Patricia Starling, diretora comercial da DHL Express Brasil. Foto: DHL/Divulgação
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DHL Express inicia projeto para levar e-commerce até lockers no Rio de Janeiro

Parceria com a brasileira Clique Retire pretende resolver gargalos na última milha dos serviços logísticos e gerar inclusão social no comércio eletrônico

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A DHL Express, unidade do grupo de logística alemão Deutsche Post DHL que é líder mundial em transporte expresso, estabeleceu uma parceria com a brasileira Clique Retire com o objetivo de resolver desafios em um dos principais gargalos do comércio eletrônico: a chamada última milha dos serviços de entrega.

As duas empresas iniciaram em agosto um projeto piloto no Rio de Janeiro para integrar os serviços da DHL aos 40 equipamentos de autoatendimento inteligente da Clique Retire, instalados no metrô da cidade. Na prática, consumidores poderão retirar suas encomendas em lockers espalhados nesses pontos de grande movimentação.

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Para um consumidor, a entrega rápida do e-commerce parece mágica: alguns cliques e, em pouco tempo, um pacote chega à sua porta. Por trás disso, no entanto, está uma enorme quantidade de investimento, engenharia e resolução de entraves. Expectativas cada vez maiores de entrega rápida e barata e a explosão repentina no volume de vendas online, impulsionado pela pandemia e pelas medidas de distanciamento social, tensionaram ainda mais as redes de distribuição. De janeiro a junho, a DHL verifica um aumento de mais de 100% no volume de e-commerce transportado em relação ao mesmo período do ano passado.

Nos mercados emergentes, os desafios são ainda maiores e nem mesmo o crescente exército de entregadores é capaz de resolvê-los de forma economicamente viável. Para as lojas virtuais, a entrega das encomendas é um nó operacional, especialmente na cidade do Rio de Janeiro, onde grande parte dos moradores de áreas de risco têm restrição de acesso a fretes ou não possuem endereço postal. Outros fatores, como a ausência de porteiros ou disponibilidade para receber as encomendas, também impedem a chegada das remessas ao consumidor final.

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Muitas pessoas e comunidades estão, na prática, fora do alcance do comércio eletrônico. De acordo com a DHL, cerca de 47% da população do Rio de Janeiro têm algum tipo de restrição de logística e, em São Paulo, esse índice chega a 25%. 

“Um grande foco do projeto está na inclusão”, diz Patricia Starling, diretora comercial da DHL Express, em entrevista ao LABS

No Rio de Janeiro, em específico, mais de 70% dos CEPs não têm cobertura de entrega, e o projeto com a Clique Retire oferece uma forma de integrar essas pessoas ao comércio eletrônico.

Patricia Starling, diretora comercial da DHL Express

Por meio do projeto, varejistas integrados aos serviços da DHL poderão oferecer aos consumidores a retirada das encomendas nos e-Box da Clique Retire. Além da inclusão, portanto, a parceria oferece uma boa dose de comodidade. Starling explica que os lockers asseguram que a mercadoria chegue ao destinatário com agilidade e sua retirada pode ser feita no momento mais oportuno.

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“Os clientes que optam por fazer compras pela internet prezam pela conveniência. Por exemplo, jovens que voltam de trabalho e usam o metrô podem pegar os itens nos lockers. É um modelo muito interessante”, afirma Starling. 

Além de interessante, o modelo já é bastante difundido em alguns mercados internacionais. A executiva relata que a DHL Express no Brasil realizou estudos prévios junto às divisões da empresa que já operam com o sistema de lockers, como Hong Kong e Alemanha.

Ponto da Clique Retire com smart lockers no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação

Clique Retire é pioneira em smart lockers

A Clique Retire é precursora na operação de redes de “smart lockers” no Brasil, em que usuários podem retirar os próprios produtos por meio de QR Codes recebidos em seus celulares, tanto para segmentos B2B como B2C

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O projeto piloto da parceria iniciada no Rio de Janeiro conta com “10 a 12” clientes de e-commerce em prospecção. “Estamos em conversas com clientes de todos os portes, porque isso era muito importante para a gente. Tanto varejistas maiores, como pequenas empresas que desejam oferecer novas opções de entrega no Rio de Janeiro”, diz Starling. “O mix é importante nessa fase do projeto.”

A iniciativa deve ser expandida em breve para outras regiões do Brasil, de acordo com a demanda por atendimento. Segundo a diretora comercial, em 2021 o sistema deve estar sendo expandido para as principais capitais do Brasil. 

“Nós e a Clique Retire não estamos engessados em cronograma de expansão. Nesta primeira fase, faremos as integrações necessárias e vamos ajustando,” diz a executiva. Além dos lockers, a DHL integrará as lojas próprias e 340 parceiros de coleta no projeto. O plano da Clique Retire é ter entre 500 e mil lockers instalados pelo país até o final de 2020.

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Gustavo Artuzo, diretor executivo da Clique Retire, também acredita que a inovação vai beneficiar consumidores e lojistas online, e vai além ao considerar que a parceria pode até mesmo estimular a economia. “A plataforma da Clique Retire facilita a entrega de tudo o que pode ser comprado pela internet e que caiba em um terminal de autoatendimento”, pontua.

A parceria também vai beneficiar pessoas que têm dificuldade em receber encomendas, como quem não está em casa no horário comercial ou mora em prédios com portaria remota. Isso potencializa o atendimento a 75% da população do país.

Gustavo Artuzo, diretor executivo da Clique Retire

Processo de digitalização já ocorria antes da pandemia

A DHL já vinha mirando na expansão da digitalização, e mesmo o projeto com a Clique Retire vinha sendo gestado desde o ano passado. A pandemia acelerou os passos. “Em uma ou duas semanas, tivemos que nos readaptar pela velocidade em que tudo ocorreu”, relata a diretora da DHL. 

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Ela conta que, em março e abril, a empresa foi afetada pela diminuição do e-commerce cross-border e pela redução no número de voos comerciais. Por outro lado, o comércio eletrônico dentro do país cresceu tremendamente. “A partir de maio, houve uma reação forte no volume do comércio internacional, e em junho e julho os negócios caminham superbem.”

Globalmente, a DHL pôde contar os aviões próprios, que mesmo não operando no Brasil, ajudaram a empresa no processo de reorganização de fluxos de mercadorias.