O americano Brad Liebmann passou os anos 1990 fazendo fusões de tecnologia e aquisições em Wall Street. Ele se mudou para Londres para iniciar a Simply Business em 2005, a primeira fintech do Reino Unido. Essa startup tinha uma das melhores tecnologias de seguros do Reino Unido e, posteriormente, em 2017, foi adquirida pela seguradora norte-americana The Travellers Companies por US$ 490 milhões. Liebmann então fez o que os empresários fazem após uma saída exitosa: aposentou-se e mudou-se para a ilha de Santa Lúcia, no Caribe. Final feliz? Longe disso. Depois de tanta tranquilidade, ele ficou entediado e decidiu abrir outra empresa.
Por causa de sua experiência anterior, o segundo empreendimento de Liebmann teria que ser uma fintech (ao menos ele pensou). Mas, desta vez, precisava ter um propósito social por trás disso. “Em 2017, descobri a questão da inclusão financeira. Há 2 bilhões de pessoas no mundo que não têm conta bancária. Achei isso uma loucura; qualquer pessoa com um smartphone deveria ter uma conta bancária. Esse é um problema que posso resolver”, ele disse ao LABS.
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Em busca de um país para lançar a fintech, Liebmann visitou os 26 mais populosos, conhecendo reguladores e potenciais clientes. “Quando cheguei ao Brasil, o país me surpreendeu pelo impacto que poderíamos ter. Não só pela questão da inclusão financeira, mas também porque os bancos são muito predatórios e as taxas de juros são tão estratosféricas. Então pensei: ‘no Brasil, podemos fazer mais para ajudar as pessoas do que em qualquer outro país'”.
O regulador foi um fator decisivo para a criação da fintech no Brasil, segundo Liebmann. “O Banco Central do Brasil é de longe o regulador mais progressista, ao lado do regulador do Reino Unido. Gosto de fazer negócios em setores regulados; isso faz com que os concorrentes sigam as regras”.
Focado em empréstimos de crédito com taxas de juros “justas” para os brasileiros, o alt.bank nasceu em outubro de 2019, apoiado por uma rodada de Seed co-liderada pelo próprio Liebmann. “Nossa missão social é mais importante do que nossa missão comercial”, afirmou. Questionado sobre quanto seria a taxa de empréstimo “mais justa” do alt.bank, o CEO disse que a empresa lançará seus primeiros produtos de crédito ainda este ano e ainda está analisando isso.
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“A maioria das pessoas que estamos almejando tem muito poucas opções agora; ou eles têm um credor altamente predatório ou um agiota”.
Até o momento, a fintech tem seu aplicativo (já baixado por mais de um milhão de brasileiros) disponível no sistema Android. Junto ao app, há um cartão pré-pago e um cartão de débito Visa amarelo fluorescente. Como Nubank e Mercado Pago (braço financeiro do Mercado Livre) fazem, a conta digital da alt.bank rende 100% do CDI, um rendimento superior ao da poupança.
O cartão de débito do alt.bank é conhecido como “amarelinho” por seus usuários. Coincidentemente (ou não), o líder do bando das fintechs no Brasil, o Nubank, tem seu cartão “roxinho” usado por mais de 35 milhões de brasileiros, 16% da população do país.
“Estamos seguindo um caminho diferente do Nubank. O Nubank obviamente fez um trabalho incrível, mas estamos abordando um mercado diferente e, com sorte, teremos o mesmo sucesso que eles”, diz Liebmann.
O mercado-alvo do alt.bank são pessoas negligenciadas pelos credores tradicionais, principalmente os cinco grandes bancos do Brasil. “Há 63 milhões de negativados no Brasil, e esse número cresceu, eram 55 milhões no ano passado. Nós podemos incluir financeiramente essas pessoas que os credores tradicionais não podiam atender.”
Union Square Ventures a bordo: Série A do alt.bank
Na quarta-feira (5), o alt.bank anunciou que captou US $5,5 milhões em uma rodada Série A liderada pela Union Square Ventures. A empresa de capital de risco dos Estados Unidos já investiu no Lending Club, Stripe, Coinbase, Twitter e Kickstarter, mas é a primeira vez que o fundo investe na América do Sul.
CEOs das fintechs Taavet Hinrikus (fundador e CEO da TransferWise), Nick Talwar (presidente e CEO da CircleUp) e Iñaki Berenguer (fundador e CEO da CoverWallet) também participaram da rodada.
Agora, John Buttrick, da Union Square Ventures, terá um assento no conselho do alt.bank ao lado de Thomaz Srougi, fundador e CEO da Dr. Consulta; Michel Goguikian, ex-CEO do Santander LATAM e Nick Talwar, presidente e CEO da CircleUp.
O investimento será destinado ao desenvolvimento de produtos como empréstimos pessoais e cartões de crédito, marketing e contratações. O alt.bank solicitou licença do Banco Central do Brasil para emitir cartões, mas Liebmann não divulgou por qual licença está aguardando.
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A startup conta atualmente com 84 funcionários, 78 deles brasileiros, sediados em São Paulo e em São Carlos, onde o alt.bank tem sua equipe de atendimento ao cliente.
“Temos alguns especialistas fora do Brasil como nosso especialista em aprendizado de máquina e alguns engenheiros”, afirma o CEO. Com o tempo, o alt.bank deseja desenvolver seus modelos de subscrição de aprendizado de máquina para considerar essas pessoas negligenciadas para empréstimos.
“Nosso objetivo é contratar estrelas, pessoas da melhor qualidade e dimensionar nossa equipe para ter a capacidade de atender até 10.000 novos clientes por dia.” Liebmann não divulga métricas financeiras do alt.bank, nem a avaliação da empresa após a rodada.