A startup colombiana de entrega sob demanda Rappi trilha um caminho de sucesso crescente na América Latina, tendo alcançado o status de unicórnio no ano passado e recentemente conseguido US$ 1 bilhão em investimento do grupo japonês SoftBank – aporte que é um verdadeiro marco para o mercado de venture capital na região.
“Neste momento, não há lugar no mundo com tanto potencial como a América Latina”, disse Fernando Chavarro, head de produto na Rappi, em entrevista exclusiva ao LABS.
Chavarro está bastante convencido de que nunca houve um melhor momento para a continental, diversa e multicultural região latino-americana. Mas nem sempre foi assim.
Instabilidade política, crises econômicas, greves, inflação, desemprego, desigualdade social, corrupção: e a lista vai muito além. Quando se trata de reputação, o histórico da América Latina não costumava ser o melhor na visão de grandes players globais.
Mas as coisas parecem estar mudando por aqui. Os problemas continuam, mas esses mesmos problemas, acompanhados de uma mudança de comportamento, são os que têm aberto espaço para uma enxurrada de oportunidades. E essa mudança de comportamento tem a ver com um elemento em especial: conexão.
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375 milhões de usuários na Internet, 250 milhões de usuários de smartphones e um setor de e-commerce que chegou a impressionantes US$ 54 bilhões em 2018, bem acima dos US$ 29,8 bilhões de 2015 em toda a região.
A América Latina nunca esteve tão conectada. A adoção de tecnologia e mobilidade está crescendo a todo vapor, e as pessoas estão buscando soluções melhores e mais simples para resolver seus problemas cotidianos. Na verdade, o que realmente essas pessoas estão buscando, são soluções – e ponto. Soluções inovadoras que encontrem suas necessidades exatamente onde as tradicionais falham.
A Rappi é um desses novos players que estão transformando adversidades em oportunidades, e por isso faz parte da série Desbravadores da América Latina, do LABS.
A transformação dos negócios na América Latina
Há alguns anos era muito difícil abrir uma startup e atrair investimento para a região. A verdadeira mudança que gerou uma onda de crescimento e potencial em expansão é o dinheiro que esses players podem injetar em investimentos: isso define a velocidade na qual um negócio consegue – ou não – prosperar .
Fernando Chavarro, head de produto na Rappi.
Se o mercado latino-americano já foi ignorado por investidores do patamar de Softbank, Sequoia Capital ou Tencent Holdings, agora isso parece ter mudado.
“Os fundadores da Rappi têm uma visão ousada para criar um ‘super-aplicativo’ que oferece vários serviços, melhorando a qualidade de vida de milhões de pessoas na região. Em menos de quatro anos, a Rappi tornou-se uma das startups que mais crescem na América Latina. Esse rápido crescimento demonstra a imensa oportunidade na região”, disse Marcelo Claure, CEO da Softbank Latin America para a Bloomberg, na ocasião do anúncio do aporte no super aplicativo.
O investimento na Rappi veio apenas um mês após do anúncio da criação de um fundo de US$ 5 bilhões para a região pelo grupo japonês.
Outros players latino-americanos disruptivos como Loggi, GymPass e 99 – para citar alguns – também atraíram investimentos do Softbank:
“Há tanta inovação e disrupção na região, e acredito que as oportunidades de negócio nunca foram tão grandes. O SoftBank Innovation Fund se tornará um grande investidor nas empresas latino-americanas transformadoras que estão prontas para redefinir suas indústrias e criar novas oportunidades econômicas para milhões de pessoas ”, disse Claure ao Techcrunch.
Além do aporte de US$ 1 bilhão do SoftBank, a Rappi já levantou US$ 200 milhões de seus atuais investidores DST Global, Delivery Hero, Sequoia Capital, Andreessen Horowitz e Y Combinator.
Não por acaso, a Rappi pretende tornar-se a maior empresa de tecnologia em toda a região.
A ambiciosa jornada da Rappi na América Latina
O propósito de Rappi era ambicioso desde o início. A startup colombiana de entrega sob demanda nasceu em 2015 para ser um super aplicativo, e o que começou como um serviço voltado à entrega de bebidas e refeições, logo se expandiu para alimentos, produtos de tecnologia e remédios.
São parceiros diversos, como lojas, farmácias e serviços de beleza. A Rappi também oferece saque em dinheiro, permitindo que os usuários paguem com cartões de crédito e recebam em espécie de um dos agentes de entrega do app. Além disso, há um recurso para a entrega de qualquer item, em qualquer lugar. Basta acessar o aplicativo, informar sua localização e fornecer a descrição do item: pronto.
Reunindo uma infinidade de funções e seguindo toda a jornada do usuário – a partir do momento em que ele começa o dia e pega um patinete para ir ao trabalho, até quando ele chega em casa e pede algo para jantar – a Rappi está solucionando logística, mobilidade, acesso e muitos outros problemas.
Tudo isso foi possível graças a uma cultura de inovação profundamente enraizada no core da empresa. “Sempre pensamos em como estamos fazendo para melhorar a vida das pessoas. Além disso, se temos uma ideia, colocamos um piloto para rodar em duas semanas e entendemos o que pode melhorar e se devemos seguir ou não. Não temos medo de errar” disse Rogério Pagliari, líder da Rappi Pay no Brasil para a Startse.
No Brasil, a Rappi iniciou suas operações em agosto de 2017 e agora planeja atingir 70 cidades brasileiras, a partir das 20 onde já atua. A empresa também conta com operações na Argentina, México, Uruguai, Chile e Peru, somando 50 cidades em toda a região.
Operando em 7 países e com o posto de primeiro unicórnio tech da Colômbia, a Rappi está definitivamente no seu melhor momento.
Disrupção versus leis
O que acontece com uma sociedade quando mudanças disruptivas entram em cena? Para Fernando Chavarro, “as startups e a tecnologia avançam mais rápido do que qualquer outro setor da economia – ao mesmo tempo em que, para mudar as leis e os regulamentos, o processo é muito mais longo e lento.”
Esse paradigma de inovação versus leis não é nada recente – e qualquer país tem de lidar com esse tipo de coisa. Segundo Chavarro, a Rappi também teve de enfrentar certa resistência, mas, no momento, está construindo boas relações com o governo e os agentes do mercado em geral.
“Quando você quer, o negócio funciona: e a América Latina tem uma cultura de saber como fazer as coisas acontecerem”, completa ele.
Não há pessoas que entendam melhor os latino-americanos do que nós próprios – e a Rappi é uma solução latino-americana feita sob medida para nós.
Fernando Chavarro, head de produto da Rappi.
Se a palavra-chave para prosperar na América Latina é acesso, a Rappi já se deu conta disso há muito tempo. Mais do que se tornar a maior empresa de tecnologia da América Latina, Chavarro diz que Rappi quer liderar a jornada de levar a região a um nível totalmente diferente e fazer isso chegar em alto e bom som aos ouvidos de grandes players globais.
“A melhor maneira de prever o futuro é criar o futuro”, diz ele.