Sergio Furio, CEO e fundador da Creditas. Foto: Divulgação
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Creditas recebe aporte de US$255 milhões e é avaliada em US$ 1,75 bilhão

A startup vai usar a rodada liderada pelo fundo LGT Lightstone para escalar as recém-iniciadas operações no México a ampliar a oferta de produtos

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A Creditas, plataforma online de crédito com garantia, anunciou nesta sexta-feira (18) que recebeu um aporte Série E de US$255 milhões. A rodada torna a startup o mais novo unicórnio brasileiro, com valuation de US$1,75 bilhão, uma das fintechs mais capitalizadas da América Latina. A rodada traz novos sócios internacionais para a fintech, incluindo LGT Lightstone, que liderou o investimento, junto de Tarsadia Capital, Wellington Managemnet, e.ventures e Advent International via sua afiliada Sunley House Capital. Os já investidores SoftBank Vision Fund 1, SoftBank Latin America Fund, VEF, Kaszek e Amadeus Capital também participaram da rodada. Até hoje a Creditas captou US$570 milhões em cinco rodadas. 

A empresa usará os recursos para continuar a expansão do seu portfólio de produtos – o que inclui a Creditas Store, marketplace que permite consumidores que trabalham em empresas conveniadas à fintech a comprar utilizando o desconto no salário como forma de pagamento –, além de escalar suas operações no Brasil e no mais novo mercado da startup, o México

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“A gente sempre fala que ser ‘unicórnio’ não é algo que seja muito do jeito que a gente é”, contou o CEO e co-fundador da Creditas, Sergio Furio, em entrevista ao LABS. O empresário espanhol não gosta muito do termo. E acha que “virar unicórnio” não deveria ser tão valorizado. “Nós valorizamos mais trabalhar com os times e continuar crescendo. Para mim as métricas principais de crescimento são receita e portfólio. A valuation soma um reflexo disso, mas o nosso foco nosso está lá [em receita e portfólio de crédito]”. 

Sergio Furio, CEO e fundador da Creditas. Foto: Divulgação

Mas, como parte fundamental de qualquer startup, a Creditas tem apetite por crescimento rápido, o que requer capital. Desde a rodada Série D de US$ 231 milhões em julho do ano passado, a startup mais do que triplicou a receita, atingiu R$ 1 bilhão em portfólio de crédito e anunciou novos produtos. Depois de oito anos, a empresa começou a dar passos de internacionalização na América Latina, começando pelo México, com operações de mercado aberto no país Azteca há cerca de um mês. 

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A primeira operação internacional: Creditas quer escalar crédito no México em 2021 

“Decidimos expandir para o México no final do ano passado, quando começamos a contratar time. O produto começou a funcionar lá no primeiro trimestre, e os primeiros créditos começaram a surgir em versão beta teste em julho deste ano”, conta. 

No México, cinco produtos já estão ativos: financiamento de carro, o empréstimo com garantia do veículo, empréstimo com garantia do imóvel, o consignado e a Creditas Store, similares aos que hoje existem no Brasil, com as devidas adaptações regulatórias. A regulação foi, inclusive, um motivo pelo qual a startup levou oito anos para operar além das fronteiras. “Achamos complexo lançar em países diferentes para o tipo de negócio que a gente opera, regulado, com desenvolvimento de tecnologia”, disse, ressaltando que por enquanto não pretendem avançar para nenhum outro país além de Brasil e México. 

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A Creditas tem hoje um time de 60 funcionários no México, “um mercado que tem várias semelhanças com o Brasil e algumas diferenças”, segundo Furio. “A gente vê um potencial enorme de crédito com garantia no México, produto igualmente infra-penetrado como era no Brasil”, conta. 

No Brasil a startup foi uma das precursoras da ampliação do mercado de empréstimos com garantia, que até uma década atrás ainda era dominado pelos bancos tradicionais.

“Provavelmente a maior diferença em relação ao México é que lá a taxa de juros parece ser menor, mas ao mesmo tempo a penetração está muito menor. Então o que está acontecendo é que o juro é menor porque está atacando uma camada da população muito mais estreita, clientes super premium. A classe média acaba não conseguindo pegar o produto”, explica. 

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Furio não vê apenas o potencial mexicano relacionado aos juros, mas também ao aumento da penetração dos produtos de crédito no país latino. “No Brasil produtos de crédito tem muita penetração, cerca de 70%. Lá é 15%. Tem bastante coisa ainda para fazer”. 

A escolha pelo México tem a ver com escala: a segunda maior economia da América Latina, cerca de 30% menor do que o Brasil. “O próximo país para entrarmos seria muito menor, Colômbia ou Peru. Por enquanto ‘estamos sem braço’ para isso. Acho que temos que priorizar, e por enquanto vamos focar nesses dois países. Quem sabe daqui a três ou quatro anos expandiremos novamente”. 

