Operando comercialmente há apenas dois meses no Brasil, a chilena Betterfly, primeira startup e empresa B a alcançar o status de unicórnio na América Latina, tem metas ousadas para o país. Em entrevista ao LABS, o country manager da empresa no Brasil, Caio Ribeiro, disse que a meta da empresa é fechar 2022 com 2 milhões de “vidas” atendidas no país — uma pequena parcela do grande objetivo a médio prazo da startup, de chegar a 100 milhões de vida em toda LatAm até 2025.
Fundada pelos irmãos Eduardo e Cristobal della Maggiora em 2018, em Santiago, a startup originalmente se chamava Burn to Give (uma alusão a calorias gastas e sua reversão em doações). Ao ampliarem o conceito para além da atividade física e da dieta, juntando seguro de vida e outros serviços de bem-estar físico e mental, o nome mudou, em 2020, para Betterfly (em referência ao “efeito borboleta positivo” que a startup espera gerar).
A startup — que não é uma insurtech, mas um marketplace de seguros de vida e serviços de bem-estar — vende esses serviços a empresas que querem oferecê-los como benefício aos seus funcionários. Para isso, as empresas pagam uma mensalidade, por funcionário, à Betterfly. No Chile, essa vai de CLP 2.990 (ou R$ 17,48), no plano básico, a CLP 4.990 (R$ 29,18), no plus. No Brasil, a mensalidade parte de R$ 19,90.
A experiência da Betterfly é gamificada. Geralmente o serviço inicial adquirido por todas as empresas é um seguro de vida, mas outros serviços também acabam sendo combinados ao seguro. A cada boa ação ou hábito adquirido (uma caminhada, uma terapia realizada, e assim por diante), os usuários acumulam pontos (as chamadas bettercoins), dentro de um limite diário. Os pontos acumulados viram duas coisas: aumentos gradativos no valor do seguro, sem custos para a empresa contratante, e doações para ONGs e ações de impacto social parceiras da startup.
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“A ideia é justamente propor um modelo disruptivo de seguro de vida que vai além da proteção financeira para quem amamos. A Betterfly representa um olhar 360° para todo o apoio que as empresas precisam oferecer aos seus funcionários, principalmente agora com o retorno gradativo ao escritório nesse possível pós-pandemia”, explica Ribeiro, ressaltando que a medida que a pauta ESG avança nas agendas corporativas, as empresas precisam encontrar maneiras de engajar seus funcionários nesses objetivos e que a Betterfly é um veículo para isso.
“Ou seja, o que a gente tem como receita, basicamente, é a nossa licença de uso, que as empresas compram [e pagam mensalmente] para os seus funcionários como benefício e, num estágio avançado [com mais clientes e usuários atingindo os pontos possíveis dentro da plataforma], a gente estima que mais de 30% da nossa receita será doada por nós para causas sociais com as bettercoins.”
No Chile, a Betterfly já tinha mais de 2,5 mil empresas como clientes em fevereiro deste ano, quando levantou sua última rodada: uma Série C de US$ 125 milhões liderada pela gestora de capital de risco Glade Brook Capital, seguida por novos investidores — como o Greycroft e o Lightrock (fundo de impacto global focado em growth equity) — e anteriores, como a QED Investors e a DST Global Partners, que lideraram as rodadas Série A e Série B da empresa, respectivamente.
A Betterfly desembarcou no Brasil ainda em junho do ano passado, mas em modo soft launch, atendendo apenas empresas que a procuravam espontaneamente ou ainda subsidiárias de grupos que já atendia no Chile, como é o caso do Santander, por exemplo. A vinda foi viabilizada, principalmente, pela parceira com a Icatu, primeira “fornecedora” de seguros de vida da plataforma aqui.
“Nossa operação comercial local só começou oficialmente há dois meses e a minha vinda para a companhia marca esse momento estratégico de expansão internacional que a companhia está. Estamos em um momento de início de esforços comerciais apresentando nossa solução tanto para pequenas e médias empresas como também para grandes empresas, que tendem a demorar um pouco mais para decidir pela compra de uma solução. Nosso objetivo para 2022 é o de proteger 2 milhões de vidas”, explica Ribeiro. Localmente, a Betterfly há oferece seguro de vida (pela Icatu), meditação (pela Zen), telemedicina, telenutrição e telepsicologia (pela Conexa Saúde), personal trainer online (pela HanuFit).
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Já entre as ONGs locais parceiras da Betterfly que são o Hospital Pequeno Príncipe, ONG Ação Cidadania, Fundação WATERisLIFE e Trees for the Future.
“E, em breve, vamos disponibilizar aos nossos usuários um serviço de adiantamento de salário por dias trabalhados sem nenhum custo adicional”, complementa Ribeiro. Essa é a solução oferecida pela fintech brasileira Xerpa, adquirida pela Betterfly em setembro do ano passado. Essa, aliás, é só uma das várias aquisições da startup pela região.
Munida com mais de US$ 200 milhões em rodadas até agora, a Betterfly está acelerando também via M&A. Além da Xerpa, estão na lista de aquisições da startup quatro empresa do grupo chileno Kunder: HeyPay!, de soluções digitais financeiras; ProSueños, de cartões-presente digitais solidários; Nesto, com modelo dentro o mesmo segmento da Xerpa; além de uma parte da Racional, uma espécie de cofrinho digital.
Os escritórios no Brasil (sim, já são dois) são apenas o segundo passo da internacionalização da startup, que tem em seu roteiro de expansão internacional outros sete novos mercados latino-americanos para alcançar ainda em 2022: México, Colômbia, Argentina, Peru, Equador, Panamá e Costa Rica. No ano que vem, o plano também inclui voos mais distantes, como Estados Unidos, Portugal e Espanha.
“Temos cerca de 100 colaboradores [em São Paulo e Rio de Janeiro], mas estamos em crescimento veloz, tanto que a meta — como continuidade da nossa estratégia local — anunciada para ainda este ano, é dobrar o quadro de funcionários, encerrando 2022 com 150 posições. Como iniciamos num período ainda de pandemia, trabalhamos de forma híbrida e temos colaboradores em outros estados, inclusive”, informou Ribeiro.
Ribeiro aceitou o convite para ser country manager na Betterfly no início deste ano. Até fevereiro, ele ocupava a mesma posição na fintech colombiana Addi e, antes disso, havia trabalhado nove anos na área de anúncios do Mercado Livre.