Márcio Alencar, diretor de estratégia digital, marketing e negócios da Alelo. Foto: Alelo/Divulgação
Negócios

Alelo completa 18 anos e investe R$ 160 milhões para acelerar transformação digital com plataforma própria de adquirência

A empresa de benefícios corporativos está englobando serviços de delivery e transações no aplicativo, agora hospedado na nuvem da AWS

Read in english

Os primeiros “vale-refeição” do Brasil eram papéis. Um bloquinho dos quais os funcionários destacavam algumas folhas, utilizadas para pagar refeições ou compras no supermercado. Há 18 anos, a Alelo, bandeira especializada em benefícios, incentivos e gestão de despesas corporativas do grupo Elopar – que tem Banco do Brasil e Bradesco como sócios – ajudou a digitalizar esse mercado em parceria com a Visa.

Em 2003, as empresas montaram uma operação para transformar o bloquinho de vales-refeição em um cartão. “A gente digitalizou o dinheiro naquela ocasião e vem desenvolvendo uma série de evoluções ao longo desses 18 anos”, disse Márcio Alencar, diretor de estratégia digital, marketing e negócios da Alelo, em entrevista ao LABS

Depois do cartão magnético, veio o plástico com chip e, mais tarde, o aplicativo da Alelo. Em 2019, a empresa acelerou o desenvolvimento de novas tecnologias e lançou uma plataforma aberta a parceiros, para compartilhamento de APIs e oferta de mais benefícios aos usuários finais. Recentemente, a empresa passou toda sua operação (plataformas de processamento, relacionamento com o cliente e a aplicação mobile Meu Alelo) para a nuvem da Amazon Web Services, o que agilizou os processos. 

LEIA TAMBÉM: Na briga com aplicativos para ser o cardápio digital dos restaurantes, Goomer anuncia aporte de R$ 15 milhões

Hoje, a empresa comandada por Cesario Nakamura tem aproximadamente mil funcionários que atendem mais de 8 milhões de clientes (pessoas que acessam os serviços de pagamento da Alelo, seja no segmento de benefícios ao trabalhador, seja no de gestão de despesas corporativas ou pré-pagos para as empresas). São mais de 100 mil empresas de todos os tamanhos que usam os serviços da Alelo, disponíveis em 700 mil estabelecimentos comerciais conveniados. 

“O mercado de pagamentos em que estamos inseridos é muito dinâmico. Muitos competidores, com muitas novas opções. A gente precisa ter um plano bastante claro para geração de valor para os nossos clientes, o que é um desafio sempre”, lembra Alencar. 

Os concorrentes tradicionais da Alelo, a Ticket (da francesa Edenred) e a também francesa Sodexo, agora disputam o mercado com startups que querem diversificar os benefícios corporativos. Como o iFood, que lançou o iFood Refeição, solução de vale-refeição que integra a base de estabelecimentos cadastrados na plataforma e a Caju, que entre os benefícios corporativos de vale-refeição e alimentação oferece seguros e opções para trocar benefícios por assinaturas Netflix, Spotify, entre outros. Os clientes podem transferir saldos entre seis categorias: refeição, alimentação, mobilidade, cultura, educação e saúde. 

LEIA TAMBÉM: Startup brasileira Caju recebe aporte de R$ 13 milhões em rodada liderada pelo Valor Capital Group

“O mundo do voucher está em constante evolução. De fato, todas as empresas vão caminhar nessa direção [de diversificação dos benefícios] porque na economia digital as pessoas têm acesso a muita oferta de produtos. Isso coloca um desafio para as empresas que já existem nesse mercado. Já estamos colhendo frutos de uma decisão que a gente tomou há alguns anos de fazer toda essa transformação digital na companhia”, diz o diretor.

A pandemia da COVID-19 impulsionou essa transição, segundo Alencar. Ano passado, a Alelo lançou um produto que integra uma série de contas de pagamento diferentes para atender a demanda por benefícios flexíveis do mercado de empregadores, ou seja, as empresas que querem remunerar e apoiar os funcionários nesse novo modelo de trabalho remoto.

O chamado “Alelo Tudo” tem mais de 30 mil clientes que usam o produto, que permite que o funcionário receba uma linha de auxílios: a quantia de pagamento que iria para alimentação, refeição ou para outra conta de pagamento pré-paga, pode ser usada para pagar internet ou insumos para o trabalho remoto.

