O que explica a multiplicação exponencial do valor de mercado de uma empresa em apenas sete anos? O primeiro acerto do grupo fundador da Bitso foi a aposta (a longo prazo) no bitcoin, um ativo cujo valor se multiplicou milhares de vezes.
Daniel Vogel, cofundador e atual CEO, lançou em 2014 uma das primeiras plataformas do mundo para transações de criptomoedas e uma das primeiras fintech do México.
Nem a grande volatilidade que caracteriza esses ativos, nem o fato de não existir um banco central que os respalde, são capazes de dissuadir quem especula com criptomoedas, que são os principais clientes da Bitso. Pelo contrário, a expectativa de que após uma queda aconteça uma recuperação do valor multiplica a atratividade das moedas digitais.
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Em apenas seis anos a empresa chegou ao seu primeiro milhão de clientes. Surpreendente, mas não tanto quanto a conquista do segundo milhão de clientes no ano seguinte.
Seu crescimento exponencial, impensável em um negócio tradicional, atraiu um grupo de investidores que apostou US$ 250 milhões para ver a fintech mexicana seguir crescendo.
Javier Martínez Morodo é o responsável, junto com sua equipe de tecnologia, por traçar as estratégias que levarão a Bitso a atingir 10 milhões de clientes em três anos e a entregar maiores retornos sobre investimentos a seus acionistas e clientes. Além de gerar serviços baseados na tecnologia blockchain, que permitirão o desenvolvimento de serviços financeiros, independentemente da especulação.
Sua incorporação é estratégica. “Vou liderar o desenvolvimento de produtos e serviços financeiros e a expansão na América Latina”, diz. Martínez Morodo trabalhou 11 anos na corretora GBM, fintech que em junho se tornou o terceiro unicórnio mexicano.
“Liderei a estratégia de crescimento da GBM, que a levou a se tornar um unicórnio e a ter mais de um milhão de contas”, diz. Ele conhece a Bitso desde sua fundação, foi, inclusive, um dos primeiros investidores e usuários da empresa.
Verónica García de León – Como uma startup como a Bitso atinge uma avaliação de US$ 2,2 bilhões em sete anos?
Javier Martínez Morodo – Primeiro por causa da tração que ela tem. Hoje temos 2,2 milhões de usuários, número que cresce mais de 10% ao mês. Ao projetar essa taxa de crescimento em novos países e regiões, a massa crítica é muito relevante. Segundo, porque já somos uma empresa lucrativa. Não somos como muitas startups novas cujas despesas e custos excedem as receitas. Em terceiro lugar, porque grande parte da avaliação se deve ao potencial de escalar essas operações regionalmente. Não só no México, onde temos 1,6 milhão de usuários; na Argentina, abrimos há menos de um ano e já temos meio milhão de usuários; e estamos abrindo no Brasil; e amanhã será na Colômbia.
VGL – O que duas fintechs como a Bitso e a GBM têm em comum para alcançar essas avaliações?
JMM – O potencial das empresas de tecnologia de fazer seus negócios crescerem e se expandirem, e sem grandes custos. O que é preciso é ter um aplicativo que é construído uma vez e vendido milhões de vezes.
VGL – Diferentemente dos negócios tradicionais, quais são os elementos críticos na administração de uma fintech?
JMM – A escalabilidade. A semelhança entre a GBM, a Bitso e a Clip, e outros unicórnios, é que todos alcançaram essa escala. A GBM tem mais de um milhão de usuários, a Bitso tem mais de dois milhões. E depois da escala, é a taxa de crescimento, que lhes dá força diante dos investidores e dessas avaliações.
VGL – Qual é o tamanho das margens de lucro?
JMM – Quando a empresa já tem uma equipe de tecnologia, uma infraestrutura completa e assim por diante, e quer saltar de 100.000 usuários para dois milhões de usuários, não há muita diferença nos custos fixos. Se custa 100 e a empresa tem 100 de receita porque tem 100.000 clientes e quer escalar esses clientes para dois milhões, não é preciso aumentar as despesas e os custos fixos. A empresa, que estava em break even [situação de equilíbrio], passará a ter margens de mais de 90%. Essa rentabilidade permite reinvestir esses recursos e ter mais crescimento em marketing e em outros setores.
VGL – Que porcentagem da renda a Bitso reinveste em infraestrutura de tecnologia?
JMM – A regra é que pelo menos 50% do pessoal da empresa seja de tecnologia. Dessa forma mantemos um bom equilíbrio e essa mesma vantagem competitiva.
VGL – Qual é o tamanho da sua equipe?
JMM – Somos uma empresa 100% remota, contamos com colaboradores em mais de 28 países. São 350 colaboradores contratados pela Bitso, no outsourcing [não terceirizados], a maioria deles no México, mas vários na Europa, América, Ásia e até mesmo na África.
VGL – Qual é o sua missão na Bitso?
JMM – Eu sou o responsável, junto com a minha equipe, de continuar desenvolvendo produtos e serviços por meio das nossas plataformas de tecnologia. Estamos prestes a lançar temas inovadores para oferecer a próxima geração de produtos financeiros, além das criptomoedas, usando a tecnologia blockchain.
VGL – Quais serão os primeiros serviços lançados?
JMM – O mais sensato é oferecer contas de poupança no curto prazo, e no médio prazo oferecer crédito.
VGL – Quanto esperam crescer com essas estratégias?
JMM – Vamos fechar o ano com cerca de 3,5 milhões de usuários e em três anos queremos chegar a 10 milhões. Meu trabalho é ver como fazer isso.
VGL – Como vocês lidam com o fato de que no México as criptomoedas não são de curso legal, nem têm o respaldo do banco central ou do sistema bancário?
JMM – Como empresa, somos uma fintech autorizada no México na categoria de instituição de pagamentos eletrônicos. A custódia dos ativos está em Gibraltar. Os ativos não são garantidos por bancos mexicanos, mas por um seguro privado na Europa que os protege contra riscos como hacking.
VGL – Que lições a Bitso poderia ensinar a outras startups e fintechs?
JMM – A de apostar na inovação, na tecnologia e no longo prazo. O crescimento exponencial da Bitso ocorreu nos últimos 18 meses. Há cinco anos as criptomoedas não eram consideradas viáveis e atualmente elas são uma realidade global.
Traduzido por Adelina Chaves