Mesmo com uma retração de 60% nas vendas nos primeiros meses de isolamento social na América Latina, o Dafiti Group, que se apresenta como líder no e-commerce de moda e lifestyle da região, conseguiu driblar os problemas de produção e distribuição da cadeia têxtil e cresceu 52% no terceiro trimestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019. A companhia, que conta com operações em quatro países (Brasil, Argentina, Colômbia e Chile), atingiu um Net Merchandise Value (NMV) de R$ 1 bilhão.

“O setor de moda foi duramente impactado pela pandemia, justamente por depender de impulsos externos: uma festa, um encontro com amigos. Além disso, o fechamento de fábricas e a dependência de importação afetou todo o mix de produtos”, conta Philipp Povel, investidor, co-fundador e CEO do Dafiti Group, ao LABS.
Entre as estratégias do marketplace (e de boa parte de concorrentes do ramo), o primeiro passo foi adequar o mix de produtos oferecido ao consumidor: com mais tempo em casa, as pessoas começaram a buscar roupas e itens mais confortáveis e básicos, que precisaram ser destacados nos canais de venda da empresa. Outro ponto importante, diz o CEO, foi o de oferecer condições especiais para que pequenas e médias marcas, que ainda não atuavam no mercado on-line, pudessem entrar na plataforma de vendas.
Entre as outras medidas tomadas pela Dafiti para enfrentar a crise estão a inclusão de novas grifes no site (foram 500 apenas este ano), o lançamento de um cartão de crédito próprio e o investimento no desenvolvimento de seus canais mobile e aplicativos (Dafiti, Kanui e Tricae são os apps do grupo). “Nossa cultura organizacional preza pela autonomia grande dos times, com processos que permitem agilidade, o que nos permite reagir de maneira ágil nesses tempos de mudança”, frisa Malte Huffman, co-fundador e managing director da Dafiti.

Facilitar a devolução foi outra medida para melhorar a jornada do consumidor, para que ele não precisasse sair de casa em meio à pandemia. “Roupa é algo individual. Quando não cai bem, você quer devolver. Por isso, decidimos oferecer um serviço de coleta em casa para troca ou devolução, novidade que pretendemos manter no futuro”, diz Povel.
Outra conveniência pós-compra já implementada no Chile com sucesso (país que, segundo o CEO, foi o que melhor reagiu na retomada das vendas), e que começou a ser testada no Brasil também, mais precisamente, em alguns bairros da cidade de São Paulo, é a entrega via bicicleta.
O cliente recebe o produto no mesmo dia da compra, uma dinâmica que só é possível porque a empresa já conta com cinco centros distribuição para atender os quatro mercados em que opera na América Latina. “Mesmo com os impactos negativos da situação macroeconômica, o consumidor migrou para o on-line, e isso a gente viu refletido no nossos números de clientes ativos”, pontua Huffman. A base ativa de clientes saltou 30,7% este ano, chegando a 7,3 milhões de clientes nos quatro países em que está presente.
A crise do setor têxtil brasileiro, e a competição com os chineses
Crescer não só em meio à crise gerada pela COVID-19, mas em meio às dificuldades do setor têxtil no Brasil é feito relevante. O setor registrou queda de 19% nas vendas internas no país no primeiro semestre de 2020 teve, segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Mesmo com o crescimento das compras on-line – 13 milhões de pessoas na América Latina compraram pela internet pela primeira vez em 2020, de acordo com levantamento da Visa Consulting & Analytics –, o setor de moda sofreu muito por depender da convivência social fora de casa como uma das principais motivações para o consumo.
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Além disso, o setor depende fortemente da importação de matéria-prima China, ao mesmo tempo em que enfrenta a crescente concorrência das plataformas de e-commerce de moda do país asiático, não só no Brasil, mas em toda a América Latina.
Em 2020, a Shein, gigante chinesa do setor, caiu no gosto de youtubers e influencers brasileiras. O site, que conta com uma gama ampla de tipos de roupa e é recheado de tendências, já tem versão em Português e possibilidade de compra em real, com peças a preços abaixo do mercado.
Mas Povel não enxerga a concorrência chinesa como uma ameaça ao Dafiti Group. “Nossa proposta de valor se baseia em pilares como conveniência, pagamento simples e rápido, portfólio relevante, preço justo e inspiração”, frisa.
Tem pessoas que querem o mais barato, mas muitas (outras) querem marcas autênticas e locais. A Dafiti é diferente, somos 100% focados em moda. Não vendemos produto do lado de geladeira, o que garante que a marca se sinta protegida ao chegar para o cliente final, que quer algo inspirador
PHILIPP POVEL, INVESTIDOR, CO-FUNDADOR E CEO DO DAFITI GROUP.