições está de volta.

Uma das operações mais recentes foi um acordo de US$ 11,8 bilhões para compra a empresa de software de segurança cibernética McAfee por um grupo liderado pelas gestoras de private equity Advent International Corp. e Permira. Com o recente aumento de incidentes de ransomware e outros tipos de ciberataques, o setor precisa urgentemente de grandes injeções de capital – sendo também uma das áreas de maior expertise da Advent.

Em termos regionais, a América Latina também tem atraído a atenção da Advent, pelo seu potencial imenso e ainda pouco explorado em setores-chave para a gestora.

América Latina é agora a queridinha das empresas de private equity

De acordo com um novo estudo encomendado pela Auxadi, empresa que fornece serviços de contabilidade, impostos e folha de pagamento para multinacionais de private equity, “o nível de interesse entre os GPs na América Latina como destino de investimento ultrapassou a região da Ásia-Pacífico e o Oriente Médio” para investimentos multinacionais planejados para os próximos cinco anos. Junto com um apetite crescente pela América Latina, os investidores de private equity também observaram alguns problemas a serem enfrentados: 44% citaram”uma miríade de diferenças jurisdicionais em leis e estruturas regulatórias e regimes de conformidade” e um em cada três (33%) sinalizaram “diferenças culturais e os desalinhamento nas avaliações entre comprador e vendedor ”como os principais desafios a serem superados na região.

Para entender melhor o cenário de private equity e as oportunidades de investimento que se avizinham da América Latina em 2022, o LABS conversou com Brenno Raiko, sócio e diretor administrativo da Advent na América Latina.

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A Advent International é uma das maiores e mais antigas parcerias de capital privado. Desde sua fundação em 1984, a empresa investiu US$ 58 bilhões em mais de 380 negócios de private equity em 42 países. Na América Latina, Raiko administra mais de 40 profissionais de investimento e supervisiona todos os ativos do setor de tecnologia da Advent na região.

Entre os investimentos recentes da Advent na América Latina estão o Nubank, o EBANX (dono do LABS), a CI&T (fornecedora global de serviços de transformação digital), o Grupo Farmacéutico Somar (fabricante líder de medicamentos genéricos no México); e o Canvia, um provedor líder de serviços de TI no Peru. Já entre os exits recentes da gestora, estão o Grupo BIG (antigo Walmart Brasil), a Easyinvest, o Grupo Biotoscana (biofarmacêutica) e Grupo Fleury, de diagnósticos médicos. 

A seguir, os principais trechos da entrevista:

LABS – Considerando o alto nível de investimento, o tamanho das rodadas, os IPOs, você está surpreso com o desempenho da América Latina?

Brenno Raiko – Certamente mais GPs [sigla para general partners, em referência às empresas de private equity que podem ter um ou mais fundos, dedicados a uma série de empresas] e investidores globais estão olhando para a região, e a pandemia acelerou ainda mais isso. Mesmo antes da pandemia, havia um ambiente de tecnologia e de crescimento mais ativo. Isso começou há cerca de três ou quatro anos, quando o mercado começou a se acelerar em termos de ter mais dinheiro entrando, mais histórias de sucesso e saídas exitosas. 

Acho que estamos em um momento muito interessante hoje, e a roda continua girando. Este é um ano recorde para novos investimentos na América Latina, e esperamos que esse impulso continue nos próximos anos. Veremos ainda mais histórias de sucesso na região. Com mais histórias de sucesso, mais retornos e mais grandes empreendedores dirigindo empresas em crescimento, mantendo o jogo interessante. 

LABS – As fintechs têm liderado a atração de investimento. Quais setores você vê emergindo em termos de interesse dos investidores e inovações para resolver grandes desafios em 2022? 

BR – Fintech é o subsetor mais denso e por causa dos investimentos e da dinâmica do mercado, é quem puxa o lucro. No Brasil, há grandes oportunidades pela frente para continuar investindo em empresas latino-americanas líderes de mercado em segurança cibernética, tecnologia da saúde, tecnologia de consumo, software e serviços digitais.

Nós nos concentramos principalmente em três setores: serviços financeiros, tecnologia de consumo e tecnologia de saúde. Não apenas no estágio de crescimento, mas também para aquisições de empresas maiores e maduras, devido ao nosso profundo conhecimento e especialização em tecnologia. 

Brenno Raiko, sócio e diretor administrativo da Advent na América Latina.

LABS – Vimos um aumento no número de startups com foco em novas abordagens para melhorar o acesso à saúde e reduzir custos. A regulamentação da telesaúde, durante a pandemia, ajudou a dar impulso para health techs como Klivo e Sami, que estão crescendo muito e atraindo grandes rodadas. O que você acha da oportunidade de tecnologia em saúde à frente? 

BR – É importante ter compreensão e convicção para investir nessas novas interseções. Na Advent, conhecemos os dois lados muito bem: desde o setor de saúde tradicional ou incumbente até as empresas de tecnologia de saúde que estão tentando inovar no setor. Continuamos otimistas e investiremos em líderes de saúde, biotecnologia, tecnologia da saúde e produtos farmacêuticos, onde temos profunda experiência e conhecimento em toda a rede global da Advent. 