R$ 160 milhões para transformação digital da Alelo 

A Alelo está investindo R$ 160 milhões (o maior investimento da empresa desde sua fundação) em tecnologia, principalmente no uso de dados como um fator direcionador para lojistas conquistarem e reterem clientes e também para os usuários, auxiliando-os na hora da escolha de onde comer, onde fazer compras ou onde abastecer. “Acreditamos em um consumo mais inteligente, em que as informações possam gerar benefícios tanto para o usuário, quanto para o lojista”, diz Alencar. “Desenvolver soluções a partir de dados é um caminho sem volta. Não só para nós, mas para toda a economia digital”.

LEIA TAMBÉM: iFood lança conta digital gratuita para todos os restaurantes da sua plataforma

Dentro desse investimento, a Alelo montou uma plataforma de adquirência proprietária, isto é, para processamento de transações com o lojista. Mas, Alencar ressalta que a empresa não é uma competidora no mercado de adquirência. A plataforma, que foi desenvolvida pela Alelo ao longo do ano passado, processa apenas as transações da própria Alelo.

“Nessa agenda de evolução tecnológica, teremos soluções proprietárias, virá uma sequência de produtos voltados para o lojista nesta plataforma de adquirência e também para os nossos usuários, as pessoas que usam os milhões de cartões da Alelo pelo Brasil“, disse, sem detalhar quais serão os produtos disponíveis na nova plataforma de adquirência.

Funciona assim: quando o cliente faz uma transação com o cartão Alelo, seja por e-commerce ou na loja física, o processamento dessa transação é feito na nova plataforma da Alelo, que é mais rápida do que antes porque está hospedada na nuvem.

LEIA TAMBÉM: Adoção PIX em larga escala pode levar adquirentes a perder até R$ 13 bilhões por ano

Ao longo dos últimos 17 anos, a Alelo processou pagamento com a Cielo. A decisão de romper com a adquirente e criar uma plataforma proprietária se deu para agilizar os processos, segundo Alencar. 

Nesses próximos seis meses lançaremos bastante coisa a partir dessa decisão de investimento próprio em uma plataforma de adquirência.

Márcio Alencar, diretor de estratégia digital, marketing e negócios da Alelo

“A gente precisava avançar em uma série de serviços e é difícil fazer isso com qualquer parceiro. Quando você fala de desenvolvimento há priorizações e vendas que acabam sendo conflituosas. E aí a decisão de fazer esse investimento do nosso lar tem a ver com o nosso olhar aqui enquanto empresa para desenvolver os nossos produtos e os nossos serviços para esse importante cliente da nossa cadeia, que é o lojista”. 

Não é um rompimento total, já que a Cielo continua como parceira da Alelo na captura das transações, ou seja, nas maquininhas credenciadoras. O que muda é o processamento da transação, da autorização à liquidação. 

“Nesses próximos seis meses lançaremos bastante coisa a partir dessa decisão de investimento próprio em uma plataforma de adquirência”, afirma Alencar.

Os planos a longo prazo da Alelo: super app e delivery 

“O super app é um desejo, temos esse sonho grande e difícil de tornar a aplicação multiuso”, afirma Alencar. O Meu Alelo é um aplicativo dedicado ao usuário, que antes funcionava meramente para consulta de saldo e hoje já funciona como um app para transações. 

Dentro do aplicativo, os usuários contam com a solução de pedidos digitais do Pede Pronto, em que é possível fazer pedidos de comida ou comprar com descontos em farmácias, por exemplo. Assim como a Goomer, o Pede Pronto oferece um cardápio digital para fazer os pedidos e não conta com entregador, ainda. O serviço nasceu em outubro do ano passado e já tem mais de 200 mil pessoas e 800 lojistas utilizando. 

Também como a Goomer, o Pede Pronto da Alelo surgiu para simplificar os pedidos em praças de alimentação de shoppings. A ideia era apenas buscar o pedido já pago pelo Pede Pronto na bancada do restaurante. Mas, com a pandemia, o produto migrou para o delivery. Hoje, cerca de 50% dos pedidos são entregues pelo próprio estabelecimento e a Alelo disse que uma estrutura de rede de entregadores do Pede Pronto está em fase de testes. 

“O aplicativo passou a ter essa oferta transacional e tem uma série de evoluções que virão a partir dessa revisão tecnológica que a gente está fazendo, que dá condições para acelerarmos.”

Perguntado se o super app ofereceria produtos de crédito, Alencar disse que “é uma agenda sob análise”. 

“A dinâmica de consumo de crédito no Brasil está mudando, as pessoas estão olhando o crédito de maneira mais horizontal. Então, isso sim é uma possibilidade. Estamos estudando essas possibilidades, tanto para pessoa jurídica, como para pessoa física, é sempre uma opção”. 

Keywords