De olho na tendência de crescimento do mercado de tecnologia e inovação voltado para o agronegócio no Brasil – para ter uma ideia, somente entre 2020 e 2021, o número de agritechs brasileiras aumentou 40%, de acordo com o relatório Radar AgTech Brasil 2020-2021 – e acumulando experiência no mercado financeiro, os irmãos Alan e André Glezer, em parceria com Carlos Fagundes, Valéria Bonadio e Leopoldo Vettor, fundaram em dezembro de 2020 a Agrolend, uma agfintech que fornece crédito sustentável para pequenos e médios produtores rurais de todo o Brasil.
Com pouco mais de um ano de operação, a Agrolend acaba de fechar uma captação de R$ 80 milhões em uma rodada Série A liderada pelo Valor Capital Group e acompanhada por investidores da rodada Seed, como Continental Grain Company, SP Ventures, Provence Ventures e Barn Invest.
Com uma licença de Sociedade de Crédito Direto (SCD), a Agrolend é uma instituição financeira regulada pelo Banco Central. A fintech desenvolveu uma plataforma online para solicitação e liberação de crédito rural sem garantia física. Tudo é feito dentro de casa: a Agrolend optou por não operar como intermediário de crédito; dessa forma, a fintech origina o crédito, formaliza os títulos, faz a análise de risco, desembolsa o dinheiro e faz a cobrança no final.
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“Nunca quisemos ser intermediários, sempre quisermos ser um banco de crédito de fato. Essa é a única forma de realmente inovar no setor. Fazer tudo de ponta a ponta nos permitiu entregar uma experiência única em termos de facilidade e velocidade na concessão do crédito e montar uma operação competitiva em termos de custo. E crédito, no fim do dia, é sobre isso: conveniência e competitividade”, disse o CEO André, em entrevista concedida ao LABS junto com o irmão, Alan.
O público-alvo da Agrolend é um contingente estimado de 700 mil pequenos e médios produtores rurais de todo tipo de cultura (grãos, pecuária, leite) espalhados por todos os estados brasileiros, com faturamento anual entre R$ 500 mil e R$ 5 milhões. Segundo os irmãos Glezer, são produtores pessoa física, com uma operação um pouco mais robusta, mas que ainda não se comportam como empresa, que demandam capital para comprar insumos, pagar fornecedores, acessar tecnologia – o básico para fazer a operação girar.
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“Nós estamos levando riqueza, levando crédito para cantos remotos do país… Para Rondônia, Pará, Tocantins… Nosso modelo de negócio não é emprestar para quem está próximo dos grandes centros, mas sim para quem está nas regiões remotas e tem menos acesso à capital para produzir, menos acesso à tecnologia”, disse Alan, CFO da startup.
Todo o processo de solicitação e aprovação de crédito é online e pode ser feito pelo celular. A plataforma da Agrolend faz uma análise de risco a partir do CPF do produtor, que gera um score para definição do limite e aprovação do crédito. Segundo a empresa, a solicitação, a análise de risco e a formalização do crédito são feitas em menos de cinco dias. A fintech concede empréstimos no valor médio de R$ 200 mil e não superior a R$ 300 mil.
Com tecnologia desenvolvida dentro de casa e uma operação enxuta, a Agrolend tem hoje 230 clientes ativos e administra uma carteira de crédito de R$ 40 milhões, montante captado por meio de um FIDC que contou com a participação do Itaú Asset, Verde Asset e Augme para dar o start na operação no ano passado. A startup não revela o faturamento, mas afirma que vem dobrando de tamanho mês a mês.
Agora, com os recursos da Série A, a Agrolend planeja investir em três frentes: aprimorar a tecnologia da plataforma e o modelo de crédito, reforçar o time, hoje composto por 15 pessoas, para 50 colaboradores até o fim do ano e, claro, ampliar a oferta de crédito.
Segundo André, a demanda dos produtores rurais por crédito deve aumentar em R$ 220 bilhões nos próximos cinco anos e “a Agrolend chega para cobrir esse gap e focar nos produtores rurais de pequeno e médio porte, público que sofre mais com a falta de crédito e com a atual burocracia”.
Nesse cenário, a fintech projeta chegar a uma carteira de crédito de R$ 1 bilhão em dois ano e atingir 5 mil clientes.
O agronegócio é um motor fundamental de crescimento do Brasil, responde por um terço do PIB do país, e precisa de ferramentas inovadoras de financiamento. Até recentemente, o agro era financiado de uma maneira sucateada, por meio das linhas do Plano Safra. O país precisa de novas alternativas de crédito para esse setor. Esse é o nosso propósito, ajudar a financiar esse motor de crescimento e levar o desenvolvimento para regiões menos atendidas.
Alan Glezer, cofundador e CFO da Agrolend