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Cara a cara: Comparativo das Propostas de Haddad e Bolsonaro

Turbulenta, polarizada e contraditória. É assim que as eleições de 2018 serão lembradas na história do Brasil. Com dois cenários tão distintos em jogo, as eleições acontecem neste fim de semana e mesmo assim as propostas dos dois candidatos continuam não sendo claras para muitos brasileiros.

Com Lula preso e barrado no STE, Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, assumiu e se tornou o representante do PT. Para agitar ainda mais as coisas, pela primeira vez em 20 anos, o PSDB, principal rival político do PT, não passou para o segundo turno.

Quem concorre contra eles desta vez é o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que nos últimos anos tem conquistado as manchetes do mundo todo com declarações polêmicas com sinais de racismo e homofobia, conquistando rapidamente popularidade entre o eleitorado.

O Brasil continuará votando no partido de esquerda ou optará pelo desconhecido, elegendo um candidato da extrema direita?

As pesquisas apontam que a segunda opção é o cenário mais provável. Mas o que você realmente precisa saber sobre esses dois candidatos? Nós falamos com o economista Gilmar Lourenço para conseguir respostas.

Uma eleição repleta de dúvidas

Para começo de conversa, os programas de governo que foram registrados no primeiro turno das eleições foram praticamente varridos no segundo turno, causando uma grande imprevisibilidade. “Ambos os candidatos possuem diretrizes muito confusas e contraditórias, até mesmo de forma intencional“, afirma Lourenço. “Haddad passa a ideia de que não há uma crise séria acontecendo, enquanto Bolsonaro pode não ser uma base sólida“.

O economista aponta que, durante a atual corrida eleitoral, é difícil para qualquer cientista político ou economista conseguir mensurar o impacto dos candidatos com base apenas em seus planos de governo, considerando que alguns tópicos muito sérios não foram abordados.

Ninguém está falando sobre como eles vão conduzir o Brasil para a quarta revolução industrial ou como combater a desigualdade de renda. Eles estão em silêncio sobre as reformas que são necessárias para que o Brasil se torne uma nação desenvolvida em pouco tempo

Gilmar Lourenço

Jogando para a torcida

Como na maioria dos casos, as promessas eleitorais são praticamente feitas para serem quebradas, devido a seu cárater muitas vezes pouco exoquível. No entanto, no cenário inédito da eleição deste ano, esse pressuposto é especialmente verdadeiro. Pela primeira vez, uma avaliação precisa das reais intenções do novo presidente só poderá ser realizada depois que ele assumir o poder e organizar seu time e plano de transição.

Enquanto isso, os brasileiros precisam decidir seu voto com base em propostas dificilmente viáveis, feitas para agradar aos propósitos das multidões.

Em um lado está Haddad, tentando se desvencilhar da sombra de Lula, mas ainda apostando todas as suas fichas em medidas sociais, conforme demonstram as propostas de reajuste do salário mínimo para acima da inflação e aumento de 20% do Bolsa Família. “Esta movimentação visa aumentar o alcance deles entre as comunidades mais pobres e desfavorecidas, o que representa boa parte do seu eleitorado”, relata Lourenço.

O problema com as propostas do candidato do partido dos trabalhadores é que elas são tecnicamente desafiadoras e irrealistas. “Ele afirma que a desigualdade será resolvida com o próprio desenvolvimento econômico. Mas se o candidato ajustasse estes dois fatores, o sistema previdenciário brasileiro quebraria, pois não existe orçamento disponível para estas medidas“.

A situação de Bolsonaro não é melhor. O candidato, apesar dos 27 anos de Congresso, nunca teve uma representação significativa e popularizou seu nome por suas polêmicas declarações. O direcionamento de sua política gira em torno de um discurso conservador voltado para a parcela da população que deseja o fim da corrupção e da violência que assolam o Brasil.

Entre as propostas do candidato de extrema direita em relação a economia está eliminar, até 2019, o déficit primário por meio de privatizações e programas de concessão que irão arrecadar cerca de 3 trilhões para o país. Outra promessa que se destaca é poupar os trabalhadores que ganham menos de 5 salários mínimos por mês da contribuição do INSS e cobrar uma taxa fixa de 20% de todos aqueles que excedem essa renda mensal.

De acordo com Lourenço, existem dois problemas aqui. A primeira proposta é quase impossível de ser executada – levaria muito tempo para que os resultados esperados realmente aparecessem. A segunda vai contra o princípio da progressividade na tributação, comprometendo a lógica e a cobrança dos impostos.

A campanha de Bolsonaro é repleta de controvérsias e os membros de seu partido frequentemente fazem declarações que Bolsonaro precisa desacreditar publicamente depois“, diz Lourenço. Um exemplo disso foi quando seu vice, General Mourão, criticou o décimo terceiro salário e o pagamento de adicional de férias. Bolsonaro precisou posicionar-se contra seu vice-presidente e defender os benefícios para não perder votos. Não só isso, mas ele ainda afirmou que estenderia o benefício também para o Bolsa Família.

A história se repete

Mesmo que as eleições de 2018 tenham atingido um novo nível de imprevisibilidade, é possível reconhecer um padrão. Ambos os candidatos estão fazendo o que a ex-presidente Dilma Rousseff e seu rival eleitoral Aécio Neves fizeram no segundo turno de 2014.

Relembrando aquele período, Dilma declarava que não havia crise no Brasil e que o Brasil voltaria a se recompôr. Previsivelmente, o país entrou em recessão durante seu mandato. Aécio, assim como Bolsonaro, primeiro era contra o Bolsa Família e, por um movimento estratégico, começou a apoiar o programa no segundo turno.

Os candidatos deveriam aprender com estes erros anteriores e evitar a queda nestas mesmas armadilhas novamente. Lourenço também comentou sobre o impacto de propostas inacessíveis e insustentáveis.”Acreditar que recursos públicos são infinitos quase levou o Brasil à falência anteriormente, logo, essa concepção precisa mudar para que exista uma mudança real“.

Nem tudo está perdido

Apesar do tumulto político, ainda existe esperança, independente de qual candidato vencer. “Surpreendentemente, algumas das medidas adotadas pelo presidente Temer tiveram um impacto positivo na economia brasileira“.

Aqui estão alguns dados que mostram sinais de que o Brasil está voltando aos trilhos:

Reformas terão que ser negociadas com a sociedade e com o Congresso para que medidas efetivas possam ser aplicadas, mas não deve-se esperar resultado em relação a estas questões logo no primeiro ano de governo

Gilmar Lourenço

 

Então, nós podemos ficar otimistas? De acordo com Lourenço, a resposta é sim, principalmente por dois fatores:

  1. A economia está respirando.
  2. Assim que as eleições acabarem, o presidente irá finalmente desviar sua atenção do frenesi eleitoral e começar a raciocinar como um estadista, e não como candidato.

E os negócios internacionais?

O Brasil tem muito espaço para crescer e, mesmo que a política enfrente turbulências, empresas internacionais, especialmente varejistas e vendedores de produtos digitais, não precisam se preocupar. O consumo continua crescendo (vale dar uma segunda olhada nos dados acima), e esses setores nunca deixaram de crescer, mesmo durante a crise no país em 2015.