A Creditas tem 50 funcionários atuando em Valência, na Espanha, mas Furio explica que o país europeu é apenas para desenvolver tecnologia, não há um objetivo de abrir escritório para negócio por lá. “Parte dos desenvolvimentos para o México foram feitos desde Valência e a Espanha também está trabalhando com os produtos do financeiro, a Creditas Store também foi feita lá. A plataforma da Creditas @work está sendo desenvolvida grande parte na Espanha”. 

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Como a Creditas chegou até aqui: superando um conturbado 2020 e dobrando receita

Fundada por Furio em 2012, a Creditas iniciou a operação como um marketplace de crédito com garantia, que, assim como hoje faz a FinanZero, permitia aos bancos oferecer crédito com garantia em uma plataforma digital. 

A partir de 2016 a empresa pivotou o negócio para lançar produtos próprios com linhas de crédito de R$ 5 mil a R$ 2 milhões para tomadores que tenham um imóvel ou veículo para dar como garantia. A partir do ano passado, a fintech iniciou a expansão da plataforma de crédito para um ecossistema de soluções financeiras para os clientes. 

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“No primeiro trimestre deste ano ainda estávamos “voando” em termos de crescimento, crescendo três vezes anualmente. No dia 13 de março mandamos todo mundo para trabalho remoto, 1,500 pessoas na época, aproximadamente”, relembra. 

Com a pandemia, a Creditas começou a gerir a crise. “Menos pelo que de fato a gente estava vivenciando e mais pelo risco econômico”, explica Furio. “Tinham dois riscos principais em termos de crédito: a carteira, que veio performando bem, e o risco de liquidez, mas o mercado de capitais continuou funcionando para as nossas securitizações, que afinal é como nós fazemos o funding para nossos clientes”. 

Em março, Furio cortou 90% do investimento no marketing e conseguiu levar a empresa no positivo, ou seja, passou a gerar caixa. “A posição de caixa da Creditas em junho era maior do que a de março. Geramos caixa nesses três meses, algo que a gente nunca tinha feito”, conta, atribuindo isso a uma desaceleração do crescimento: a startup deixou de crescer 10% a cada mês, como vinha fazendo, para crescer 2% a 3% a cada mês. “O segundo trimestre foi de muita tensão”, disse.

Em julho, a fintech botou de novo o pé no acelerador e o portfólio de crédito superou R$ 1 bilhão, o maior valor securitizado em todo o histórico da startup. A fintech terminou o terceiro trimestre com um crescimento semelhante aos primeiros três meses pré-pandemia. 

Em setembro, outubro e novembro a fintech registrou recordes de originação, novos clientes e receita. “Foi um ano que começou muito forte. Seguramos o crescimento por precaução e acabamos o ano com um ritmo de crescimento muito alto”, sintetiza Furio, que acredita em um primeiro trimestre de 2021 “espetacular”, já que a demanda por crédito tradicionalmente cresce no primeiro trimestre. 

Fonte: Creditas

“O quarto trimestre é o mais fraco, e o primeiro é o mais forte. E o que estamos vendo é que ao ritmo que estamos indo no quarto trimestre, o primeiro vai ser um trimestre incrível”. 

Em julho, a Creditas divulgou que a receita dos últimos 12 meses (desde julho de 2019) tinha alcançado R$ 260 milhões com margem líquida de clientes. Em nove meses deste ano, o valor foi quase superado: R$ 232,1 em receita. Setembro foi o melhor mês da história da fintech, com uma receita mensal de R$ 30,4 milhões e o terceiro trimestre com R$ 78,8 milhões. 

A startup concluirá 2020 dobrando seu tamanho em todas as métricas: receita, originação e tamanho do portfólio, segundo Furio, além de ter mais que dobrado o número de funcionários em relação a 2019, terminando o ano com 1,800 profissionais. O objetivo para os próximos cinco anos é no mínimo dobrar o faturamento a cada ano. 

A startup tem apostado na transparência: IPO a longo prazo

Diferentemente da maioria das startups, há três meses a Creditas começou a apostar na apresentação de seus resultados de forma mais transparente, de forma muito semelhante a das companhias de capital aberto. Perguntado se o novo processo faz parte de uma estratégia para um futuro IPO, o CEO respondeu que uma oferta pública inicial de ações faz sentido para Creditas, mas que é algo que não está no roadmap da startup a curto prazo.

“Estamos divulgando os resultados porque é um símbolo da nossa maturidade como empresa, achamos que faz sentido para todos, para nossos investidores, mas também para nossos clientes e investidores FIDCs e de mercado de capitais. Todo mundo sempre pergunta. Então ao invés de ter que responder um a um, fazemos uma comunicação trimestral e assim damos mais transparência”.

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