Carga sendo embarcada em um avião.
Foto: Jaromir Chalabala/Shutterstock
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Logística na América Latina: o que esperar em meio à pandemia de coronavírus

Se a escalada do novo coronavírus continuar, forçando um período mais longo de isolamento, a prioridade de transporte será das cargas essenciais

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A pandemia do coronavírus já está mudando o comércio eletrônico e a logística na América Latina. As proibições de viagens e várias outras medidas de isolamento social, auto-impostas ou não, bem como o fechamento de lojas físicas, estão levando os consumidores a comprar muito mais online. Para os varejistas, uma das muitas questões é como as restrições de circulação afetarão os fluxos logísticos–essa questão é especialmente crucial no momento em que a China está retomando suas atividades.

Apesar de liberado, o tráfego de cargas foi indiretamente afetado por restrições oficiais às chegadas de passageiros, o que reduziu drasticamente o número de vôos em vários países. O comércio eletrônico internacional é o mais impactado, pois depende do transporte de mercadorias no andar inferior das aeronaves com passageiros.

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No Brasil, as três maiores companhias aéreas (Gol, Latam e Azul) cancelaram a grande maioria de seus voos e firmaram um acordo com a Anac para manter um número mínimo de vôos dentro do país. Começando neste sábado (28), os 14.781 voos domésticos semanais foram reduzidos para 1.241 no país.

Para toda a região, a maioria dos vôos internacionais será suspensa em abril, e a medida poderá ser estendida se a taxa de contágio do coronavírus não diminuir. A Aeromexico reduziu seus vôos internacionais em 50%, e a Avianca colocou 95% de sua frota no chão.

Em 20 de março, o governo federal brasileiro emitiu um decreto incluindo o serviço postal em uma lista de “atividades essenciais” que são “indispensáveis ​​para atender às necessidades urgentes da comunidade”, garantindo a continuidade de sua operação durante a pandemia.

Em um de seus últimos boletins, porém, o Correios afirmou que as entregas estão sendo feitas em lotes, ou seja, que os pacotes estão sendo acumulados para serem entregues com menos frequência e que o pagamento de compensações por atrasos na entregas de encomendas nacionais e internacionais está suspenso. Ao LABS, o Correios informou que “está acompanhando o movimento do mercado e, se necessário, aplicará ações para atender novas demandas”.

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A Receita Federal do Brasil emitiu novos regulamentos com o objetivo de simplificar os processos de liberação para importadores com certificações de Operadores Econômicos Autorizados (OEA) no Brasil. Serviços como FedEx, DHL e UPS possuem esse tipo de certificação no país.

O que esperar a partir de agora?

Em um webinar, Diego Rodriguez, especialista em logística da consultoria Americas Market Intelligence (AMI), disse que a América Latina está prestes a sentir o maior impacto do COVID-19 na logística e que as empresas devem estar preparadas para isso.

À medida que supermercados e farmácias reforçam suas vendas por telefone ou pela Internet, e os aplicativos de entrega continuam funcionando, com promoções como entregas gratuitas para idosos e pessoas nos grupos de risco COVID-19, mais e mais consumidores latino-americanos são apresentados a novas maneiras de consumir. Ao mesmo tempo, a falta de demanda por outros produtos não essenciais e as medidas de isolamento já estão afetando as empresas, incluindo as de transporte.

Os atrasos na alfândega latino-americana estão começando, à medida que a força de trabalho das agências governamentais é reduzida por causa de funcionários doentes e licenças de trabalhadores com alto risco de contágio. Nesse cenário, Rodriguez diz que as empresas com seus próprios ativos estão melhor preparadas para atender clientes varejistas que mudarão o transporte de seus pacotes para frete marítimo.

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Nesse contexto, também há a possibilidade de que mais companhias aéreas voem apenas para transportar cargas, como a American Airlines e a Delta Airlines têm feito nas rotas entre os EUA e a Europa.

Esperamos ver o mesmo acontecendo na América Latina, com as empresas vendo isso como uma oportunidade de gerar receita enquanto a maior parte de sua frota está no chão

Diego Rodriguez, especialista em logística da AMI.

Esse movimento temporário, no entanto, pode encarecer o transporte aéreo de cargas para o e-commerce. Além disso, também pode haver, em algum momento, o represamento de pacotes, já que nos próximos meses as companhias aéreas priorizarão produtos essenciais, como equipamentos e suprimentos hospitalares para conter a pandemia.

Ao mesmo tempo, as grandes redes de varejo latino-americanas estão se apressando em adaptar suas operações após forte aumento na demanda em seus canais de comércio eletrônico e o fechamento de suas lojas físicas. Algumas dizem que já estão chegando a sua máxima capacidade para vendas online, enquanto outras, principalmente as de tamanho médio, não estão atendendo todos os pedidos –  o que sugere que os comerciantes internacionais podem ser, sim, uma alternativa para abastecer o mercado doméstico no Brasil, por exemplo.

Embora possa levar algum tempo, a demanda por produtos não essenciais será retomada em algum momento no futuro próximo.

Uma pesquisa realizada pela Qualibest, a pedido da fintech de pagamentos EBANX, ouviu 1.100 consumidores brasileiros sobre seus hábitos de compras online durante a epidemia. No total, 60% dos entrevistados responderam que comprarão produtos on-line com mais frequência.

Os itens mencionados primeiro são os essenciais – alimentos e bebidas (63%) e produtos de saúde e medicamentos (58%) –, mas segmentos como cosméticos e perfumes (45%), livros (44%), moda e acessórios (43%) e eletrônicos (41%) aparecem fortemente nas escolhas desses consumidores para as próximas semanas.

Após a pandemia, Rodriguez também espera que os governos latino-americanos revisem suas operações alfandegárias. “Tudo isso mostrará às alfândegas latino-americanas a importância de reduzir processos manuais e a apresentação de documentos físicos para liberação de cargas. Nos próximos 12 a 24 meses, esperamos ver organizações alfandegárias implementando plataformas eletrônicas para facilitar esses processos”, avalia o especialista da AMI.

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