Em maio deste ano, o unicórnio argentino de cibersegurança auth0 foi adquirido pela gigante norte-americana Okta por US$ 6,5 bilhões. Com a saída por aquisição, a startup alcançou uma avaliação que empresas de tecnologia do país sul-americano não viam desde Mercado Livre, Globant e Decolar.com.
Em setembro, a Okta divulgou uma receita total de US$ 316 milhões, um aumento de 57% ano a ano. A receita de assinaturas da Auth0 foi de US$ 38 milhões. Mesmo com a aquisição, a startup continua como uma unidade de produto dentro da Okta e mantém as operações de produto e serviço ao cliente de forma separada, como Cassio Sampaio, vice-presidente de produto na Auth0, contou ao LABS.

“As empresas têm produtos semelhantes que chegam ao mercado de forma bastante distinta. A Auth0 sempre construiu produtos que tinham um apelo muito grande com o desenvolvedor de software, para quando uma companhia estava modernizando uma aplicação existente e buscava uma forma de integração com identidade”, explica.
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Enquanto a Auth0 atende startups como a Rappi e a Loft, além de empresas que já nasceram digitais como a XP Investimentos, a Okta tem uma presença forte em cibersegurança de ambientes corporativos e grandes empresas.
A Auth0 foi fundada em Washington, mas tem o DNA argentino pelos dois fundadores: Eugenio Pace e Matías Woloski. “A empresa sempre teve um link muito forte com a Argentina inicialmente e depois com o resto da América Latina. Mas fundamentalmente a Auth0 sempre serviu um número grande de clientes nos Estados Unidos”, comentou Sampaio.
Mesmo assim, mais de 40% das receitas da Auth0 vêm de fora dos Estados Unidos, o que não é usual para empresas de tecnologia, como lembrou o executivo, já que a maioria delas têm receitas concentradas no país da América do Norte. O diferencial da Auth0 está justamente nos grandes clientes que a empresa conquistou no Brasil.
A empresa opera identidade como serviço, ou seja, toma conta de toda necessidade que uma aplicação tem de identificar quem é o usuário que está por trás do login e processar qualquer outro fator de autenticação. As operações de autenticação no aplicativo da Localiza e da XP, como biometria e identificação facial, ou SMS para digitar código, por exemplo, são transações de autenticação e validação de segurança feitas pela Auth0.
A Auth0 lançou, recentemente, um canal de suporte na plataforma da nuvem da Microsoft, a Azure, e anunciou uma solução para identidade para que empresas B2B SaaS integrem e disponibilizem a solução para todos os clientes, ao invés de uma solução específica para cada um.
“Uma aplicação SaaS que tem milhares de clientes tem esse problema de que para cada um desses clientes corporativos que a empresa tem, ela precisa de uma solução de identidade. Se ela monta uma solução para cada um desses clientes, custa uma fortuna em termos de tempo e investimento”.
Ampliando a presença da Okta na América Latina
“A presença da Auth0 já é bastante grande na América Latina e a ideia é usar um pouco dessa base que já existe da Auth0 para aproximar a Okta da região”, disse Sampaio, já que a plataforma da Auth0 é “100% localizável”, com configuração de conta e caixas de login em português e espanhol. A Auth0 tem hoje mais de 100 pessoas em seu escritório em Buenos Aires.
Em uma pesquisa recente da Auth0 global, que ouviu 17 mil profissionais e tomadores de decisão em 12 países, Sampaio explica que foi possível ver o contraste entre a expectativa e a realidade dos clientes nos Estados Unidos e na América Latina, em especial no Brasil e Argentina.
“Percebemos que os clientes na América Latina se sentem menos satisfeitos do que no mercado da América do Norte. Foram mais de mil usuários finais pesquisados na região, por volta de 200 profissionais de TI e da parte de marketing que estão construindo essas aplicações, principalmente Brasil, Argentina e México“, disse.
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Segundo a pesquisa, 87% dos consumidores da região abandonaram algum processo de compra no Brasil com maior grau de insatisfação tentando finalizar o processo de login, contra 85% no México e 80% na Argentina. Na região, os clientes que reportaram maior interesse em usar social login, ou seja, identificação com Facebook, por exemplo, foi de 61%, contra 42% na Ásia e Pacífico e 31% na Europa, “muito por conta de quão prevalente as redes sociais são na América Latina“, lembrou o VP.
Embora os tomadores de decisão de TI/Marketing da América Latina sejam os mais propensos a dizer que oferecem soluções de autenticação (com América Latina respondendo por 54% em comparação com APAC 45%, EMEA 45% e EUA 39%), as empresas em toda a região estão aquém das expectativas do consumidor para todas as tecnologias de login, segundo a pesquisa da Auth0.
“Cerca de 87% dos consumidores reutilizam senhas em diversos sites, o que é um dos maiores problemas para segurança da parte de autenticação porque todos os dias temos uma grande quantidade de vazamentos de dados. Basta que uma senha vaze para que alguém possa utilizar técnicas e acessar outras contas e plataformas. É exatamente esse o valor de um produto como o da Auth0, um cliente que tem Auth0 deveria tentar recomendar aos seus usuários finais a não criar uma senha diretamente, mas que utilizem social login, ou se o cliente vai utilizar uma senha, que tenha uma autenticação adicional”, disse.
Existe um déficit entre a expectativa do cliente brasileiro – em que 62% dos consumidores gostariam de ter autenticação em dois fatores – contra o que é oferecido pelas empresas no país. Segundo a Auth0, menos de 23% das empresas brasileiras oferecem alguma forma de autenticação.
“Se você voltar quatro, cinco anos atrás, o consumidor na internet, em geral, não estava tão consciente do risco que existia com a senha. Só que o número de vazamentos ficou tão impressionante no último período que o consumidor já entendeu que precisa de um gerenciamento de senhas mais rigoroso. A maioria das empresas demora para reagir a isso, o que cria esse problema de confiança entre o consumidor e a empresa, e é um obstáculo enorme para a digitalização dos serviços. Isso vai desde o governo tentando oferecer serviços online, até companhias muito menores tentando processar um pedido de compra, por exemplo”.