Latam poderá transportar vacinas para vários países da América do Sul. Foto: Divulgação/Latam
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Companhias aéreas se engajam para o transporte de vacina da COVID-19 na América Latina

Vacinação deve começar ainda em dezembro de 2020 na região e distribuição dos imunizantes depende da via aérea

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As companhias aéreas tiveram um papel fundamental no transporte de equipamentos e insumos médicos desde o início da pandemia da COVID-19, seja dentro dos países ou em voos transoceânicos. E com as vacinas prestes a serem aplicadas na América Latina — a vacinação já começou no Reino Unido —, as empresas da região terão novamente uma função estratégica no combate ao novo coronavírus.

O México deve ser o primeiro país latino-americano a iniciar a vacinação, ainda em dezembro de 2020. O presidente argentino Alberto Fernández anunciou que pretende vacinar 300 mil pessoas até o fim do ano. O governo do Brasil afirmou que as primeiras doses também podem ser aplicadas em dezembro, mesmo sem um plano claro para isso. E a partir do início de 2021 outros países da região devem começar a campanha de vacinação.

O transporte das vacinas, dos insumos como seringas e dos equipamentos necessários vai, necessariamente, passar pelas companhias aéreas. Ainda mais devido à natureza desses produtos. O imunizante desenvolvido pela Pfizer/BioNTech, por exemplo, precisa se manter a uma temperatura de -70 ºC — essa é a escolhida pelo México para a primeira fase. Nesse caso somente o transporte aéreo poderá adequadamente distribuir as vacinas.

Azul Cargo poderá levar vacinas para áreas remotas do Brasil. Foto: Divulgação/Azul

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Além disso, há o fator agilidade, especialmente em países nos quais as distâncias são muito grandes e onde há áreas de difícil acesso por via terrestre. Em poucas horas o avião pode chegar ao destino e alimentar as cidades com as doses e equipamentos.

As vacinas não são qualquer mercadoria. Durante a pandemia, são mais valiosas. Não por acaso a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês) liberou em novembro um documento específico sobre o transporte de vacinas, com recomendações para governos, companhias aéreas e empresas de logística.

São quatro grandes áreas que a entidade aponta como chaves para a distribuição satisfatória dos imunizantes por via aérea. A primeira é a conectividade, que precisa ser restabelecida a níveis anteriores à pandemia para chegar a toda população. Depois vem a questão do armazenamento adequado dentro do avião, sem riscos de danos ao produto e manutenção da temperatura. Em terceiro é a agilidade na liberação alfandegária da carga ao chegar de outro país. Por fim a segurança, para que as vacinas não sejam alvo de criminosos.

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A Iata acredita que as companhias aéreas da América Latina estão preparadas para esse desafio. “Elas têm investido tempo e recursos na implementação de padrões globais da indústria, assim como em programas de melhoria contínua de qualidade, como o CEIV Pharma, harmonizando e alinhando os processos com as demandas da indústria e treinando seus colaboradores de maneira adequada”, explica o gerente geral de comunicação da Iata para a América Latina e Caribe, Markus Ruediger.

Ruediger reforça que os governos têm um papel importante para ajudar as companhias aéreas e garantir a entrega dos imunizantes a mais lugares. “A rede global de rotas foi reduzida drasticamente das 22 mil rotas que as companhias aéreas ofereciam antes da pandemia. Uma das primeiras ações que os governos devem tomar é restabelecer a conectividade aérea para garantir capacidade adequada para a distribuição das vacinas”, completa o representante da Iata.

Companhias aéreas vão transportar vacinas de graça

O Brasil é um país de dimensões continentais e com carências, em muitas regiões, de boas estradas. Isso ficou claro a partir da necessidade do transporte de equipamentos médicos, tais como respiradores, e equipamentos de proteção individuais (EPIs). E foi o avião que fez esses produtos circularem pelo país.

Para a vacinação, as empresas brasileiras já se colocaram à disposição das autoridades sanitárias. Ainda não há um plano específico de como vai funcionar a logística, pois isso deve ser definido pelo Ministério da Saúde. No entanto, elas garantem que são capazes de realizar a distribuição. E mais, de graça.