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LABS – Você mencionou a segurança cibernética anteriormente, e ataques maliciosos de todos os tipos continuam a ser um grande problema na América Latina. O Brasil tem um ataque cibernético cada 11 segundos, de acordo com o Grupo CyberLabs. O que é mais intrigante para você neste setor?

BR – A segurança cibernética continua sendo uma parte central de nossa tese de investimentos, a compra da McAfee é um exemplo disso. Desde que vimos uma enorme transformação digital durante a pandemia (incluindo um aumento acentuado no trabalho remoto de casa), há uma necessidade urgente de encontrar novas maneiras de proteger empresas e pessoas. Na Advent, seguimos as tendências globais de perto, tendo o apoio da nossa equipe de tecnologia nos Estados Unidos e, juntos, buscamos e fazemos investimentos em empresas na América Latina e também em outras regiões que estão combatendo e vencendo batalhas de segurança cibernética.

LABS – Conte-nos mais sobre como a Advent está estruturada e como vocês operam e cooperam em todos os mercados onde atuam.

BR – Hoje na Advent, temos três programas principais ativos: GPE, ou Global Private Equity, que se concentra principalmente em aquisições gloabis e está no fundo número nove; nosso programa latino-american, que atualmente está no fundo número sete; e, há três anos, iniciamos nosso primeiro programa no setor de tecnologia batizado de Advent Tech, que fica em Palo Alto, Califórnia. 

Na América Latina, temos mais de 40 profissionais de investimento, é uma equipe muito grande em São Paulo, México e Colômbia. Combinamos nosso pessoal na América Latina com outras equipes na Ásia, Europa e Estados Unidos.

Isso faz parte da nossa cultura na Advent: trabalhar ombro a ombro e construir esquadrões de investimento de uma forma muito colaborativa e aberta, a fim de trazer o melhor da Advent a cada oportunidade. Muitas vezes, nossos empreendedores nem sabem de onde vem o dinheiro, porque podemos ter um ou vários programas investindo em uma empresa. 

BRENNO RAIKO, SÓCIO E DIRETOR ADMINISTRATIVO DA ADVENT NA AMÉRICA LATINA.

 

LABS – Para seus empreendedores, você também fornece serviços de valor agregado, como aconselhamento e assistência com operações, marketing, estratégia, etc? 

BR: É uma boa pergunta. Alguns importantes aqui. Primeiro, devido ao nosso histórico de aquisições, estamos muito ativos. Mesmo para negócios de crescimento nos quais temos participação minoritária, temos todas as ferramentas e recursos para ajudar nossos empreendedores no dia a dia. Com base nisso, normalmente construímos um portfólio mais concentrado. 

Nossa estratégia não é atirar para todo o lado. Em vez disso, fazemos negócios maiores, mais concentrados, e os fazemos com mais convicção. É também por isso que temos esses esquadrões de investimento, porque é fundamental ter mais convicção em nossas decisões de investimento. É por isso que buscamos combinar o conhecimento do setor com experiência em tecnologia, tanto global quanto localmente. 

BRENNO RAIKO, SÓCIO E DIRETOR ADMINISTRATIVO DA ADVENT NA AMÉRICA LATINA.

Em segundo lugar, em termos de suporte de portfólio, temos uma equipe de profissionais que não faz investimentos; em vez disso, o trabalho deles, em tempo integral, é apoiar os empresários e equipes de gestão em nossas empresas e ajudá-los em seu planejamento de criação de valor. O processo de decisão de investimento é conduzido por nossas equipes locais, em coordenação com o ganho de experiência global ou específica do setor em toda a rede Advent. 

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LABS – Uma grande macrotendência que vimos durante a pandemia, especialmente na América Latina, é a aceleração digital que ajudou a fazer da América Latina a região de crescimento mais rápido para o e-commerce no mundo. Que tipo de oportunidades de investimento a rápida adoção de pagamentos digitais, por exemplo, apresentou desde 2020? 

BR – A Advent é um dos maiores investidores em serviços financeiros e pagamentos do mundo há décadas. Desde a crise financeira (que começou em 2008), temos feito muitos investimentos em pagamentos. Por exemplo, éramos um investidor na WorldPay, uma empresa líder em pagamentos no Reino Unido. O mesmo acontece com Concardis, Nexi e Vantiv

[Na América Latina] Investimos na Prisma, que é a maior adquirente da Argentina. Mais recentemente, investimos no EBANX. Com nosso profundo conhecimento do setor, vemos uma enorme oportunidade em pagamentos internacionais, locais e híbridos. É isso que o EBANX faz; torna mais simples para marcas e empresas globais da China, Europa e EUA ou qualquer outro lugar obter acesso a mais de 400 milhões de consumidores, no Brasil, Argentina, Chile, Colômbia e vários países da região. A penetração [do comércio eletrônico] ainda é relativamente baixa. Temos uma grande população [na América Latina], necessidades ainda maiores, muita complexidade. Isso é o que EBANX resolve.

Traduzido por Fabiane Ziolla Menezes