Adam Kidron, CEO da operadora móvel YO Mobile
Adam Kidron, CEO da operadora móvel YO Mobile. Foto: YO Mobile/Divulgação.
Negócios

Combinando conectividade e entretenimento, YO Mobile busca alcançar 250.000 assinantes no México até o final do ano

A operadora móvel focada na Geração Z estreou no país em 2020 e conta com 500.000 usuários registrados e 27.000 assinantes pagos, que gastam impressionantes 90 minutos por dia em sua plataforma. "Alma de operadora, coração de conteúdo", como descreveu ao LABS o CEO Adam Kidron

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País de origem do gigante de telecomunicações América Móvil, do empresário e bilionário Carlos Slim, o México costumava ser um dos mercados de telecomunicações mais concentrados do mundo. Mas, nos últimos anos, esse cenário começou a mudar: subsidiária da América Móvil no país, a Telmex passou de 71% de participação de mercado no final de 2013 para menos da metade, tanto em banda larga (45,6%) quanto em telefonia fixa (49,4%) no final do ano passado, de acordo com o Instituto Federal de Telecomunicações (IFT) do país.

“Olhamos para onde havia um bom marco regulatório [para a proteção de novas companhias de telecomunicações], um público jovem e grande adesão a serviços de streaming. Não há como não pensar no México como um dos top dois ou três países do mundo”, explica Adam Kidron, CEO da operadora de telefonia móvel YO Mobile, em entrevista ao LABS.

A redução da participação de mercado da Telmex é resultado de uma regulamentação do IFT imposta à América Móvil desde 2014. Entre outras medidas, o regulador exigiu que a Telmex compartilhasse sua infraestrutura e fornecesse o serviço de acesso local a taxas regulamentadas pelo IFT e acessíveis para operadoras alternativas. Embora a Telmex e a Telcel (operadora de telefonia móvel do grupo) ainda sejam os principais players no mercado mexicano de telecomunicações, isso abriu espaço para mais competição no país.

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As receitas das operadoras de rede móvel virtual que não possuem infraestrutura própria (MVNOs, na sigla em inglês) aumentaram 98,7% em um ano, enquanto o número de linhas cresceu 69,9%. Segundo estimativas da consultoria The CIU, ao final do primeiro trimestre de 2021, elas geraram 626 milhões de pesos em vendas, um salto expressivo em relação aos 315 milhões de pesos alcançados no mesmo período do ano anterior.

E é justamente esse o pano de fundo para a chegada da YO Mobile no país. Uma subsidiária da Yonder Media Mobile, empresa sediada em Nova York com escritórios de desenvolvimento técnico em Minsk, Bielo-Rússia e Kiev, Ucrânia, a YO desembarcou no México em 2020 buscando mudar a lógica de como uma operadora móvel funciona. Para isso, combina comércio, comunidade, conectividade e conteúdo em uma única plataforma. 

Vai haver uma separação entre infraestrutura e serviço. Vamos ver grandes investimentos em infraestrutura para a América Latina. No geral, não temos 5G, mas a população quer, vai acontecer. O investimento virá, mas quem vai ganhar dinheiro é quem colocar os serviços antes da infraestrutura. Não é possível combinar os dois. Se você está investindo em infraestrutura, sua única preocupação é que o máximo de pessoas possível use sua infraestrutura. Agora, nós [da YO Mobile] estamos preocupados apenas em ter a maior penetração possível entre a Geração Z. É uma lógica muito distinta.

Adam Kidron, CEO da YO Mobile

Reunindo conectividade e entretenimento, o modelo de negócios da YO Mobile mescla a abordagem tradicional das empresas de telecomunicações com criação de conteúdo e curadoria. Além de prestar serviços móveis, estabelece uma comunidade com seus usuários por meio de uma programação de conteúdo diário e semanal sobre temas como cinema, gastronomia, sexo, astrologia e saúde mental – tudo por meio do aplicativo, onde seu público-alvo, jovens Millennials e integrantes da Geração Z, também podem encontrar uma curadoria de estações de rádio e guias da cidade, chats ao vivo, jogos com realidade aumentada e recompensas para resgatar com a própria moeda digital da empresa, chamada YOYO$. 

Com uma particular vantagem diante da Geração Z, a operadora também tem forte presença na popular rede social TikTok, onde mantém 143 mil seguidores em sua conta, lançada em dezembro. “No final de 2021, teremos entre 500 e 600 mil pessoas no TikTok, o que nos fornece uma compreensão única da Geração Z, porque o TikTok é o canal para a Geração Z tanto quanto o Instagram é o canal de escolha para os Millennials. Quase 15% dos nossos assinantes vêm pelo TikTok”.

Adam Kidron, CEO YO Mobile
“As plataformas e a mídia pertencem a pessoas que são gerações mais velhas do que os jovens que a consomem. E, no final, isso é condescendente. Então, tentamos fazer algo um pouco diferente”, diz Adam Kidron, CEO da operadora móvel YO Mobile. “Não sei se você chegou a ver os jovens que trabalham aqui, mas acho que sou, por uns 30 anos de diferença, o mais velho”, brinca. Foto: YO Mobile/Divulgação.

O aplicativo da YO Mobile está disponível para os usuários, quer eles optem por assinar o serviço ou não. Segundo a empresa, todos têm acesso ao mesmo conteúdo. A diferença é que, se um usuário decide se tornar um assinante pago, não importa quanto conteúdo consuma, ele não gasta seus dados móveis. Já se ele permanece como um usuário não-pagante, a plataforma consome seus dados móveis.

