Os cofundadores da Dolado
Os cofundadores da Dolado: Marcelo Loureiro (community strategist), Guilherme Freire (CEO) e Khalil Yassine (COO). Foto: Paulo Vitale/Divulgação.
Negócios

Valor Capital Group dobra a aposta na Dolado, startup que quer descomplicar a vida dos pequenos lojistas

Plataforma de compra e venda de estoques levantou R$ 53 milhões em rodada Série A liderada pelo fundo americano e acompanhada por Flourish, GFC, Clocktower Ventures, IDB Lab e Endeavor

Read in english

Doladostartup de compra e venda de estoques com foco em pequenos lojistas, acaba de levantar uma rodada Série A de R$ 53 milhões liderada pelo fundo americano Valor Capital Group, com participação do Flourish (fundo do Grupo Omidyar), Global Founders Capital (GFC), Clocktower Ventures, IDB Lab e Endeavor. Os novos recursos serão usados principalmente para contratações nas áreas de produto, tecnologia e relacionamento com o cliente. Com mais de 20 mil clientes já utilizando a plataforma ativamente e pouco mais de 100 funcionários, a startup quer encontrar as pessoas certas para chegar a todos os cantos do Brasil e multiplicar sua base de usuários por cinco.

A ideia para a criação da Dolado veio do dia a dia típico dos pequenos comerciantes e que o cofundador e COO da startup, Khalil Yassine, pôde experimentar de perto em 2019. Na época, ele trabalhava no mercado de investimentos, mais precisamente com fusões e aquisições e abertura de capital na bolsa. “Também gostava muito do mundo da engenharia, por causa da minha formação pelo Insper. Mas eu olhava para o lado ali no banco e não me via fazendo aquilo por muito tempo. Vindo de uma família de comerciantes, eu passei, em outubro daquele ano, a me dedicar a entender o comércio. Trabalhava de segunda a sexta no Citi, e aos fins de semana com o meu pai”, conta Yassine. Passando por diversas tarefas, do dia a dia no caixa à compra de mercadorias, Yassine percebeu a dor de cabeça que era a missão de repor estoque.

LEIA TAMBÉM: Com mais US$ 135 milhões no bolso, app de compras em grupo Facily vai para mais cidades (e países) em 2022

“Meu pai levantava super cedo, ia para o Centro, para a região da 25 de Março, e voltava correndo para atender na loja. E todo pequeno comerciante faz a mesma coisa. É o que a gente chama aqui na Dolado de círculo vicioso de compra: o lojista sai cedo, compra as mercadorias correndo e volta correndo para tocar o seu próprio negócio. Não tem tempo para pesquisar, analisar criticamente os produtos. Com isso, acaba também sempre comprando as mesmas coisas”, relata Yassine. “Meu ‘MVP’ foi um FaceTime com uma gerente de loja. Liguei para ela lá da 25, comprei os produtos que ela pediu, e levei para ela. Ela pagou e a primeira pergunta que me fez foi: semana que vem que dia você faz isso de novo? Eu me demiti logo em seguida com a ideia era criar um marketplace B2B”.

Ele conversou com vários fundadores e um deles, Guilherme Bonifácio, cofundador do iFood, apresentou Yassine a Guilherme Freire e Marcelo Loureiro, pois eles estavam de olho em uma startup indiana, chamada Udaan, que buscava resolver a mesma dor que Yassine. Entre janeiro e fevereiro, os três começaram a desenvolver a primeira versão do produto.

Uma pandemia no meio do caminho

A versão zero da Dolado foi lançada em março de 2020, mas junto com ela veio o novo coronavirus. Com centenas de milhares de lojas em São Paulo fechadas naquelas primeiras semanas e meses de crise sanitária, tudo foi por água abaixo. “Se ninguém vendia, não tinha porque comprar. E aí a maior dor desses lojistas passou a ser vender. Várias das maiores empresas do país começaram a falar sobre digitalizar o pequeno comércio e como a gente tava já muito próximo desse público notamos o gap que havia entre a vontade desses lojistas de se digitalizarem e eles conseguirem se digitalizar de fato”, conta Yassine.

Em julho de 2020, a Dolado usou a solução que ela tinha criado originalmente para os fornecedores e disponibilizou, gratuitamente, para que pequenos comerciantes pudessem digitalizar seu catálogo de produtos e compartilhá-lo via WhatsApp. “Em costumo falar que foi nesse momento que a Dolado realmente nasceu. Não foi antes”, frisa Yassine. Em pouco tempo, a solução viralizou. Em cerca de seis meses, mais de 5 mil comerciantes usaram a plataforma, permitindo que a Dolado aprendesse sobre as principais dores de cada tipo de comércio, de lojas de assistência técnica a restaurantes.

Foi para ensinar os lojistas a usarem a solução, que a Dolado acabou criando a figura do analista de negócios, alguém influente, que conhece os comércios do bairro, e que ia bater na porta dos lojistas para mostrar como tirar a foto de um produto, por exemplo.

Em dezembro de 2020, a Dolado levantou a sua rodada semente de US$ 2,2 milhões, também liderada pelo Valor Capital Group, com base no sucesso dessa iniciativa.

LEIA TAMBÉM: Plataforma com foco em pequenos e médios lojistas, Inventa capta Série A de R$ 115 milhões

Marketplace da Dolado. Imagem: ilustração.

Agora sim, a compra de mercadorias, com um foco diferente dos concorrentes

Antes de completar um ano, a Dolado lançou seu segundo produto. Agora sim, um e-commerce que aos poucos foi virando um marketplace para conectar fornecedores e pequenos comerciantes.

Diferentemente de outras startups latino-americanas do segmento, que fizeram um movimento similar para atender restaurantes (Cayena), mercearias e lojas de comésticos (Inventa), lojas de vestuário (ZAX) ou de materiais de construção (Oico e Tul), o foco inicial da Dolado está nos pequenos comerciantes que vendem de eletrônicos e acessórios para celular. “A gente tomou um caminho diferente porque percebemos que esse ramo é relativamente mais novo que outros — tem a idade do iPhone – e, por isso também, esses lojistas são mais desassistidos”, explica Yassine.

A Dolado já tem mais de 20 mil lojistas ativos, comprando produtos eletrônicos via sua plataforma — cadastrados são mais de 50 mil. Há cerca de um mês, a startup passou a atender todo o Brasil.

Toda a parte logística é feita com distribuidoras parceiras. As entregas são feitas em três dias e são grátis para pedidos acima de R$ 350. Os lojistas não pagam nada para a Dolado. A remuneração da empresa sai de uma taxa de cada pedido feito, que não é fixa — depende do volume e custos de cada pedido.

Sem revelar números absolutos, a Dolado diz ter visto suas receitas crescerem “dezenove vezes” em 2021. Até o fim de 2022, a Dolado quer atender 100 mil empreendedores em todo o país.

LEIA TAMBÉM: Essa startup está mudando o jeito de vender por catálogo na Colômbia e no México

“Mesmo diante de um ano desafiador, a Dolado mostrou resiliência e comprovou sua capacidade de crescimento”, afirmou Antoine Colaço, do Valor Capital Group, em comunicado. “A aposta da companhia em olhar para o potencial dos lojistas que estão fora dos grandes centros vai além de crescer a própria base. Promover a digitalização destes pequenos empreendedores é também contribuir para o desenvolvimento do setor como um todo”, ressaltou.