De acordo com Carlos Fernández, CFO da Polymath Ventures, a empresa surgiu muito antes do conceito de venture building se popularizar na América Latina. Criada no final de 2012 por Wenyi Cai, a Polymath se descrevia como uma ‘construtora de empresas’. “Nosso modelo vem evoluindo [desde então], mas nosso foco principal continua sendo a classe média latino-americana [um público-alvo de mais de 310 milhões de pessoas]. Quando começamos, nosso negócio era muito mais offline do que online. Hoje, é quase puramente digital. Estamos construindo mais rápido porque as empresas estão escalando mais rápido também”, disse Fernández em entrevista exclusiva ao LABS.
Tendo co-construído seis empresas na região, a Polymath pretende abrir novos caminhos no mercado brasileiro nos próximos dois a três anos. A empresa também está dando seus primeiros passos nos investimentos para além do seu próprio portfólio.
Concebida em Bogotá, Colômbia, a Polymath abriu um escritório na Cidade do México em 2017. “Sempre tentamos criar empresas capazes de navegar pela região. Então, depois de Bogotá, o salto natural foi o México, mas não nos vemos operando presencialmente em mais de três países da região.” Dito isso, Fernández disse ao LABS que o Brasil é o próximo mercado a ser desbravado pela Polymath nos próximos dois a três anos. “O ecossistema brasileiro tem estado mais no lado B2B do que no lado B2C. A Polymath é totalmente B2C, então podemos trazer nossa experiência na construção de negócios B2C em termos de entender como esse tipo de negócio funciona e a tecnologia [por trás dele].”
Tendo demorado mais no passado para lançar novos negócios, a Polymath imagina que é agora capaz de co-criar de uma a duas novas startups por ano. Em 2021, aliás, fez isso.
O portfólio da Polymath é composto hoje por:
- Aflore, uma rede de vendas diretas de serviços financeiros, especialmente empréstimos, para aqueles negligenciados pelo setor bancário formal na Colômbia. Fundada em 2014, levantou um pré-Série B de US$ 6,6 milhões em fevereiro do ano passado com a participação da Amador Holdings, Unreasonable Capital e outros acionistas existentes, incluindo Polymath. Em meados de 2020, a Aflore já havia levantado um financiamento de risco de dívida de US$ 10 milhões da Accial Capital;
- Autolab, também fundada em 2014 em Bogotá, é uma das principais plataformas de reparo e peças de automóveis da América Latina. Faz isso em parceria com donos de lojas independentes dispostos a vender mais e melhor por meio da tecnologia. Desembarcou no México em 2021 e pretende operar no Peru e no Brasil em breve;
- Elenas, uma plataforma de social commerce lançada durante o TechCrunch Startup Battlefield de 2018 e que empodera mulheres empreendedoras, ajudando-as a alcançar a independência financeira. Tendo arrecadado US$ 8 milhões desde sua fundação, possui mais de 550.000 vendedoras usando suas ferramentas, que vão desde formação de estoque e negociação direta de mais de 80 mil produtos a preços de atacado até acesso a serviços de logística e pagamento. Atua na Colômbia e no México;
- Ropstar, é um marketplace de brechós (são mais de 500 de toda a Colômbia) lançado em 2021;
- E o Tani Salud, um marketplace também fundado em 2021 que faz a ponte entre pacientes de classe média e médicos e cirurgiões. Levantou uma rodada de pré-seed de US$ 700 mil em março, com Polymath e outros fundos e investidores individuais.

Por trás da metodologia da Polymath Ventures
O que a Polymath faz primeiro é definir conceitos de áreas e indústrias que concentram a maior parte dos problemas da classe média latino-americana. Inclusão financeira, empreendedorismo feminino e mobilidade são dessas áreas.
Na segunda etapa do método da Polymath, uma equipe de cerca de seis pessoas mergulha profundamente nos conceitos por cerca de três a quatro meses, procurando áreas de oportunidades (ou seja, produtos e serviços).
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“A partir desta etapa, passamos para a definição de projetos-piloto, definindo qual parece mais promissor. Antes de lançá-lo, procuramos os fundadores, as pessoas talentosas que achamos que se encaixam no projeto, para que possamos lançá-lo junto com elas”, explicou Fernández.
Isso significa que nos primeiros dias de uma startup construída pela Polymath, 80% da equipe serão funcionários da empresa já experientes nesse processo de lançamento. À medida que o negócio vai confirmando e consolidando seu market fit e crescendo, a equipe da Polymath diminui, executando cada vez menos e atuando cada vez mais como suporte, para áreas como back office, aquisição e desenvolvimento de talentos e marketing.
Estabelecer uma boa governança também é crucial para que o negócio caminhe com as próprias pernas. Assim, a evolução natural do papel da Polymath em seus empreendimentos é “cofundadora”, posteriormente “apoiadora” e “conselheira”, e, por último, “acionista”.
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Os planos da Polymath para atuar também com venture capital
Além de participar de algumas rodadas Seed e Série A de startups co-fundadas por ela, em junho, a Polymath pretende lançar um fundo voltado para investimentos de estágio inicial (pré-Seed e Seed) em empreendimentos externos ao seu estúdio.
“Este fundo de VC é principalmente — 80%, eu diria — para empresas externas, ou seja, não co-construídas pela Polymath. Os outros 20% serão acessíveis às startups do estúdio desde que um investidor profissional e independente lidere as rodadas”, destacou Fernández. Ele disse que a Polymath acredita no desenvolvimento de um modelo de VC próprio, ou seja, não focado apenas em diversificação de portfólio mas concentrado nos segmentos e indústrias que a Polymath conhece bem. Uma espécie de fundo “hands-on“, como descreveu o CFO da empresa.
Fernández não revelou o tamanho do fundo nem o número de startups nas quais a Polymath planeja investir por meio dele. Mais detalhes devem ser divulgados nos próximos meses.
Eventualmente, a Polymath também pretende criar veículos de investimentos de propósito específico para participar de rodadas de startups em estágio mais avançado de crescimento e que a Polymath “conhece bem”.