A volatilidade da América Latina nunca foi motivo suficiente para que a região deixasse de atrair investidores, pelo contrário. Depois que o PIB atingiu recordes em 2012, o colapso dos preços globais das commodities fez com que a região perdesse mais de um trilhão de dólares de 2014 a 2016. Agora, graças à estabilização dos preços das commodities, a força da economia americana e a recuperação da estabilidade política, os investidores estão otimistas sobre a América Latina.
A região encontra-se mais uma vez batendo à porta do promissor crescimento; em 2019, as projeções apontam que o PIB da América Latina aumentará em quase US$ 500 bilhões, crescendo 2,8%. Nos próximos 10 a 15 anos, os índices de crescimento da região não deverão ser menores do que 2,5% ao ano, superando os Estados Unidos, a Europa e o leste da Ásia (Figura 1). E graças à sua confiança renovada, ao aumento da renda disponível e à rápida adoção da tecnologia, os latino-americanos estão mais preparados do que nunca para participar de um mercado global. Como a região está em meio a um processo de digitalização, os olhos interessados de grandes e-commerces globais estão brilhando ao olharem para a região.

O fundamento para o crescimento
A América Latina é uma das regiões mais favoráveis a adoção de dispositivos móveis e internet do mundo. A GSMA prevê que a região terá 450 milhões de assinaturas de internet móvel – chegando a 100% de penetração de adultos – até 2020. Não à toa, o Brasil (# 2), México (# 6) e Argentina (# 8) estão no top 10 dos mercados globais com mais horas dedicadas a internet, além disso esses países são líderes globais no uso de WhatsApp e aplicativos de redes sociais.
Mesmo que as vendas de e-commerces na América Latina tenham acumulado mais de US$ 100 bilhões em gastos anuais no ano passado, o mercado da região permanece em grande parte ainda inexplorado. O comércio eletrônico representa apenas 2% do PIB total da região e menos de 1 em cada 4 pessoas são compradores online. Em forte contraste de desenvolvimento, na América do Norte o comércio eletrônico constitui 5% do PIB e 6 em cada 10 pessoas compram online.
O crescimento contínuo do e-commerce na América Latina é, portanto, iminente, apoiado tanto por dinâmicas internas quanto também externas. A relação com a divesidade demográfica é um exemplo. A América Latina é a região com o envelhecimento mais rápido do mundo, a população de crianças entre 0 e 14 anos de idade está projetada para diminuir 7% de 2010 a 2020. Dessa forma, a redução nas taxas de fecundidade juntamente com o crescimento econômico, proporcionam às famílias mais renda disponível para gastar em bens não essenciais.
Além disso, a região tem a presença de áreas de varejo físico, com pouco mais da metade do espaço de varejo em comparação com os EUA, e quase o dobro da população. Essa limitação física e o alto custo de administrar uma loja estão levando os consumidores ao comércio eletrônico.
Por fim, à medida que os compradores procuram pela internet, eles buscam cada vez mais marcas internacionais. Tanto no Brasil quanto no México, o ticket médio para compras cross-border online é mais barato do que os pedidos nacionais, fazendo com que o comércio eletrônico internacional cresça a uma velocidade duas vezes superior ao nacional (42% vs 18%, respectivamente).
Por esse ponto de vista, não é surpresa que a América Latina seja o segundo mercado de crescimento mais rápido em comércio eletrônico do mundo, com previsões de expandir 25% ao ano até 2021 (Figura 3).


Áreas com potencial primordial
Agora, quais verticais de e-commerce estão preparadas para crescer mais rapidamente? Como mencionado acima, apesar de ser o mais expressivo, o e-commerce de varejo ainda é imaturo e será movimentado pela entrada de concorrentes internacionais e queda de preços. Em toda a região, o varejo eletrônico representa apenas 2,5% de todos os gastos de varejo, comparado a 10% nos EUA e 20% na China. Além da crescente expansão da Amazon, a entrada de marcas chinesas como AliExpress, Wish e Deal Extreme estão facilitando o acesso dos consumidores latino-americanos a esses produtos com preços cada vez mais acessíveis.
Já o segmento latino-americano de serviços tem se mostrado mais tradicional e lento para mudanças. Por isso, enfrentar esse desafio tornou-se a tarefa de empresas internacionais ou mesmo locais que surgiram nos últimos anos com o objetivo de enfrentar o déficit da região, particularmente em transporte e logística.
São Paulo e a Cidade do México estão entre os maiores mercados mundiais do Uber, por exemplo, e a América Latina como um todo tornou-se a região de crescimento mais rápido da empresa. Os moradores de São Paulo têm mais de 150 mil motoristas da Uber à disposição e, de acordo com uma pesquisa realizada com pilotos da Uber em 65 países, os paulistanos usam o aplicativo com mais frequência do que os cidadãos de qualquer outra cidade do mundo.
Enquanto isso, o “Uber das entregas”, Loggi, atende a mais de 100 milhões de pedidos no Brasil todos os dias. Da mesma forma, a Rappi, líder regional em entregas sob demanda, está vivendo um crescimento de 30% mensal em vendas no Brasil, na Colômbia e no México. Outros serviços digitais, como Netflix, Spotify e até mesmo plataformas educacionais online, estão alavancando solucionando os antigos problemas de serviços na América Latina, oferecendo serviços a consumidores latino-americanos cada vez mais famintos e conectados.
O Rappi, o Uber e o AliExpress são apenas alguns dos muitos exemplos de empresas que saltaram para um território inexplorado, abordando pontos problemáticos regionais na América Latina. E apesar da volatilidade da região, esses pioneiros saíram vencedores.
Como um todo, o mercado latino-americano permanece altamente consolidado entre algumas empresas privadas e estatais. Décadas de competição limitada criaram ineficiências estruturais que levaram a prestação ruim de serviços aos consumidores – isso abre um caminho claro para as empresas internacionais impactarem a mudança na região e se beneficiarem dela.
Com o crescimento econômico positivo previsto, o espaço subexplorado no mercado de e-commerce, as mudanças demográficas favoráveis e um consumidor cada vez mais sofisticado, fazem da América Latina uma oportunidade excepcional de negócios para players internacionais dispostos a aproveitar as ondas dos altos e baixos da região. Com o planejamento correto, o conhecimento local e um espírito comprometido, o potencial na região é ilimitado.