O Banco Inter lançou neste mês um marketplace de produtos e serviços com potencial para transformá-lo em algo maior do que um banco digital: um super aplicativo. A novidade também é estratégica para a fintech atingir uma importante meta ainda em 2019.
Em maio deste ano, durante uma conferência com analistas, a fintech externou o desejo de ser o sexto maior banco do país em número de clientes até o fim de 2019. À época, a Banco Inter tinha cerca de 2 milhões de usuários.
Pouco tempo depois, em julho, anunciou que havia fechado o primeiro semestre com 2,5 milhões de clientes. Embora não tenha divulgado um novo número desde então, a fintech já deve estar próxima dos 2,9 milhões.
Para ser o sexto maior do Brasil, o Banco Inter precisa ultrapassar o PAN, o Sicredi, o Omni e o Banrisul, que possuem 4,16 milhões, 4,18 milhões, 4,44 milhões e 4,83 milhões de clientes, respectivamente, segundo dados do segundo trimestre deste ano do Banco Central. Sem contar o Nubank, que passou dos 10 milhões de clientes em junho, mas ainda não atua como instituição financeira apesar de ter autorização para fazer isso desde o fim de 2018.
Esses dados do BC, no entanto, consideram não só quem é correntista, como quem tem algum crédito contrato com essas instituições. No caso do Banrisul, seriam 2,7 milhões de correntistas, um número bem mais próximo do Banco Inter.
Com essa ambição em mente, e sem abrir mão de ser um “banco sem asteriscos”, ou seja, de explicar de maneira transparente e fácil todos os seus serviços e processos, é que a fintech acaba de entrar em uma disputa acirrada.
De um lado, os gigantes chineses e os grandes varejistas querendo oferecer serviços financeiros. De outro, os grandes bancos e fintechs querendo oferecer serviços não financeiros.
Em mundo com mais smartphones do que pessoas, todos querem ser aquele aplicativo que reina absoluto na primeira tela do celular. Não só por uma questão de fidelização do cliente, mas também pela busca de mais receitas.
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Quem tem mais recorrência de usuários, vende mais produtos e serviços, que se revertem em mais ganhos. É a lógica do marketplace levada a novas escalas. Não à toa, essa é uma briga de gigantes. E para entrar nela, o Banco Inter precisará cada vez mais de capital.
Ainda no fim de julho, a fintech levantou R$ 1,25 bilhão em um oferta de ações na Bolsa de Valores que foi arrematada, em sua maior parte, pelo SoftBank, por meio da gestora LA BI Holdco LLC, sediada em Miami. O fundo japonês ficou com 8,1% do Banco Inter após ter desembolsado R$ 760 milhões por 19 milhões de units (grupos de ações).
Em comunicado, o Banco Inter disse que o investimento do SoftBank é de “longo prazo”, ou seja, não mudará nada em termos societários e será usado para a conquista dos objetivos já divulgados anteriormente. Na ocasião, o lançamento do marketplace já estava em gestação.
Recompensas e modelo preditivo são dois dos pilares da nova estratégia
Para comandar o marketplace, o Banco Inter contratou Rodrigo Gouveia, ex-Global Client Partner do Facebook para a América Latina.
Em conversa com o LABS, o executivo disse que a corrida do Banco Inter para ser um super app tem três grandes pontos de atenção:
- O foco contínuo na melhor experiência possível do usuário, com a lógica “one-stop shop” como mantra para o marketplace;
- uma política de recompensas que vá além da tarifa zero típica das fintechs, com soluções como o cash back e outras vantagens não financeiras oferecidas por parceiros estratégicos;
- e uma aposta pesada em business intelligence na construção de um modelo preditivo, que ofereça para o cliente o que ele precisa antes mesmo de ele perceber, com base no seu comportamento de uso do aplicativo.
“O super app nasce pensando nesses três pilares para solucionar”, disse Gouveia ao LABS.
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Antes do marketplace, o usuário podia fazer recarga de celular, pagar o estacionamento rotativo da cidade de Belo Horizonte, sede do Banco Inter, e comprar alguns gift cards. Com a abertura da aba shopping, há cerca de uma semana, o usuário passou a ter acesso a um número muito maior de produtos e serviços.
Já são mais de 50 parceiros financeiros e não financeiros, entre eles Uber, Uber Eats, Spotify, Xbox, ClickBus, Americanas e Submarino Viagens.
Gouveia explicou que dentro da plataforma de investimentos da fintech já era usual a prática do cash back para alguns tipos de investimento. Agora, com o marketplace, há uma gama ainda maior de parceiros oferecendo recompensas financeiras e não financeiras ao usuário do Banco Inter.
Mais 40 milhões de brasileiros na mira do Banco Inter
Fundado há 25 anos pela família Menin, da construtora MRV, o Banco Inter tinha o nome de Intermedium antes. A nova marca veio em 2017, após um profundo processo de transformação digital. Um ano depois, com cerca de 500 mil clientes, foi a primeira fintech brasileira a ter ações listadas na Bolsa de Valores do país, a B3.
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Desde então, o Banco Inter tem olhado tanto para os clientes bancarizados, que estão cansados da falta de transparência e das altas tarifas cobradas pelas instituições financeiras tradicionais, quanto para os desbancarizados.
No segundo caso, são cerca de 45 milhões de brasileiros que, segundo uma pesquisa do Instituto Locomotiva, ou não têm ou não movimentam uma conta bancária há mais de seis meses, porque costumam trabalhar na informalidade.