Startup de compra e venda de carros usados fundada pelo argentino Luca Cafici, a InstaCarro escolheu o “buy now, pay later”, modalidade muito semelhante ao crediário já conhecido dos brasileiros, como primeiro produto do seu portfólio de serviços financeiros. Há pouco mais de três meses, a plataforma, que diz ter visto sua receita anualizada atingir R$ 500 milhões em janeiro, passou a oferecer essa possibilidade para parte dos seus mais de 4 mil lojistas.
Por meio da modalidade, o lojista pode comprar um carro e quitar o valor total mais taxas em 30 dias — em alguns poucos casos, a startup também está permitindo um prazo um pouco maior. Entre janeiro e fevereiro, R$ 4 milhões já foram transacionados por meio da modalidade. “E está crescendo muito rápido. Já quase 20% das nossas transações estão ocorrendo por meio dessa modalidade, mas porque estamos limitando. Porém, a demanda é infinita, pensamos que 100% das vendas poderiam ocorrer por meio desse produto”, disse Cafici ao LABS. Ele acredita que, neste ritmo, a InstaCarro pode fechar o ano com R$ 50 milhões em receitas obtidas por meio de nova modalidade.
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Para cada operação, a InstaCarro cobra uma taxa, que começou em 2,5% do valor do veículo e agora está em 3,2%. A ideia de criar a vertical de serviços financeiros faz todo o sentido para a InstaCarro já que a maior parte das empresas que usam a plataforma para comprar carros são empresas pequenas, familiares, que têm dificuldades de acessar crédito vinculados a fluxo de caixa. “A gente tem dado para esse cliente o que os bancos não dão. Conseguimos liberar esse crédito para ele porque ele está há bastante conosco e nós temos ferramentas e dados que os bancos não têm [para avaliá-los], além de um relacionamento, que nos permitem fazer isso”, ressaltou Cafici.
Fundada em 2015, com atuação apenas em São Paulo, a InstaCarro expandiu para outras 16 cidades no ano passado, incluindo capitais. A expansão foi impulsionada pela rodada Série B de R$ 115 milhões anunciada pela startup em agosto do ano passado. Foi também a rodada liderada pelos fundos J Ventures, FJ Labs e Rise Capital que ajudou a InstaCarro a colocar de pé seu primeiro produto financeiro.
Cafici disse ao LABS que a startup já está conversando com fintechs de Banking as a Service (ou seja, que oferece serviços white-label como contas digitais e cartões de crédito) para, ainda em 2022, oferecer tais facilidades aos seus clientes lojistas.
“O que estamos construindo é um ecossistema. Queremos que o lojista possa fazer tudo com a gente, comprar carros, financiar esses carros, ter sua conta, seu cartão de crédito e até mesmo financiar a abertura de uma nova loja”, disse Cafici.
Desde a sua fundação, a startup já movimentou mais de R$ 1 bilhão e gera lucro desde 2019.
Como funciona
O modelo de negócio da InstaCarro é composto pela plataforma e por uma estrutura de atendimento presencial, que conta com lojas físicas e avaliadores. Quando um cliente decide vender seu veículo, pode optar por levar o veículo até uma das lojas físicas ou receber o profissional em casa para a inspeção do veículo, em que são avaliados mais de 150 itens, desde a estética até a mecânica. Com a pandemia, a startup investiu no serviço de avaliação em casa e, segundo Cafici, quase todos os clientes têm optado por fazer a inspeção assim.
É a partir dessa avaliação que a InstaCarro define o valor base do veículo para um leilão online para mais de 4 mil compradores, entre concessionárias e revendedoras. O cadastro do automóvel na plataforma e a organização do leilão são feitos pela própria startup.
A grande sacada do leilão, segundo Cafici, é que não há um consenso geral sobre o valor de um veículo usado. Cada carro, é um carro. O leilão, por sua vez, possibilita que um mesmo veículo receba ofertas variadas de compradores variados, até se chegar à melhor oferta para as duas pontas do negócio. “Tem regiões em que a demanda por determinado carro é maior. Como a plataforma funciona em várias cidades [17 cidades, de seis estados], a pessoa pode vender o carro para um lojista de outra cidade que pode vir a pagar um valor maior pelo veículo”, explica Cafici.
As duas pontas da equação enxergam apenas a InstaCarro. Ou seja, é a startup que interage e paga o vendedor do veículo. Assim como é a startup que oferece os automóveis aos lojistas e conduz a transação de compra com eles. “É um mercado que tem muita informalidade e insegurança, então nós blindamos as duas partes. Se o carro apresentar algum problema depois da compra, que não foi identificado na vistoria, nós nos responsabilizamos. Da mesma forma, se o lojista por acaso desistir da compra, nós nos responsabilizamos.”
Cafici acredita na qualidade do serviço prestado pela InstaCarro para competir com concorrentes que ou nasceram ou chegaram ao país depois da startup. “Temos ótima avaliação no Reclame Aqui e o melhor NPS do segmento. Acho que nosso crescimento prova que nossos clientes gostam do nosso serviço.” A empresa tem 281 reclamações no Reclame Aqui, 277 respondidas, e uma avaliação geral de 8.3.