Negócios

América Latina destaca-se como uma região mais lucrativa do que a Ásia

Pesquisa da LADW, representante do setor industrial alemão, destacou países como Brasil e Argentina com Ebitda maior que o da China e outros países emergentes asiáticos. Entenda o que especialistas falam sobre o assunto.

Uma pesquisa da Comissão para América Latina da Economia Alemã (LADW) com a consultoria McKinsey revelou que empresas no Brasil e em outros países da América Latina podem ser mais lucrativas que em mercados asiáticos.

Pode-se afirmar isso devido ao resultado do Ebitda, sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization. Ou seja, ao traduzir, lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização, também conhecido como Lajida. 

Esse índice é usado para avaliar a realidade financeira de empresas com capital aberto, as quais o capital social é formado por ações negociadas livremente no mercado. O dado é de extrema importância para investidores, principalmente, já que é uma medida mais precisa de análise da saúde de um negócio. 

Foram analisadas milhares de empresas em todo o mundo entre os anos de 2000 a 2017 e o resultado foi de 14% para o Brasil e 18% para a Argentina, sendo que países como Malásia e China obtiveram 11% e 8%, respectivamente. 

Isso significa que empresasdo Brasil e da Argentina trouxeram mais lucro do que empresas da China, país que possui um grande mercado quando o assunto são indústrias. Além disso, a pesquisa apontou superioridade da América Latina se comparado com outros países emergentes do continente asiático.

A LADW, responsável pelo estudo, representa todo o setor industrial alemão e isso significa muito para o Brasil e os países da América Latina que se destacaram no estudo. Já que a pesquisa auxilia na tomada de decisão para expansões, novos investimentos e um crescimento de mercado de companhias alemãs dentro dessas regiões. 

A voz de especialistas

Para analisar o que esses dados representam na prática, João Alfredo Lopes Nyegray, especialista em Negócios Internacionais e professor dos cursos de Relações Internacionais, Comércio Exterior, Administração e Economia da Universidade Positivo, concedeu uma entrevista ao LABS. Além de explicar os aspectos econômicos que levaram a América Latina a conquistar estes números, o especialista detalhou o impacto que o resultado pode ter para os países da região. 

1. Qual o impacto que esse estudo pode trazer para os países da América Latina?

Bem, a princípio esse estudo deve não apenas servir como base para reforçar a presença de empresas que já estão aqui, mas deve aumentar o interesse daquelas que ainda não vieram para cá. Existem muitas áreas pouco exploradas, ou mesmo setores onde a concorrência é muito menor do que em outros locais do mundo, em especial na Ásia. O fato de os países latinos terem sido – e ainda serem em grande maioria – economias fechadas, fez com que muitos setores crescessem com baixa concorrência.

Hoje, quando muitas dessas economias fechadas iniciaram seus processos de abertura, esses segmentos de baixa concorrência despontam como oportunidade de investimento. Um exemplo pode ser o setor aéreo brasileiro, dominado por três ou quatro grandes players. Havia até pouco tempo atrás a necessidade de capital nacional para que essas empresas operassem em nosso mercado. Finalmente, a partir de maio, foi liberada a atuação de empresas de capital 100% estrangeira por aqui, o que inclui a possibilidade de que essas empresas ofertem voos domésticos. Com isso, um setor até então caracterizado pela baixa concorrência pode tornar-se mais disputado. O mesmo pode e deve ocorrer em outras áreas.

2. Você acredita que países da América Latina podem ser mais lucrativos para investidores estrangeiros do que regiões como a Ásia, por exemplo? Se sim, justifique.

Acredito que, em determinados segmentos, os países da América Latina podem ser sim mais lucrativos. Isso se dá, em primeiro lugar, pela baixa concorrência em alguns setores, como comentado anteriormente. Em outro ponto, a maior lucratividade pode ser explicada pelo crescimento do consumo e ainda pela elevação da renda em vários países como Peru e Colômbia, por exemplo. Ambas as coisas estão muito relacionadas. Quando considerados em conjunto, a menor concorrência, o aumento da renda da população e o aumento do consumo, leva-se a uma maior lucratividade.

