Sede do Nu México, na Cidade do México
Sede do Nu México, na Cidade do México. Foto: Divulgação.
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Com mais de 2,1 milhões de clientes, cartão de crédito é apenas o começo para o Nu México

Em entrevista ao LABS, o diretor da subsidiária do Nubank, Emílio González, disse que a fintech está crescendo mais rápido lá do que no Brasil, mas que o roteiro de expansão não será necessariamente o mesmo

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Três anos após seu lançamento, o Nu México tem mais de 2,1 milhões clientes e cartões emitidos e está crescendo em um ritmo muito mais rápido do que o Nubank cresceu no Brasil há quase uma década. Segundo o diretor da fintech, Emilio González, o que o neobanco brasileiro já fez é, idealmente, um roteiro possível para o Nu México, mas a subsidiária não seguirá necessariamente os mesmos passos do Nubank.

O cartão de crédito sem anuidade foi o primeiro produto do Nu México em março de 2020. “No fim de 2021, tínhamos 1,4 milhão de cartões, o que significa que emitimos 700 mil cartões entre janeiro e março [uma média de mais de 233 mil por mês]. Ainda não há informações públicas [de fontes oficiais] sobre os bancos tradicionais, portanto, não podemos nos comparar diretamente com todos os outros. Ainda assim, a probabilidade de o Nu ser o maior emissor é alta porque as bases de algumas das maiores instituições, como BBVA e Santander, indicam que eles estavam emitindo cerca de 100.000/110.000 cartões por mês no fim do ano passado”, explicou González.

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Para González, o número de cartões emitidos e um NPS (indicador de satisfação do consumidor) de 94 pontos — algo incomum no segmento financeiro e em qualquer outro — mostra o quão atraente é o produto. “Muito desse crescimento vem organicamente, de pessoas que recomendam o produto para seus familiares e amigos. É um resultado direto do foco contínuo no cliente que temos na empresa.” O Nu México já tem mais de 1 mil funcionários (em dezembro, eram 400), e 60% deles trabalha no suporte ao cliente.

Sede do Nu México, na Cidade do México. Foto: Divulgação.

Em abril deste ano, uma linha de crédito de US$ 650 milhões foi anunciada para “acelerar” a expansão internacional do Nubank no México e na Colômbia. Segundo González, parte importante desse montante vai para o financiamento dos saldos dos clientes da fintech, de maneira a acelerar o crescimento dessa carteira. A linha de crédito foi concedida por Morgan StanleyCitiGoldman Sachs e HSBC, bancos que participaram do IPO do Nubank em dezembro de 2021, no qual a empresa captou aproximadamente US$ 2,8 bilhões.

A chave para a expansão do portfólio do Nu Mexico está na aquisição da Akala, uma Sofipo ou Sociedad Financiera Popular, por quase US$ 3 milhões e que foi liberada pelos reguladores em setembro passado. Com ela, um dos próximos passos mais óbvios do Nu seria oferecer contas de depósito. “No momento, ainda não migramos nosso produto [cartão de crédito] para ela, continuamos operando com outro parceiro. Mas o plano é fazer isso e já estamos no comando das operações da Akala.”

González disse que o Nu Mexico sabe que pode oferecer vários serviços com “uma experiência superior” e que não é segredo que a fintech já está trabalhando nisso. Ainda assim, ele não divulgou qual seria a próxima oferta do Nu México.

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Crescimento mais rápido não significa que desafio do Nu México seja menor

O México responde por 20% da população da América Latina e, de acordo com o último relatório de inclusão financeira (ENIF), apenas 67,8% da população tem acesso a pelo menos um serviço financeiro.

Até certo ponto, as taxas de penetração financeiras mais baixas e a menor concorrência de fintechs indicava que o caminho do Nu México poderia a vir ser percorrido de forma mais rápida do que ocorreu no Brasil. Mais desafios também significam mais oportunidades, mas nem todo mundo parece estar tirando proveito disso.

O último ENIF também aponta que a proporção de adultos mexicanos com contas bancárias aumentou apenas dois pontos percentuais entre 2018 e 2021, para 49,1%, enquanto o uso de cartão para transações maiores do que 500 pesos aumentou para modestos 12,3%.

“Apesar do desafio de acesso (40% dos nossos clientes não tinham um cartão antes), não nos posicionamos como uma solução para a população não bancarizada. A verdade — e esta é uma de nossas principais constatações — é que qualquer pessoa que precise de serviços financeiros é um cliente em potencial do Nu México, mesmo aqueles que já tem acesso a outras instituições e fintechs (…) À medida que a gente expandir nossa oferta de produtos, começaremos a mudar o patamar [da inclusão financeira no México]”, observou González.

Ele reconhece que as coisas estão acontecendo mais rápido para as fintechs latinas hoje do que há uma década atrás.

Emilio González, diretor do Nu México. Foto: Divulgação.

Aprendemos com a experiência do Nubank no Brasil, então não tivemos que começar do zero. Além disso, sejamos honestos, temos muito mais recursos [e espaço regulatório] para começar a testar as coisas mais cedo e investir no modelo desenvolvimento e marketing. E, finalmente, os bancos digitais não são mais uma novidade, então as pessoas estão menos cautelosas em testar essas soluções. Dito isso, a concorrência também é mais acirrada; os bancos tradicionais também aprenderam a lição e melhoraram sua oferta digital.

Emilio González, diretor do Nu México.

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Expansão de portfólio de crédito e mais receita por cliente são chave para chegar a lucratividade

No Brasil, além de contas digitais de pagamento, cartões de crédito e empréstimos pessoais, o Nubank também oferece investimentos — por meio de sua corretora Nu Invest, resultado da aquisição da corretora Easynvest em setembro de 2020 — e diversos serviços in-app por meio de mais de 20 parcerias, como e-commerce , jogos e seguros.

A expansão da carteira de crédito do Nubank no Brasil é vista por analistas como fundamental para que a Nu Holdings alcance lucratividade, pois é um movimento crucial para aumentar sua receita por cliente, ainda longe daquela dos bancos tradicionais — e é claro que um caminho semelhante é esperado de suas subsidiárias.

“Apesar do forte crescimento das receitas ano a ano, nós ainda fazemos seis vezes menos receitas por cliente do que os grandes bancos de varejo”, disse o presidente-executivo e cofundador David Vélez na ocasião da divulgação dos resultados da Nu Holdings, em maio. “Nossas vendas cruzadas ainda são pequenas”.

Anualmente, segundo estimativas de analistas do Morgan Stanley, o Nubank obtém menos de R$ 200 (US$ 37,67) de cada cliente ativo, enquanto seu maior rival, o Itaú Unibanco, recebe mais de R$ 1.200.

A Nu Holdings apurou receita recorde de US$ 877,2 milhões no primeiro trimestre deste ano, um aumento de 226% em relação ao ano anterior, vendo seu prejuízo líquido diminuir de US$ 49,4 milhões para US$ 45,1 milhões. Chegou ao fim de março com 59,6 milhões de clientes nos três países, 78% deles ativos. Sua receita média mensal por cliente ativo subiu para US$ 6,7, de US$ 3,2 um ano antes, mas ainda pode crescer muito mais.