A Ease Labs, empresa brasileira que atua na importação e no desenvolvimento local de produtos à base de cannabis sativa, anunciou hoje a captação de R$ 12 milhões, em rodada liderada pelo MadFish, fundo de investimentos do tenista Bruno Soares. Os recursos chegam em um momento chave para a empresa, que se prepara para lançar comercialmente os primeiros medicamentos fabricados em Belo Horizonte, após conseguir a certificação da Anvisa para desenvolver os produtos dentro do país, e implementação de uma estratégia agressiva de distribuição, vendas e marketing junto à comunidade médica.
Fundada em 2018 por Gustavo Palhares e Guilherme Franco, a Ease Labs começou com a importação e distribuição de produtos à base de cannabis, atenta a uma demanda crescente que, na época, encontrava dificuldade para ser atendida devido à legislação brasileira – o Brasil legalizou a maconha medicinal em 2015, mas apenas para importação em caráter excepcional, ou seja, em casos específicos.
“O processo de importação era extremamente burocrático, os preços eram altos, a entrega era demorada. Começamos estruturando um modelo de negócio para atacar essas dores, com uma base no Uruguai, e de lá os produtos eram mandados para cá”, contou Palhares em entrevista ao LABS.
Uma mudança na legislação em 2019 (Resolução da Diretoria Colegiada 327 da Anvisa) legalizou a venda e fabricação local de produtos medicinais à base de Cannabis, embora a matéria-prima, insumos ricos em canabidióides como o CBD e o THC, ainda tenha de ser importada. A RDC 327 também estabeleceu a estrutura regulatória para os medicamentos derivados da cannabis de acordo com os mesmos padrões farmacêuticos rígidos aplicados a qualquer outra droga, um avanço evidente para o mercado de maconha medicinal.
Palhares lembrou que, nesse período, acompanhar as idas e vindas regulatórias foi crucial para posicionar a empresa. “Nós mergulhamos no mercado da cannabis e nos movimentos regulatórios que foram acontecendo em outros países e estudamos muito o nosso órgão regulador. Acompanhamos as discussões na Anvisa e entendemos que havia uma regulamentação mais robusta em curso que iria permitir a produção e venda desses medicamentos. A gente vislumbrou isso e se antecipou com a aquisição da farmacêutica. Deu muito certo”.
Com a farmacêutica, a Ease Labs começou a estruturar a operação para produzir seus próprios medicamentos à base de cannabis dentro do país, importando os insumos de empresas dos Estados Unidos, Colômbia, Itália e Israel. A primeira grande vitória dessa nova etapa aconteceu em janeiro, com a autorização do primeiro produto do portfólio pela Anvisa, o Extrato de Cannabis sativa Ease Labs. Até aqui, apenas 11 produtos fabricados no país conseguiram essa autorização da agência reguladora.
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A Ease Labs tem ainda outros dois produtos em processo de autorização e cinco em fase de desenvolvimento. Palhares explicou que a ideia é compôr um portfólio diversificado a preços acessíveis de produtos voltados às áreas da psiquiatria, neurologia, medicina da dor e medicina e saúde do esporte.
“Nós temos um portfólio mapeado de oito produtos atualmente, entre fitocomplexos com alto teor de CBD e baixo teor de THC, com alto teor de CBD e THC e com CBD isolado. Mas temos capacidade de chegar em 40 produtos a base de cannabis”, disse Palhares. Além dos produtos desenvolvidos dentro de casa, a Ease Labs mantém suas operações de importação e distribuição.
De acordo com dados do Statista, o valor do mercado de maconha medicinal no Brasil pode superar os US$ 228 milhões em 2028. A Ease Labs sabe desse potencial: a empresa projeta um faturamento de R$ 240 milhões nos próximos três anos e um mercado de 59 milhões de pessoas.
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Para alcançar isso, Palhares aposta em uma estratégia multidisciplinar de vendas, distribuição capilarizada, marketing e, principalmente, de ampliação da base prescritora – atualmente, a empresa atende cerca de 2 mil pacientes e atua junto a 600 médicos.
“Nesse momento de transição de uma produção terceirizada para uma produção própria, com distribuição em escala, estamos investindo pesado para aumentar nossa base prescritora. A gente sabe que sem os médicos não conseguiremos alcançar nossos objetivos de crescimento, então estamos fazendo um trabalho intenso de educação, informação e marketing junto à comunidade médica e aos pacientes”.
Para Soares, a empresa tem potencial para ser um player global no mercado de cannabis medicinal e de inovação do setor farmacêutico. Entusiasta da cannabis medicinal, ele contou que decidiu investir no negócio a partir da sua própria experiência com o produto.
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Tenista profissional de ponta, Soares construiu uma longa e sólida carreira nas quadras de tênis e recorre aos produtos ricos em CBD já há alguns anos para o tratamento de inflamações pós-atividade esportiva e recuperação muscular. Da experiência pessoal, surgiu o interesse em investir e contribuir para o desenvolvimento de uma indústria farmacêutica mais natural.
“Vi muitos atletas usando vários medicamentos sintéticos e sofrendo todo tipo de efeitos colaterais. Acredito em uma abordagem mais natural do cuidado com a saúde. A Ease Labs não só promove esse conceito, como desenvolveu ao longo desses anos um know how diferenciado do mercado farmacêutico e regulatório e um modelo de negócios inovador”, disse.