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“Instantâneo” será a palavra de ordem do e-commerce na América Latina na próxima década

Se na última década as palavras que orientaram o mercado de e-commerce na América Latina foram inclusão e digitalização dos meios de pagamento – e com sucesso, visto que a parcela de consumidores latino-americanos usuários do e-commerce saltou de 45% nos anos pré-pandêmicos para 68% em 2021 e a projeção é que o mercado digital da região cresça 30% ao ano até 2025, uma aceleração comparável apenas a dos mercados asiáticos –, agora o foco muda para a usabilidade e instantaneidade.

A análise consta na Beyond Borders, pesquisa do EBANX, fintech que processa pagamentos para empresas globais na América Latina e é também dona do LABS. “Os últimos anos foram centrados na aquisição de consumidores e na própria abertura do mercado digital; agora, o foco estará em fidelizar e monetizar esses clientes”, disse Juliana Etcheverry, diretora de parcerias estratégicas de pagamento e expansão  de mercado na LatAm do EBANX

Fidelizar e monetizar o enorme contingente de novos participantes do e-commerce passa fundamentalmente pela experiência de compra, coroada, claro, com a experiência de pagamento – afinal, não é à toa que as compras em que o usuário opta pelo boleto registram a maior taxa de desistência no e-commerce e que as grandes plataformas passaram a investir pesado em alternativas para aumentar a taxa de conversão do carrinho de compras. 

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Com o salto de digitalização que a região experimentou nos últimos dois anos, a instantaneidade de pagamentos deixará de ser uma tendência para se tornar uma obrigação – em outras palavras, se demorar, o cliente não vai aderir. “No final das contas, a popularidade de novos métodos e serviços de pagamento tem tudo a ver com usabilidade. O consumidor deve ser o centro de tudo. Se a experiência do usuário não for a melhor possível, não vai haver adesão”, diz Etcheverry. 

Gráfico: Beyond Borders/EBANX


A Beyond Borders joga luz sobre quais produtos devem ganhar espaço no e-commerce da região, a exemplo do Buy Now, Pay Later, o famoso crediário remodelado, uma solução que oferece crédito e parcelamento a partir de uma análise quase instantânea, sem passar por instituições financeiras. O BNPL chegou ao Brasil recentemente, com fintechs como a colombiana ADDI, e a tendência é que o modelo dobre de volume na América Latina até 2025, o índice de crescimento mais acelerado em todo o mundo, segundo o relatório Global Payments Report 2022, da Worldpay.

Esse contexto deve impulsionar as carteiras digitais, produto já mais conhecido dos latino-americanos do que o BNPL, que tem crescido cerca de 40% ao ano na região. As carteiras digitais foram desenhadas para a experiência mobile, como o PIX. Mas, para além de um pagamento por QR Code ou aproximação com confirmação quase instantânea, elas também são um agente de inclusão digital de milhões de pessoas sub-bancarizadas ou desbancarizadas, que não têm cartão de crédito nem acesso a outros serviços financeiros. 

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A terceira tendência apontada pela Beyond Borders que deve se fortalecer sobre os pilares da usabilidade e instantaneidade são os super apps, ambientes que concentram vários serviços de compra e pagamentos, apostando na conveniência para o usuário e na retenção. A pesquisa aponta para paralelos entre o cenário da América Latina e o mercado asiático, onde super apps como WeChat (China), Paytm (Índia), Grab (Singapura) e GoTo (Indonésia) abocanharam uma fatia relevante do mercado. 

“É uma população muito semelhante em termos de acesso a serviços financeiros, com alta penetração de meios alternativos de pagamento e baixa penetração de cartões. É um ambiente muito adequado para a estratégia do super app. A ideia é tentar manter o consumidor em um só lugar e dar a ele todas as formas de pagamento e toda a comodidade possível”, disse Rahm Rajaram, vice-presidente de operações e dados do EBANX

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De acordo com a pesquisa, empresas internacionais que desejam operar na América Latina precisam obrigatoriamente de uma estratégia de pagamentos, já que essa será uma das chaves para manter a competitividade. Vale lembrar que em alguns países da América Latina, como México, Colômbia e Chile, as vendas online internacionais crescem acima do e-commerce doméstico. No México, o salto foi de 59% em 2021 – contra 28% do e-commerce local. Na Colômbia o aumento chegou a 45% (versus 15% das vendas domésticas), e no Chile, 37% (acima dos 23% do mercado local). 

Ainda assim, métodos de pagamento em dinheiro, como o boleto, dificilmente desaparecerão por completo na próxima década, seja por um hábito de consumo muito enraizado, seja porque a América Latina é uma região com diferenças regionais acentuadas.

Gráfico: Beyond Borders/EBANX

Brasil

O Brasil, maior economia da América Latina, responde também por 54% do mercado digital da região. Em 2021, esse mercado movimentou US$ 156 bilhões; em 2025, deve movimentar US$ 450 bilhões. 

E como é que os brasileiros pagam por suas compras online? Dados de 2021 mostram que o cartão de crédito doméstico lidera absoluto, sendo usado em 56% das compras. As carteiras digitais vêm em seguida, mas bem atrás, com 12%; e, em terceiro lugar, o boleto, com 10%. 

Vale notar que embora o PIX tenha sido usado em apenas 6% das compras, de acordo com a Beyond Borders, foi o método de pagamento que mais cresceu no ano passado, 332% contra 46% do cartão de crédito. Por aí vemos o potencial desse tipo de pagamento. 

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México

No México, segunda maior economia da região, o cenário é bem diferente: por um lado, os cartões de crédito internacional são o método de pagamento mais usado no e-commerce (41%), também devido à proximidade com os Estados Unidos, que incentiva o comércio transfronteiriço; mas enquanto no Brasil o cartão de débito aparece com apenas 5% e o dinheiro sequer aparece na lista, no México eles respondem por 27% e 14%, respectivamente. 

O que se percebe é que os métodos de pagamento mais modernos, como as carteiras digitais e pagamentos instantâneos, ainda não deslancharam no México como no Brasil. Quando se olha para o crescimento dos métodos de pagamento, a transferência bancária foi a que mais avançou, com 50%, seguido do “bom e velho” cartão de débito, com 41%. 

A Beyond Borders trouxe ainda um panorama da indústria de pagamentos da Argentina, Chile, Colômbia e Peru.

*

O estudo Beyond Borders é publicado anualmente pela fintech brasileira com operações globais EBANX. Para baixar a nova análise do estudo Beyond Borders, clique aqui.

This post was last modified on abril 29, 2022 2:30 pm

Carolina Pompeo

Is a writer and editor for LABS. After graduating from Universidade Federal de Santa Catarina, she has worked as a reporter for newspaper, producer for television and PR. At LABS, she writes about how Latin America can be a good place for innovation and business.

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Carolina Pompeo

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