Os preços do serviço móvel da empresa, que concede conectividade 4.5G, é de 15 pesos por dia; 50 pesos por semana ou, se o usuário optar por assinar um plano mensal, a empresa começou, em junho, a cobrar uma tarifa opcional que varia de 100 a 500 pesos, no formato “Pague o que puder”. 

“Aprendemos que, para atingir nossa ambição de levar as melhores experiências móveis a todos os mexicanos, temos que fazer nossa parte para democratizar o acesso à internet móvel, tornando a YO Mobile ainda mais acessível para todos”, disse Kidron, que explica que a nova funcionalidade de pagamento “convida as pessoas que têm um pouco mais, a pagarem um pouco mais pelo serviço móvel para que outras (que têm um pouco menos) possam pagar menos. Nós os convidamos a participar e encorajamos outros a fazerem o mesmo”.

Em troca do pagamento extra, a operadora concede um token especial aos assinantes, o que os permite obter YOYO$ (a moeda digital da empresa). Além de fornecer acesso a diferentes conteúdos, a moeda digital também pode ser trocada por dados e pacotes móveis, bem como por outros extras na plataforma.

Tela do aplicativo YO Mobile no checkout do serviço. Imagem: YO Mobile/Divulgação.
Tela do aplicativo YO Mobile no checkout do serviço. Imagem: YO Mobile/Divulgação.

Desde dezembro do ano passado, quando chegou ao México, a empresa concedeu seu serviço gratuitamente para as primeiras 10 mil pessoas que trouxessem seus números para a YO. Atualmente, tem 27 mil assinantes pagos gastando 90 minutos por dia em sua plataforma, 500 mil usuários registrados (não-pagos) e 1,2 milhão de downloads do aplicativo.

“O engajamento médio das empresas de telecomunicação no mundo é de 18 minutos por dia (…) A gente acorda de manhã e tenta pensar em coisas novas que podemos fazer para entreter as pessoas e mantê-las ali por mais tempo. Porque cada minuto que passam conosco é um minuto que não passam em outro lugar. É simples assim”, resume o executivo. Até o final do ano, a empresa espera atingir 250 mil assinantes no país.

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A operadora, que diz ser uma fonte de entretenimento social hiper-localizado, curado e disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana, oferece aos usuários um mix de programas de rádio, transmissões ao vivo diárias e filmes por meio de parcerias com Sony Music, Cine Tonalá, Red Bull e embaixadores da marca como Aczino, Dr.Shenka, Herly, Mika Vidente, Adrian Casas e comediantes da CasaComedy.

A empresa controladora da YO Mobile, Yonder Media Mobile, foi fundada em 2018 e atualmente tem uma equipe de mais de 70 pessoas nos Estados Unidos, Bielo-Rússia, Ucrânia e México – onde conta com cerca de 30 criadores de conteúdo. Segundo Kidron, a Yonder Media Mobile já captou mais de US$ 13 milhões em rodadas seed para financiar o desenvolvimento da YO e, agora, busca uma rodada Série A de US$ 20 milhões. 

Em vez de vender apenas conectividade, hoje as receitas da YO vêm 90% dos serviços de telecomunicações, enquanto 10% vêm de outros esforços: publicidade, patrocínio, comparação social e indicação de produtos. Kidron, porém, espera que as receitas atinjam uma participação equilibrada de 50% em cada estratégia nos próximos 12 meses no país. 

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Quanto a expansão, embora esteja concentrando esforços no México, o executivo está de olho em outros mercados latino-americanos. “Vamos do México à Colômbia, ao Chile, a Porto Rico, aos Estados Unidos e depois ao Brasil”, diz Kidron. “Só aí vamos nos preocupar com o resto do mundo. Certamente iremos para a Colômbia este ano. Se chegaremos ao Chile até o início de 2022, ainda não tenho certeza”.

Seções de conteúdo do aplicativo YO Mobile, chamadas de bolhas (burbujas, em espanhol). Imagem: YO Mobile/Divulgação.
Seções de conteúdo do aplicativo YO Mobile, chamadas de bolhas (burbujas, em espanhol). Imagem: YO Mobile/Divulgação.

Criando os próprios conteúdos enquanto licencia e faz a curadoria de outros criadores e distribuidores; a YO Mobile classifica seu conteúdo em seções, chamadas pela empresa de bolhas. No website da empresa, os usuários também têm acesso a uma loja digital chamada YO Boutique, onde podem comprar smartphones e outros dispositivos eletrônicos.

A empresa disse que também aumentou sua biblioteca de filmes VOD (vídeo sob demanda, na sigla em inglês) e lançou uma seção UGC (conteúdo gerado pelo usuário, na sigla em inglês) chamada BAILO!, uma experiência pós-TikTok onde dançarinos competem por prêmios diários e semanais mostrando seus melhores passos. 

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“Nos vemos no futuro como uma forma mais inovadora de obter conteúdo. No momento, a maneira de acessar conteúdo é meio insana. Você junta todas essas aplicações que não estão relacionadas umas com as outras, que não têm uma programação que funcione umas com as outras, que não têm uma maneira definida de monetização e você não tem ideia de como seus dados estão sendo usados”, diz o executivo. “A YO resolve tudo isso. Reúne tudo em uma única interface”.  

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