A Azul foi a primeira a anunciar que vai transportar os imunizantes sem custos para o governo federal ou para governos estaduais e municipais. A companhia, que transportou 20 toneladas de respiradores, 4,8 milhões de testes rápidos e 15 toneladas de equipamentos de testagem, afirmou que tem como replicar isso, agora com as vacinas.

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“Pela expertise de seu negócio, a unidade de cargas da Azul acredita ter os atributos necessários para auxiliar na distribuição das vacinas pelo país e se colocará à disposição de eventuais chamamentos públicos e privados para prover essa logística”, informou em nota enviada ao LABS.

Azul usou aeronaves de passageiros para o transporte de testes rápidos. Foto: Divulgação/Azul

A gratuidade foi anunciada no dia 9 de dezembro e estará disponível nos espaços de carga dos aviões que cumprem os voos regulares. Ou seja, caso haja a necessidade de transporte de vacinas dentro da malha aérea da Azul, ela será realizada sem custos.

“Sabemos da importância dessa missão e queremos incentivar todas as empresas de logística e transporte do Brasil a fazerem o mesmo. Agora é a hora de todos trabalharmos juntos e apoiarmos o Brasil”, anunciou o presidente da companhia, John Rodgerson.

Após a Azul divulgar que transportaria gratuitamente as vacinas, a Gol seguiu o mesmo caminho. E no mesmo dia. “Toda a ampla malha de voos da companhia terá espaço na aeronave para levar os produtos a todos os pontos necessários”, comunicou a empresa via assessoria de imprensa.

A Gol foi a primeira companhia aérea brasileira a permitir que profissionais de saúde viajassem gratuitamente. Agora é a vez da vacina, que será transportada em ações lideradas pela Gol Log, o braço de carga e logística da empresa.

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No dia seguinte ao anúncio de Azul e Gol, em 10 de dezembro, o grupo Latam informou que também cederá os porões dos aviões nos voos domésticos para a distribuição do imunizante da COVID-19. A empresa opera internamente no Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru.

Segundo a companhia, ela “está à disposição e em contato com diversas autoridades da América do Sul para viabilizar os transportes relacionados à vacina contra a COVID-19”. Além disso, comunicou ao LABS que “informará oportunamente se confirmar qualquer operação doméstica ou internacional nesse sentido”.

A Latam foi a primeira aérea do continente a receber a certificação CEIV Pharma da Iata, que cumpre algumas recomendações no transporte de material farmacêutico. A companhia usou a expertise para transportar mais de 3 toneladas de carga com insumos e equipamentos hospitalares para países da América do Sul.

Experiência durante a pandemia prepara o México para as vacinas

O transporte das vacinas da COVID-19, em grande quantidade e com razoável capilaridade, é algo novo para as companhias aéreas. Mesmo assim, no México, elas estão se preparando para fazerem parte da cadeia logística de distribuição dos imunizantes.

A Aeroméxico Cargo, a divisão de carga aérea da Aeroméxico, já transporta insumos farmacêuticos. No entanto, para atender às exigências das fabricantes e dos governos, está buscando a certificação CEIV Pharma. Ela pode ser útil especialmente no transporte desde as fábricas, nos Estados Unidos e Europa, para o México.

Aeroméxico tem transportado equipamentos médicos desde o início da pandemia. Foto: Divulgação/Aeroméxico

“A importância desse tipo de certificação se encontra em assegurar o melhor manuseio de mercadorias tão essenciais como as farmacêuticas em acordo com as especificações dos fabricantes, para garantir a efetividade necessária”, apontou a Aeroméxico em comunicado da assessoria de imprensa.

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No mercado doméstico quem pode ter uma participação mais efetiva é a empresa low cost Volaris. A companhia é a que tem o maior market share doméstico e a que voa para mais cidades no México.

Volaris já transportou insumos e equipamentos médico durante pandemia. Foto: Divulgação/Airbus

Essa capilaridade foi útil no início da pandemia, quando houve a necessidade da distribuição de equipamentos médicos. Mesmo que carga aérea não seja a principal vocação da Volaris, os porões de bagagens das aeronaves da empresa estão aptos a transportar insumos farmacêuticos.

“O transporte de vacinas é uma iniciativa que apoiamos na Volaris. Estamos em conversações com as autoridades para trabalhar em conjunto quando chegar o momento”, comunicou a companhia ao LABS.

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