Oriunda de um mercado carente de tecnologia e digitalização, o de fretamento, a startup espanhola BusUp usará parte de um aporte de €5 milhões – liderado pelo fundo mexicano Proeza Ventures, fundo early-stage de capital de risco especializado em mobilidade na América Latina, e pelo fundo de São Francisco Autotech Ventures, que conta com investidas como a americana Lyft –, para expandir sua atuação no Brasil, seu maior mercado.
Fundada em 2016 por três espanhóis, Eva Romagosa, Alex Canals e Rui Stoffel, e por um brasileiro, Danilo Tamelini, a BusUp iniciou operações no Brasil em maio de 2018. Hoje, opera em outros três países, além da Espanha: Portugal, Peru e Estados Unidos. Ao LABS, Tamelini conta que o próximo destino é o México.

“Estamos na fase final de negociação para seguir para a Cidade do México e região,” afirma. A BusUp não possui ônibus próprios, mas trabalha com mais de 150 operadores de mobilidade nas regiões em que opera, com foco em serviços de deslocamento para grandes empresas e eventos.
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Como a BusUp funciona
Com contratos que giram em torno de R$ 2 milhões ao ano, empresas como Accenture, Mercado Livre, Siemens, Nestlé, Louis Vuitton e DHL e megaeventos como Rock In Rio e Lollapalooza, são alguns dos clientes da startup espanhola.
“Fazemos desde a contratação de uma empresa de ônibus homologada por nós para fazer a operação [de fretamento] até o atendimento ao cliente,” resume Tamelini. Agregando tecnologia ao serviço de transporte, o executivo conta que a startup realiza desde a otimizacão de rotas e adequação do porte dos veículos até relatórios de indicadores para que as empresas clientes tenham acesso a métricas como controle de embarque e frequência de passageiros.
Do lado do usuário final, o sistema conta com aplicativo próprio, para que o passageiro consiga acessar sua rota até o ponto de embarque e informações como tempo até o destino.
Segundo Tamelini, as empresas que terceirizam suas operações de fretamento à startup têm uma redução de custos de até 40%. Isso se deve a fatores como a redução do número de rotas via otimização logística, a adequação do porte de veículos, a economia por conta da gestão integrada da atividade e o compartilhamento dos veículos entre funcionários de empresas diferentes.
“Somos a primeira empresa de fretamento a compartilhar o transporte entre as empresas. O nosso sistema permite o compartilhamento de um mesmo ônibus entre as empresas e elas pagam proporcional ao seu uso,” conta. Ao vender os assentos ociosos para otimizar um mesmo veículo e rota, a BusUp consegue gerar ganho econômico e repassa parte desse valor para a empresa, já que 35% é revertido em desconto na fatura do cliente.
“Hoje, a gente é líder em transporte de empresas em Portugal. Estamos em praticamente todos os condomínios empresariais da região metropolitana de Lisboa e compartilhamos rotas dentro desses condomínios.” Com a pandemia, o modelo de compartilhamento foi temporariamente suspenso. “Agora, os carros de compartilhamento que temos são para clientes fabris ou centros de distribuição. Fazemos a gestão do compartilhamento [de transporte] para empresas que já trabalham no mesmo ambiente.”
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Tamelini conta que os clientes do setor de serviços, como bancos e empresas de tecnologia, ainda estão operando em sua maioria no regime de trabalho remoto. Mas outras empresas como de serviços essenciais, indústrias e serviços de distribuição para o e-commerce – clientes como Mercado Livre e DHL – que não contam com essa alternativa, optaram por contratar o serviço de fretamento da BusUp, justamente para evitar a exposição de seus funcionários ao transporte público. “Para poder controlar a lotação desse veículo, muitas empresas clientes estão operando com 50% de ocupação [dos veículos],” relata.
Além do modelo end-to-end, no qual realiza toda a gestão do fretamento e terceiriza as operadoras de mobilidade, a BusUp também oferta um modelo de SaaS (software as a service), em que executa o gerenciamento do transporte utilizando sua tecnologia. Isso porque, segundo Tamelini, algumas regiões do Brasil dispõem apenas de um ou dois operadores de transporte.
“Nesses casos, nós não fazemos a contratação do operador, mas fazemos o sistema. A empresa cliente nos coloca como gestores do contrato e fazemos toda a estrutura utilizando o operador [de mobilidade] com quem ela já trabalha.” O modelo end-to-end, segundo o executivo, é o que tem maior demanda nos mercados em que a BusUp opera.
De olho nas novas configurações de trabalho, o executivo revela que a BusUp também prepara uma nova solução mirando o modelo híbrido. “Desde o final do ano passado estamos adaptando a nossa plataforma para atender em modelo híbrido. Estamos chamando de fretamento flexível. Vamos dar a oportunidade das pessoas agendarem os dias que elas vão utilizar o veículo naquela semana e iremos determinar a rota conforme o agendamento.”
“Não será algo just in time, mas um on demand programado. As pessoas poderão solicitar os dias de uso em determinada semana na nossa plataforma e saberemos exatamente quem vai usar para conseguir otimizar a rota”. A solução deve ser lançada em meados de março.
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Por que a BusUp escolheu a América Latina
Desde a sua fundação em 2016, a BusUp afirma ter trabalhado com mais de 100 empresas e transportado 500 mil passageiros nos países em que opera, além de ter crescido cinco vezes ao ano. A rodada Série A anunciada em fevereiro foi a quarta captação da startup que, até o momento, levantou cerca de €8,5 milhões. O objetivo geral para 2021, segundo a empresa, é aumentar ainda mais o faturamento e portfólio de clientes.
Com R$ 10 milhões destinados ao mercado brasileiro, a startup vai investir em marketing e estruturação de time e pretende crescer, em 2021, cinco vezes mais do que no ano passado. Operando em São Paulo, Minas Gerais, Paraíba e Goiás, Tamelini revela que a empresa pretender chegar a pelo menos mais cinco estados até o final do ano. “Os que estão em fase mais adiantada são Bahia, Pernambuco, Santa Catarina, Paraná e Distrito Federal,” conta.
Os busuppers – como são chamados os funcionários da empresa – também cresceram. A startup encerrou 2020 com um time global de 56 pessoas, duas vezes mais do que em 2019. Para 2021, a meta é contratar pelo menos mais 30 colaboradores. No Brasil, o time da BusUp conta com 16 funcionários.
Já para os outros países da América Latina, a startup mira a abertura no mercado mexicano, enquanto concentra esforços em potencializar sua operação no Peru. Tamelini conta que a startup fechou parceria com uma empresa operadora de mobilidade peruana em 2020 e está prestes a iniciar a operação na região metropolitana de Lima, em um dos maiores centros empresariais da região, Macropolis, situado no distrito peruano de Lurín.
A escolha pelos países latinos é fruto de parcerias estratégicas, conta o executivo. “Cada lugar tem muitas particularidades locais quando se fala de transporte privado. Não é um modelo de botar tecnologia lá e pronto. Por isso seguimos muito focados nas alianças entre BusUp e parceiros locais. No Peru, assim com no México, é a mesma situação”.