O mundo foi dominado pela pandemia de COVID-19, e o isolamento é uma das respostas mais eficazes para “achatar a curva” de disseminação da doença, ou seja, reduzir o ritmo de contágio. À medida que os Estados Unidos se tornam o novo epicentro da doença e a China retoma suas atividades – o setor industrial já recuperou 90% de sua capacidade por lá –, as maiores economias latino-americanas tentam evitar a escalada do coronavírus com medidas cada vez mais restritivas.
Em casa, os latino-americanos, principalmente os de maior renda, estão apostando em compras on-line, entregas e métodos de pagamento digitais como nunca antes. Na semana passada, por exemplo, a adquirente brasileira de cartões Cielo viu as transações do seu sistema de pagamento por link aumentar em 200%. Ao mesmo tempo, é natural que as pessoas busquem um consumo mais sustentável, mesmo após a pandemia. Afinal, elas estão aprendendo que podem viver com menos coisas.
Isso também está fazendo com que pequenos e médios empresários, de segmentos tão diversos quanto restaurantes, mercearias e lojas de móveis, procurem maneiras de atender seus clientes, e on-line. E esse novo comportamento de consumo chegou para ficar. Esta é a opinião de especialistas da consultoria Americas Market Intelligence (AMI).
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“Podemos esperar um impulso em tudo o que é digital no momento. E parte desse comportamento do consumidor que está sendo introduzido agora permanecerá e causará um crescimento sustentado ao longo deste ano e do próximo”, disse Lindsay Lehr, especialista em pagamentos da AMI que acompanha a evolução do comércio eletrônico na América Latina desde 2015.
Ela também afirmou que o trabalho remoto, bem como as ferramentas digitais relacionadas a ele, como softwares, soluções de código aberto e serviços em nuvem, também devem ganhar um novo impulso.
Este é o evento mais disruptivo do setor. Nos últimos oito anos, o comércio eletrônico cresceu entre 19% e 25% ano a ano na América Latina. Para este ano, esperamos um declínio de 12%. Viagens, varejo e produtos digitais, no entanto, se comportarão de maneira diferente
Lindsay Lehr, especialista em pagamentos da AMI.
E o que vai acontecer é uma mudança no padrão de gastos do comércio eletrônico. “O turismo será a indústria mais atingida, caindo para quase zero em abril e se recuperando lentamente ao longo de 2020, mas ainda com resultados negativos no final deste ano. Esperamos que demore cerca de dois anos para que as vendas do turismo se recuperem totalmente “, acrescentou.
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Em uma previsão que considera o padrão de gastos de janeiro de 2020, a especialista diz que até o final deste ano os produtos digitais devem quase dobrar sua participação nas vendas de comércio eletrônico, para 32%. O varejo, por sua vez, terá se recuperado totalmente só em 2021, quando crescerá a taxas semelhantes a 2019, mantendo sua fatia de pouco mais de 50% da vendas online. Já o turismo, verá sua fatia cair de 28% para 16% do comércio eletrônico.
Para 2021, a expectativa é de que o comércio eletrônico como um todo cresça 23% na América Latina. “No geral, o mercado atingirá apenas metade da taxa esperada em comparação com a nossa previsão antes da epidemia”, disse Lehr.
O que fazer agora?
Em momentos como esse, é importante também aprender com o passado e com outros países. Segundo o diretor da AMI, John Price, durante a epidemia de SARS em 2003 é que os chineses realmente aprenderam a comprar online. Naquele ano, o gigante Alibaba cresceu 50%.
Price pontua que entre janeiro e fevereiro deste ano, durante o pico da epidemia de coronavirus na China, as vendas online cresceram 22% no país. Produtos farmacêuticos, de higiene, de limpeza e comida foram os que puxaram esse crescimento. Ao mesmo tempo, o setor de viagens chinês viu as vendas, incluindo passagens, hospedagens e aluguel de carros, caírem 95%.
Os produtos e serviços digitais, que têm sido um dos segmentos mais promissores do comércio eletrônico na América Latina nos últimos anos, já estão contando uma história mais positiva.
De acordo com Price, as vendas da ferramenta de comunicação Microsoft Teams aumentaram 100% na China e o uso do Zoom subiu 30% em todo o mundo. O Rappi, o aplicativo de entrega que opera em oito países da América Latina, viu suas vendas subirem 40% nas duas primeiras semanas de março. Por outro lado, as vendas da Uber devem cair 70% nos EUA em março.
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Também é importante ver que pode haver espaço para inovação e competição saudável em um momento como este. “Mercearias, restaurantes e bares estão procurando pela primeira vez as vendas on-line e podem não estar satisfeitos com a margem de 37% cobrada por alguns aplicativos de entrega. Eles estão criando suas próprias soluções. Haverá muito espaço para competição mesmo em um momento como esse”, disse Price durante o webinar da AMI.