Foto: Captura de Tela/Website Starton Therapeutics
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Empresário mexicano busca 2.500 investidores para startup que promete tratamento contra o câncer

São necessários US$ 20 milhões para dar continuidade à sua empresa, que desenvolve uma tecnologia para prolongar e melhorar a vida de pacientes com câncer

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“O não você já tem, vá em frente em busca do sim”, diz um velho ditado que se aplica bem a empreendedores que necessitam levantar capital. Mas para conseguir o sim é preciso mais do que mero desejo.

Essa é a experiência do mexicano Pedro Lichtinger, CEO e presidente da Starton Therapeutics, que em quatro anos já arrecadou US$ 27 milhões de 250 investidores. “Foi com sangue, suor e lágrimas, centenas de apresentações com pequenos bancos, reunindo grupos para atrair pessoas que têm dinheiro, fundos familiares”, conta o empresário.

Pedro Lichtinger, CEO e presidente da Starton Therapeutics. Foto: Divulgação

Mas ainda não é suficiente. A startup agora precisa arrecadar mais US$ 20 milhões para passar à próxima etapa de crescimento, decisiva para provar a viabilidade do negócio e abrir o capital dentro de 10 meses. A estratégia não contempla investimento de fundos de capital ou contratação de dívidas, somente a participação direta de cerca de 2.500 investidores.

Lichtinger iniciou sua startup de biotecnologia em 2017, em grande parte para ajudar o irmão, diagnosticado com câncer e metástase há sete anos, e milhões de pacientes como ele. Seus pontos mais fortes são a paixão pelo desenvolvimento de tecnologia em saúde, 35 anos de experiência na indústria farmacêutica – a maior parte como executivo sênior da Pfizer – e uma equipe de cientistas renomados.

A Starton Therapeutics promete melhorar a qualidade de vida e a longevidade de pacientes com câncer por meio de uma tecnologia transdérmica – um adesivo – que atua como veículo para administrar medicamentos comprovadamente eficazes em pacientes com câncer. Essa forma de administração é capaz de ampliar a potência e reduzir os efeitos colaterais dos medicamentos.

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A startup tem cinco programas em fase experimental com diferentes medicamentos, e um deles já foi bem-sucedido na fase com animais. Trata-se do Revlimid, medicamento usado por pessoas com um determinado tipo de câncer de sangue.

“Os animais que não receberam o medicamento morreram após 28 dias; os animais que receberam Revlimid (administrado da maneira tradicional), morreram após 52 dias; os animais que receberam o nosso tratamento ainda estavam vivos após 100 dias, e 20% deles livres do câncer”, diz o empresário.

O uso do adesivo permite uma liberação prolongada e reduz o uso do medicamento em até 70%, o que diminui os efeitos colaterais. “O Revlimid é administrado a cada 24 horas, mas após 14 horas você não tem mais o medicamento no corpo e as células cancerosas têm espaço para desenvolver resistência. Com um adesivo que se usa no ombro durante sete dias, o medicamento é liberado o tempo todo”.

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O FDA (Food and Drug Administration), autoridade de Saúde dos EUA, já aprovou o projeto de testes em humanos, que poderiam começar em meados de 2022. Após um prazo de quatro meses seria possível saber se o sistema funciona ou não.

“Os momentos de inflexão de valor são os momentos de sucesso científico, quando aparecem os dados que comprovam as hipóteses que estão sendo testadas”, diz Pedro Lichtinger.

Mais do que um reality show

Depois dessas vitórias, Lichtinger colocou em prática a estratégia para obter a outra parcela do financiamento. Para isso, participou de um reality show, o Unicorn Hunters, onde um painel de investidores aposta em empresas que pretendem virar “unicórnios”, ou seja, chegar a ter uma avaliação de mais de US$ 1 bilhão. O programa funciona também como vitrine para chamar a atenção de outros investidores.

Ao apresentar o projeto, Lichtinger explicou que com a oferta pública inicial poderá levantar US$ 50 milhões e atingir o valor de US$ 700 milhões. A afirmação surpreendeu um dos investidores, que perguntou como a startup se tornaria um unicórnio.

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Após a fase 2, ou seja, a fase de testes com humanos, respondeu Lichtinger. Se ela for bem-sucedida, a multiplicação do investimento será exponencial. “Quando chegarmos a humanos (se for eficaz) teremos um aumento de volume, e em nove a 18 meses você verá seu dinheiro dobrar. Se você tiver paciência até 100%”, respondeu.

O potencial do negócio é enorme. Só as vendas do desenvolvimento do Revlimid poderiam gerar US$ 3 bilhões em receita no primeiro ano. Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2020 havia 19,3 milhões de pessoas com câncer no mundo.

Os argumentos de Lichtinger conseguiram convencer três dos sete membros do painel a investir.“Nosso sonho é tornar o câncer apenas uma doença crônica, como a Aids. Hoje os pacientes têm até oito anos de expectativa de vida, e a qualidade de vida é comprometida tanto pelo câncer quanto pelos medicamentos. É isso que queremos mudar”, afirma o empresário mexicano.

(Traduzido por Adelina Chaves)

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