A vontade de evitar garrafas de plástico levou José Ignacio Parada, advogado formado pela Universidade Católica do Chile, a criar a BioElements em 2014. A startup chilena produz alternativas sustentáveis às embalagens de plástico, papelão e papel.
“Tudo começou com uma biorresina básica que sabíamos que era compostável (feita de materiais orgânicos)”, disse o CEO e fundador da startup ao LABS.
Os primeiros produtos da empresa eram rígidos, como talheres compostáveis e copos para delivery de comida.

A pandemia da COVID-19 certamente acentuou problemas de lixo e embalagens com a explosão dos serviços de delivery. A média de uso de uma embalagem plástica é de seis meses, de acordo com dados de 2015 do Our World in Data. Pelo curto tempo de vida do produto final, o setor de embalagens é o que mais descarta plástico.
A BioElements investiu em pesquisa para desenvolver uma fórmula proprietária para uma biorresina que pudesse produzir embalagens rígidas e flexíveis. No final de 2016, a empresa apresentou o chamado Resin Bio E-8.
“Depois de desenvolver a biorresina, a gente conseguiu mudar o primeiro produto para uma embalagem flexível e biodegradável, que pudesse se degradar não apenas em uma composteira, mas em qualquer outro ambiente”.
As embalagens da startup, quando dispensadas em um ambiente natural, levam entre 15 e 20 meses para se degradar; quando jogadas em um aterro, o processo ocorre entre 16 e 20 meses, sem deixar resíduos tóxicos no ambiente. Um ganho e tanto se comparado aos plásticos tradicionais, que levam aproximadamente 400 anos para desaparecer.

“As matérias-primas são degradáveis em condições aeróbicas, como composteiras, e anaeróbicas, como lixeiras. Isso por conta da ação de um fungo que está em todo lugar, não importa as condições. E a gente conseguiu provar tudo isso”, disse.
A BioElements recentemente recebeu o certificado de Empresa B para empresas que cumprem requisitos de ESG (Environmental, Social and corporate governance).
A empresa também ganhou o Babson Rocket Pitch Chile (um concurso que promove startups disruptivas) em 2017 como um empreendimento que capaz de resolver um problema global. Desde aquele ano, Parada é o diretor executivo da Asociación Gremial Pro Biopolímeros, uma associação comercial chilena que representa empresas que produzem produtos biodegradáveis com a tecnologia da BioElements para o mercado chileno e estrangeiro.
“Como recebemos certificações de não-toxicidade, conseguimos estabelecer alianças para contratos de certificação com diferentes universidades da América Latina como a Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso, no Chile, a Universidade Nacional Autônoma do México e a Universidade Nacional Agrária da Molina, no Peru. Esse é o motivo de termos conseguido atuar em três diferentes mercados, e nós acabamos de expandir para mais dois”.
A BioElements quer ir além das embalagens biodegradáveis para o varejo
A BioElements opera no Chile, Peru, México e recentemente abriu escritórios na Colômbia e nos Estados Unidos. Reinvestindo boa parte de seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento, a empresa agora quer triplicar seu tamanho e alcançar US$ 100 milhões em vendas, com vendas recorrentes de cerca de US$ 30 milhões no ano que vem.
A startup tem um orçamento de P&D de quase US$ 1,2 milhão em 2021 e planeja aplicar isso no desenvolvimento de biorresina para garrafas e embalagens flexíveis destinadas a produtos de contato direto com a comida, como queijo e presunto, por exemplo.

Em 2021, a meta da BioElements é dobrar a receita para US$ 50 milhões. Para isso, Parada aposta em novos produtos e na consolidação da BioElements em mercados em que a startup já está presente, como o México. Em 2020, o país respondeu por quase 30% da receita da startup – fatia que deve subir para 60% neste ano.
No ano passado, a startup desenvolveu uma embalagem para cervejas para a empresa latina de bebidas CVU por meio de um concurso da Endeavor. Agora, Parada faz parte da rede de empreendedores da Endeavor.
O executivo diz que a BioElements não precisa captar recursos agora já que a empresa tem EBITDA positivo. “Nós sempre tivemos fluxo de caixa positivo. Sempre fizemos dinheiro, é por isso que vamos investir não apenas em P&D mas também na empresa”. Ainda assim, uma rodada Série A deve chegar no primeiro trimestre de 2022.
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A empresa tem contratado pessoas para as áreas comercial e de operações e desenvolvimento de produtos. Recentemente, começou uma nova linha de negócios chamada NBO (New Business Opportunities), dedicada ao desenvolvimento de produtos demandados por clientes.
Hoje, a empresa faz embalagens biodegradáveis para 34 clientes, incluindo o Mercado Livre, a Adidas, a Casa Ideas, a Salcobrand, a Sodimac e a Linio. “Nossa ideia é crescer também no mercado B2C [direto ao consumidor] até o ano que vem. Temos produtos que queremos lançar em supermercados. Somos grandes no setor de varejo, mas acho que temos algo a explorar na parte industrial do mercado também”, disse Parada sem detalhar exatamente que produtos a startup está desenvolvendo para o consumidor final.
O mundo dos negócios só quer saber de ESG
Em 2020, mais da metade (54%) dos investidores entrevistados por uma pesquisa da BlackRock disseram que investimentos com foco em sustentabilidade serão fundamentais, e 47% dos entrevistados na América disseram que investimentos desse tipo já são ou serão parte central de suas estratégias de investimentos daqui para frente.
Os entrevistados planejam dobrar os ativos em sustentabilidade em até cinco anos, de 18% de ativos sob custódia para 37%, em média, em 2025. O investimento tendo ESG como critério está relacionado a políticas públicas, mas também tem a ver com a vontade dos consumidores ter acesso a produtos e soluções mais amigáveis ao meio-ambiente, acredita Parada.
“Nossos clientes têm nos dito mais frequentemente que querem encontrar soluções biodegradáveis […] Com a pandemia, isso será um tópico ainda mais importante para governos e empresas, porque também os usuários estão esperando e demandando produtos sustentáveis”, disse o CEO.
Um dos exemplos disso é a explosão de investimentos em food techs que produzem alimentos de base vegetal, como a NotCo e a The Livre Green na América Latina. “Há pessoas que vão começar a pensar não só se a comida é sustentável, mas se a embalagem também é. Então mais e mais empresas de diferentes setores querem nossos produtos.”