Além disso, existem oportunidades específicas para demografias específicas: pessoas das classes C e D também querem consumir, a questão é que lhes sejam ofertados produtos e serviços compatíveis com sua capacidade de pagamento. Até então, quando se pensava em atender a tais públicos, imaginava-se produtos baratos e de baixa qualidade. No entanto, a tecnologia e a produção em escala permitem produtos acessíveis e de qualidade maior. Também por isso, setores intensivos em tecnologia, seja para produção de itens acessíveis, seja para a produção de itens ou prestação de serviços inovadores, apresentam as maiores oportunidades de lucros elevados.

3. Em sua opinião, pontos vistos como negativos na América Latina, como corrupção ou segurança, por exemplo, podem interferir na decisão de investidores estrangeiros para aportes nos países daqui? Se sim, qual o tipo de impacto?

Sem dúvida. Corrupção, insegurança e ainda outros fatores como alta interferência do governo em assuntos privados, regulamentações excessivas e burocracia são grandes entraves ao crescimento dos países latinos. Por isso, a abertura e a liberdade econômica são tão necessárias para o crescimento da região. Se considerarmos apenas o comércio exterior brasileiro, por exemplo, temos mais de 3.600 regras aduaneiras diferentes, procedimentos repetitivos e desnecessários e uma grande quantidade de órgãos intervenientes. Tal qual a corrupção, toda essa burocracia também é considerada um risco, uma vez que obriga as empresas a dispender tempo e recursos para cumprir com regulamentações que nem sempre fazem sentido.

Assim, a diminuição do risco país das nações da região passa, necessariamente, por maior liberdade e abertura. Empresas que querem internacionalizar para cá tendem a considerar todos esses indicadores: risco país, risco comercial, burocracia, tributação, interferência do governo nos assuntos privados entre outras preocupações. Assim, os pontos negativos da entrada nos mercados latinos podem ou afastar os investimentos daqui ou fazer com que as empresas optem por formas de entrada que envolvam um menor comprometimento de recursos. Por exemplo, se é muito arriscado investir diretamente no Brasil – seja para montar aqui uma fábrica seja para estruturar um escritório ou rede de distribuição – as empresas tendem simplesmente a exportar para cá, pois os riscos da exportação são muito menores do que os riscos dos investimentos diretos. Um outro risco que se deve notar é a guerra comercial entre EUA e China. Uma vez que os chineses são grandes parceiros comerciais de vários países da América Latina, uma eventual desaceleração do gigante asiático poderia interferir nas economias do nosso continente.

4. Você considera que empresas estrangeiras devem mirar na América Latina para expansão e investimentos?

Certamente que a maior presença na América Latina é fator chave para expansão de empresas não somente europeias, mas também asiáticas. As perspectivas de crescimento dos países são boas: cerca de 2% em 2019 e aproximadamente 2,5% em 2020. Além disso, muitos países da região têm realizado reformas em relação às próprias economias e políticas fiscais. Outras reformas foram feitas no sentido de tornar o ambiente de negócios mais favorável, diminuindo o prazo para abertura de empresas e simplificando o pagamento de tributos. Outro ponto importante foi divulgado por um relatório recente da CEPAL (Comissão Econômica Para a América Latina e o Caribe), que projetou que a região pode ter uma população de quase 800 milhões de pessoas até 2061. Assim, aquelas empresas que entrarem e se estabelecerem aqui pelos próximos anos podem beneficiar-se dessa onda de crescimento.

O potencial da América Latina

Além de destacar a América Latina com lucratividade maior que a Ásia, o estudo também trouxe outros dados que demonstram esse crescimento e que é possível fazer investimentos de sucesso nos países latinos.

Segundo a LADW, as taxas de crescimento dos rendimentos na América Latina variam entre 2% a 2,5% por ano e, mesmo sendo abaixo do mercado, a região é considerada uma ótima opção de investimento com grandes oportunidades de expansão e lucratividade a longo prazo. 

Para quem deseja aproveitar todo esse potencial, é interessante focar em segmentos que estão em alta entre a população latino-americana. Como, por exemplo, a área digital que prevê que em 2020, a América Latina terá 595 milhões de smartphones de acordo com levantamento feito pela Ericsson, intitulado Mobility Report.

Além da ascensão da classe C, principalmente no Brasil, que faz com que as intenções de compra aumentem e tragam um olhar promissor para o futuro dos negócios na região.

Então, é fato que a América Latina está crescendo e deve ser avaliada entre os investidores como uma ótima região para os negócios, porém, com objetivo de lucro a longo prazo para aproveitar todo o potencial de mercado atual e futuro.