AliExpress começa a aceitar pagamentos via PIX e abre marketplace para vendedores brasileiros
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Negócios

Marcas globais e gigantes regionais apostam em oferta de produtos híbrida na disputa pelos consumidores na América Latina

Em breve, os consumidores não vão mais se preocupar se estão comprando produtos importados ou nacionais nas plataformas de e-commerce, aponta relatório Beyond Borders, do EBANX

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Já faz quase uma década que o primeiro gigante do e-commerce internacional desembarcou na América Latina: o AliExpress, plataforma do chinês Alibaba Group, iniciou suas operações na região pelo Brasil. Desde então, dezenas de companhias globais mergulharam neste território, em busca dos consumidores da região. Agora, essas plataformas apostam em uma estratégia híbrida que combina vantagens de uma marca global com atendimento local.

Nos maiores mercados da região, empresas como a norte-americana Amazon e os asiáticos Shopee e AliExpress estão atraindo cada vez mais vendedores locais para suas plataformas. Em alguns casos, esses e-commerces já têm mais vendedores nacionais do que internacionais no Brasil, segundo dados fornecidos pela Crawly — empresa de inteligência de dados especializada no desenvolvimento de robôs para coleta e estruturação de dados.

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As descobertas fazem fazem parte do relatório Beyond Borders 2021/2022, publicado pela fintech brasileira EBANX, que também é dona do LABS.

Em resposta à investida internacional, os varejistas locais estão lançando suas próprias “prateleiras de importados”, com marcas como Americanas, Casas Bahia e Mercado Livre já tendo até 20% de seus produtos sendo ofertas internacionais para o público do Brasil.

O relatório aponta para uma nova tendência na América Latina: a hibridização dos mercados de varejo — que está ampliando a gama de produtos oferecidos em plataformas, atraindo pequenas e médias empresas e empresários para o mundo digital. De acordo com a análise em Beyond Borders, a estratégia permite uma competição franca entre players globais e locais.

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“No final das contas, por meio da tecnologia, todos podem ser domésticos, todos podem ser internacionais – então não há tanta divisão”, diz Lindsay Lehr, diretora associada da AMI (Americas Market Intelligence), em entrevista publicada no relatório da EBANX.

Os dados coletados pela Crawly mostram a força dessa tendência no Brasil — o maior mercado de e-commerce da região e referência para os demais países latino-americanos.

Local versus global

A empresa analisou toda a gama de produtos oferecidos por seis diferentes marketplaces no Brasil (metade deles internacional e metade local), no início de setembro de 2021 — AliExpress, Shopee, Amazon, Mercado Livre, Americanas e Casas Bahia. A compilação considerou as primeiras cem páginas de produtos em cada site (já que os produtos mais relevantes estão dentro dessas páginas) e dividiu os produtos e vendedores em domésticos e internacionais.

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No geral, mais de 750.000 itens, vendidos por mais de 230.000 vendedores, foram considerados nesta análise. Neste ponto, os dados mostraram que essa tendência de hibridização é definitivamente mais forte entre os mercados internacionais. A participação dos vendedores brasileiros nessas plataformas chega a 28% do total — e, o mais importante, os vendedores locais já são responsáveis ​​por 64% dos produtos à disposição do cliente brasileiro.

Isso está acontecendo porque a América Latina é uma região de crescimento tão rápido que os comerciantes internacionais não querem apenas vender no exterior, mas veem o potencial do mercado local e, então, fazem essa transição

Lindsay Lehr, AmEricas Market Intelligence (AMI)


Entre os marketplaces locais, a participação dos vendedores internacionais é pequena, atingindo menos de 1% do total, embora já representem 8% dos produtos oferecidos pelas três plataformas consideradas para esta análise. No entanto, as recentes parcerias anunciadas por empresas como a Via (dona das Casas Bahia) e Americanas têm o objetivo de expandir sua oferta internacional e têm potencial para mudar isso no curto prazo.

Global com foco no local

Quando o assunto é preço, em geral, os produtos nacionais são mais baratos do que os internacionais nos mercados globais, pelo menos no caso das três empresas consideradas para a análise da Beyond Borders. Isso também leva à hipótese de um fator econômico envolvido na decisão dos gigantes globais de abrirem suas plataformas para vendedores locais — para que eles possam oferecer opções mais baratas combinadas com entrega mais rápida.

Com sede em Cingapura, o Shopee tem mais vendedores domésticos no Brasil do que vendedores internacionais. O AliExpress, por outro lado, recentemente abriu sua plataforma para vendedores locais no país (pela primeira vez nas Américas), com taxas muito competitivas e frete grátis para pedidos nacionais acima de R$ 502.

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A gigante global Amazon é outro nome que aposta nos vendedores domésticos em sua plataforma, tendo lançado recentemente incentivos de logística e fidelidade para brasileiros venderem em seu mercado.

Ariel Patschiki, CPO (Chief Product Officer) do EBANX, acredita que esse fenômeno tem muito a ver com o estágio de maturidade dos varejistas globais, após passar tantos anos no mercado local na América Latina.

“Não só a experiência de compra melhorou, em termos de logística, pagamentos, estoque — mas o nível de confiança nesses varejistas também aumentou”, afirma Patschiki. “Talvez num futuro próximo o consumidor nem se preocupe de onde vem o produto, se é importado ou não. Porque o nível de confiança nessas empresas internacionais será extremamente alto”.

Uma via de mão dupla

Ao mesmo tempo (mas não no mesmo ritmo), os grandes varejistas locais também estão investindo cada vez mais em ofertas internacionais. Segundo dados da Crawly, essa ainda não é uma estratégia tão popular, já que a participação dos produtos globais nos três sites brasileiros analisados ainda é de 8%. No entanto, há definitivamente espaço para crescer, uma vez que menos de 1% dos vendedores registados nestas plataformas são considerados internacionais.

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No momento, os gigantes locais parecem estar dando início à sua expansão internacional investindo em parcerias específicas. É o caso da Via, uma das maiores varejistas do Brasil (dona das Casas Bahia e Ponto), que fechou recentemente um acordo com o serviço uruguaio nocnoc, conectando o marketplace com mais de 70 mil produtos importados da China e dos Estados Unidos.

Mas será uma questão de tempo para que os atores locais tenham uma parcela mais significativa dos produtos internacionais. A Americanas, por exemplo, tem investido em voos fretados semanais da China e já está entregando pacotes internacionais da Ásia em 11 dias.

“Em geral, os varejistas internacionais terão algumas melhores práticas que os jogadores locais não têm, e vice-versa, para que todos possam aprender uns com os outros”, diz Lehr, da AMI.

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Além da batalha por consumidores e participação de mercado, a iniciativa de participantes globais e locais em trazer vendedores terceirizados para seus mercados também está contribuindo para que PMEs (pequenas e médias empresas) e empreendedores em toda a América Latina se tornem digitais.

As empresas internacionais também estão adotando o objetivo de trazer as pequenas empresas para o espaço online. “Não só poderemos atender os consumidores brasileiros, mas também contribuir com nossa tecnologia para o crescimento das pequenas e médias empresas no Brasil, o desenvolvimento e a digitalização da economia”, disse Yaman Alpata, líder do AliExpress Marketplace no Brasil, durante o lançamento de sua plataforma para vendedores locais.

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O estudo Beyond Borders é publicado anualmente pela fintech brasileira com operações globais EBANX. É possível acessar o material completo (em inglês) de maneira gratuita no site oficial do estudo.