Neste ano, com as diferentes fases de implementação do open banking no Brasil, uma das grandes apostas do mercado é o chamado agregador de contas, que permite que usuários conectem diferentes contas bancárias em uma mesma plataforma. O potencial de um serviço como esse é algo antecipado pelo aplicativo de finanças pessoais Olivia desde 2018, ano em que a fintech criou sua solução para empresas, o Bob.
“A gente vem comendo nossa própria ‘comida’. Como no Brasil não havia open banking regulado, tivemos de criar o Bob. O aplicativo Olivia se nutre do Bob. Construímos ele para a [nossa] própria operação, mas vimos que tinha uma demanda crescente de outras empresas para que elas também pudessem fazer o serviço de agregação de contas, entre outros. Então ofertar a solução para clientes parceiros foi um processo natural,” explica Lucas Moraes, cofundador da fintech, em entrevista ao LABS.
O Bob usa inteligência artificial para oferecer quatro tipos de serviços aos parceiros: agregação de contas, limpeza de inconsistências nas informações das transações, categorização dessas transações financeiras e extração do perfil de comportamento financeiro do usuário.

Com cinco milhões de contas conectadas – entre usuários finais do aplicativo e das empresas parceiras – Moraes revela que a fintech, que iniciou operações no Brasil em janeiro de 2020, pretende dobrar esse número, chegando a dez milhões de contas até o fim do ano. Hoje, a participação de usuários finais na estratégia da Olivia é de 20% (um milhão de contas), enquanto 80% são contas oriundas de parceiros como Credicard, BV e Íon, o aplicativo de investimentos do Itaú.
O número de parcerias também deve crescer, atingindo quarenta conexões com instituições ainda em 2021. Hoje, a Olivia tem parceria com vinte e duas empresas. Na estratégia B2B, a principal para a empresa, Moraes revela que o foco será embarcar a tecnologia da Olivia sobretudo em corretoras e em carteiras de serviços digitais, como Uber e iFood – serviços com maior recorrência.
A fintech, que já vinha oferecendo um dos serviços de maior aposta do open banking aos seus parceiros, vai disponibilizar de forma gratuita a agregação de contas, com limite de até dez mil clientes, para as empresas. Para utilizar os outros serviços oferecidos, os clientes contratam o software como serviço (SaaS), pagando a Olivia por cada conta ativa. “Entendemos que [o agregador de contas] é um serviço que será mais commoditizado. Quem conseguir ir além da conexão, acho que vai ser o grande vencedor [no contexto do open banking]. É uma oportunidade de ir além dos produtos financeiros”, resume.
E é com essa oportunidade em mente que a Olivia deu o seguinte passo para se tornar mais competitiva no mercado. Neste mês, a fintech entrou com pedido junto ao Banco Central para atuar como iniciadora de pagamentos – licença que permite a uma empresa ordenar uma movimentação de valores entre as duas pontas da operação sem tirar o usuário de sua plataforma. Segundo Moraes, isso torna a Olivia apta a, além de recomendar bons hábitos financeiros, transacionar pelo usuário (mediante seu consentimento).
“Em nossa visão, a primeira onda de fintechs que vivemos foi muito baseada em experiência. É um cartão de crédito com menos tarifas, experiência e atendimento muito melhores. A próxima onda, por conta do open banking, vai ser a criação de novos modelos de negócio baseado em dados. Essa é a diferença da Olivia: em vez de oferecer produtos financeiros para o usuário, como eu posso, baseado nos dados dele, oferecer outros tipos de produtos que vão além de serviços financeiros?” diz o executivo, exemplificando o cenário ao mencionar o gerenciamento de assinaturas de streaming. “Eventualmente, a própria Olivia, como iniciadora de pagamentos, pode cancelar uma assinatura [de streaming] que esteja ociosa, que o usuário já não utilize mais”.
Além do objetivo de atingir dez milhões de contas conectadas à Olivia, Moraes conta que o plano é também triplicar novamente as receitas totais em 2021 diante do resultado obtido em 2020 – número que o executivo não revela. Até hoje, mais de um bilhão de transações foram analisadas usando a plataforma para empresas da fintech, o Bob.
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A combinação de inteligência financeira, open banking e iniciação de pagamentos, segundo Moraes, há tempos era vista como o horizonte da empresa. “A nossa visão como companhia sempre foi ser uma empresa de dados e inteligência financeira para ajudar as pessoas a gastar melhor. No fundo, o que está em jogo é quem vai conseguir dominar esse last-mile com o cliente. Eventualmente, você pode conectar suas contas de diferentes bancos na Olivia e iniciar pagamentos por ali sem precisar abrir nenhum desses outros aplicativos. Essa é a grande oportunidade que vai existir: quem vai ser esse hub digital e inteligente para as pessoas”.