Com a proposta de conectar geradores de energia renovável a consumidores finais por meio de um marketplace e planos de assinatura, a startup brasileira Nextron Energia acaba de estrear oficialmente no mercado impulsionada por uma rodada Seed de US$ 2,2 milhões (cerca de R$ 11,5 milhões) liderada pelo Valor Capital Group e seguida pelo fundo de venture capital Barn Investimentos.
Fundada há apenas seis meses por Ivo O. Pitanguy e Roberto G. Hashioka, a Nextron se valeu da entrada em vigor, em janeiro desse ano, da Lei 14.300, que instituiu o Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE), além do Marco Legal da Microgeração e Minigeração Distribuída e o Programa de Energia Renovável Social. Em síntese, a lei aprimora as regras da Geração Distribuída e amplia o acesso de participantes na geração e consumo de energia renovável.
O SCEE é um sistema no qual a energia produzida por uma unidade consumidora (pessoa física ou jurídica) é cedida, por meio de empréstimo, à distribuidora local e posteriormente compensada com o consumo de energia elétrica dessa mesma unidade. Em outras palavras, o consumidor de energia elétrica instala um gerador em sua residência ou comércio – como painéis solares para geração de energia solar, por exemplo – e a energia gerada nesse processo é usada para abater o consumo de energia elétrica da própria unidade. A energia solar gera “créditos de energia renovável” que, por sua vez, geram economia na conta de luz no fim do mês.
Pitanguy explica que 70% do mercado de consumo de energia do Brasil é servido pelo chamado mercado cativo, pelas distribuidoras e concessionárias locais; e 30% é servido pelo mercado livre de energia, acessível aos grandes consumidores de energia, como fábricas e shoppings, que compram energia diretamente do gerador. A Nextron quer fazer a ponte entre o “pequeno consumidor” e os geradores de energia renovável, facilitando o acesso ao sistema de compensação.
A solução de Pitanguy e Hashioka foi desenvolver um marketplace e uma interface para conectar os consumidores finais (residências ou estabelecimentos comerciais) que não têm condições de instalar um painel solar eu seus telhados com usinas de energia renovável. A Nextron não vende energia, e sim créditos de energia. Funciona assim: a produção das usinas de energia renovável é contabilizada pelas distribuidoras em créditos; esses créditos são disponibilizados pelas usinas no marketplace da Nextron, que os comercializa e informa a distribuidora que os créditos estão sendo utilizados por determinadas unidades consumidoras, para abater o valor da conta de energia elétrica.
Para viabilizar esse processo, a Nextron optou por trabalhar com um modelo de assinatura, em que o valor pago pelo cliente é calculado de acordo com o volume de energia consumida. A plataforma passa a ser responsável pelo pagamento da fatura de energia junto à distribuidora, enquanto o consumidor paga apenas a assinatura da Nextron. Segundo a startup, uma assinatura pode reduzir a conta de luz em até 20%.
“A Nextron simplifica o acesso a energia renovável e, ao mesmo tempo, faz a interface com a distribuidora para o consumidor ter o desconto na conta no fim do mês. Para o gerador, nós fornecemos a possibilidade de rentabilizar a usina, além de reduzir o risco operacional, porque ele não precisa se preocupar com a venda dessa energia, com a alocação dos créditos para os clientes – ele pluga na nossa plataforma e nós somos o facilitador da distribuição dos créditos de energia”, explicou Pitanguy.
Segundo os fundadores, o pano de fundo para a criação da Nextron é a urgência de rever a matriz energética do Brasil, 70% dependente de hidrelétricas. “Quando não tem chuva, o país recorre às termelétricas, que são altamente poluentes, e o custo da energia sobe, quer dizer, estamos poluindo e pagando caro”, comentou Pitanguy. “A expectativa é que o marketshare de geração distribuída solar no Brasil passe de 5% para 30% nos próximos 10 anos”, acrescentou Hashioka.
Atualmente, a startup conta com o fornecimento de duas usinas fotovoltaicas, uma no Mato Grosso do Sul e outra no Rio de Janeiro. A expectativa é de que, até o fim do ano, a empresa possa oferecer em torno de 200 Megawatts, o suficiente para abastecer cerca de 36 mil clientes (considerando clientes que tenham um consumo médio de energia elétrica mensal em torno de mil reais). O aporte Seed vai ser investido na ampliação da equipe, especialmente os times de tecnologia e novos negócios, e nas áreas de produto, marketing e comercial, para alavancar a aquisição de clientes.
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Resultado da experiência acumulada pelo sócios fundadores – Pitanguy trabalhou durante 15 anos no mercado de energia renovável nos Estados Unidos, Europa e Brasil, enquanto Hashioka fez carreira no Vale do Silício e na Europa –, a Nextron chamou a atenção do Valor Capital Group pela proposta B2B2C voltada para energias renováveis. “Geração distribuída (GD) não é novidade no Brasil, mas o mercado deve encarar novo patamar de crescimento alavancado pela nova lei 14.300 e pela crescente demanda por fontes renováveis de energia”, disse Beatriz Madeira, senior associate do Valor Capital Group.
“Vimos uma oportunidade grande de ser uma camada de software em cima das distribuidoras, de ser uma espécie de distribuidora virtual do país para energias renováveis através de um marketplace alavancado por modelos de machine learning e inteligência artificial possibilitando um serviço personalizado de forma simples, segura e escalável”, concluiu Hashioka.