Lucas Moraes, cofundador da fintech brasileira Olivia
Lucas Moraes, cofundador da Olivia. Foto: Olivia/Divulgação.
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Para além dos conselhos: app Olivia quer agregar contas e fazer transações pelos usuários

Fintech que oferece inteligência de dados e análise de comportamento para parceiros como Credicard e BV quer chegar a 10 milhões de contas conectadas em 2021

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Neste ano, com as diferentes fases de implementação do open banking no Brasil, uma das grandes apostas do mercado é o chamado agregador de contas, que permite que usuários conectem diferentes contas bancárias em uma mesma plataforma. O potencial de um serviço como esse é algo antecipado pelo aplicativo de finanças pessoais Olivia desde 2018, ano em que a fintech criou sua solução para empresas, o Bob.

“A gente vem comendo nossa própria ‘comida’. Como no Brasil não havia open banking regulado, tivemos de criar o Bob. O aplicativo Olivia se nutre do Bob. Construímos ele para a [nossa] própria operação, mas vimos que tinha uma demanda crescente de outras empresas para que elas também pudessem fazer o serviço de agregação de contas, entre outros. Então ofertar a solução para clientes parceiros foi um processo natural,” explica Lucas Moraes, cofundador da fintech, em entrevista ao LABS.

O Bob usa inteligência artificial para oferecer quatro tipos de serviços aos parceiros: agregação de contas, limpeza de inconsistências nas informações das transações, categorização dessas transações financeiras e extração do perfil de comportamento financeiro do usuário.

“No Brasil ainda tem muito esse paradigma de ser a infraestrutura do open banking, de ser as APIs. Na nossa visão, ‘it’s the AI not the API’. Porque não adianta de nada eu conectar todas as contas do usuário comigo, se eu não entrego valor nenhum para ele. É um jogo muito mais técnico. Quem conseguir aplicar mais inteligência (IA e machine learning) nos dados que virão do open banking, vai conseguir dar esse próximo passo, de criar mais proposta de valor para o cliente”. Lucas Moraes, cofundador da Olivia. Foto: Olivia/Divulgação.

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Com cinco milhões de contas conectadas – entre usuários finais do aplicativo e das empresas parceiras – Moraes revela que a fintech, que iniciou operações no Brasil em janeiro de 2020, pretende dobrar esse número, chegando a dez milhões de contas até o fim do ano. Hoje, a participação de usuários finais na estratégia da Olivia é de 20% (um milhão de contas), enquanto 80% são contas oriundas de parceiros como Credicard, BV e Íon, o aplicativo de investimentos do Itaú.

O número de parcerias também deve crescer, atingindo quarenta conexões com instituições ainda em 2021. Hoje, a Olivia tem parceria com vinte e duas empresas. Na estratégia B2B, a principal para a empresa, Moraes revela que o foco será embarcar a tecnologia da Olivia sobretudo em corretoras e em carteiras de serviços digitais, como Uber e iFood – serviços com maior recorrência.

A fintech, que já vinha oferecendo um dos serviços de maior aposta do open banking aos seus parceiros, vai disponibilizar de forma gratuita a agregação de contas, com limite de até dez mil clientes, para as empresas. Para utilizar os outros serviços oferecidos, os clientes contratam o software como serviço (SaaS), pagando a Olivia por cada conta ativa. “Entendemos que [o agregador de contas] é um serviço que será mais commoditizado. Quem conseguir ir além da conexão, acho que vai ser o grande vencedor [no contexto do open banking]. É uma oportunidade de ir além dos produtos financeiros”, resume.

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E é com essa oportunidade em mente que a Olivia deu o seguinte passo para se tornar mais competitiva no mercado. Neste mês, a fintech entrou com pedido junto ao Banco Central para atuar como iniciadora de pagamentos – licença que permite a uma empresa ordenar uma movimentação de valores entre as duas pontas da operação sem tirar o usuário de sua plataforma. Segundo Moraes, isso torna a Olivia apta a, além de recomendar bons hábitos financeiros, transacionar pelo usuário (mediante seu consentimento).  

“Em nossa visão, a primeira onda de fintechs que vivemos foi muito baseada em experiência. É um cartão de crédito com menos tarifas, experiência e atendimento muito melhores. A próxima onda, por conta do open banking, vai ser a criação de novos modelos de negócio baseado em dados. Essa é a diferença da Olivia: em vez de oferecer produtos financeiros para o usuário, como eu posso, baseado nos dados dele, oferecer outros tipos de produtos que vão além de serviços financeiros?” diz o executivo, exemplificando o cenário ao mencionar o gerenciamento de assinaturas de streaming. “Eventualmente, a própria Olivia, como iniciadora de pagamentos, pode cancelar uma assinatura [de streaming] que esteja ociosa, que o usuário já não utilize mais”.  

Além do objetivo de atingir dez milhões de contas conectadas à Olivia, Moraes conta que o plano é também triplicar novamente as receitas totais em 2021 diante do resultado obtido em 2020 – número que o executivo não revela. Até hoje, mais de um bilhão de transações foram analisadas usando a plataforma para empresas da fintech, o Bob. 

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A combinação de inteligência financeira, open banking e iniciação de pagamentos, segundo Moraes, há tempos era vista como o horizonte da empresa. “A nossa visão como companhia sempre foi ser uma empresa de dados e inteligência financeira para ajudar as pessoas a gastar melhor. No fundo, o que está em jogo é quem vai conseguir dominar esse last-mile com o cliente. Eventualmente, você pode conectar suas contas de diferentes bancos na Olivia e iniciar pagamentos por ali sem precisar abrir nenhum desses outros aplicativos. Essa é a grande oportunidade que vai existir: quem vai ser esse hub digital e inteligente para as pessoas”.

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