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Da esquerda para direita: Pablo Lafosse,Mariano Mayer, Patricio Jutard, Sacha Spitz e Jorge Aguado, os fundadores do Newtopia VC. Foto: Divulgação
Negócios

Newtopia VC: o fundo que pretende ensinar a receita de sucesso das startups argentinas para a América Latina

Após lançar seu primeiro fundo, o Newtopia VC promete investir US$ 50 milhões em startups latino-americanas capazes de escalar negócios e resolver as dificuldades da região

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Criar uma startup de sucesso na Argentina é complicado. Com um produto interno bruto (PIB) estimado em US$ 383,1 bilhões, o país é dono da terceira maior economia da América Latina. No entanto, os empreendedores argentinos não dispõem de um mercado doméstico gigante onde suas startups possam escalar operações antes de expandir — caso das startups brasileiras e mexicanas.

Se há uma lição que os empreendedores argentinos podem ensinar é como projetar seus negócios tendo em vista o mercado regional para ganhar escala. Fundado por alguns dos principais nomes do ecossistema de inovação da Argentina, o Newtopia VC quer ajudar startups em estágios iniciais a crescer globalmente.

Em agosto, a gestora de capital de risco anunciou seu primeiro fundo de $ 50 milhões para investir em startups com tecnologias inovadoras na América Latina. Por meio da injeção de capital e uma abordagem de mentoria, o fundo planeja “ampliar a comunidade de empreendedores e compartilhar conhecimentos e experiências sobre como superar obstáculos sociais e econômicos da região para escalar negócios regional e globalmente”, conta o cofundador do Newtopia, Sacha Spitz, em entrevista ao LABS.

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Ex-diretor do programa de incubação da Universidade de San Andrés (Buenos Aires, Argentina) e sócio da Yavu Ventures, Spitz explica que o Newtopia procura por startups em estágios iniciais (pré-seed e seed) e pretende investir entre US$ 100 mil e US$ 500 mil e ainda prevê a possibilidade de fazer um investimento seguinte de até US$ 1 milhão em rodadas de Série A.

“As startups precisam ser orientadas a tecnologia e apresentar modelos inovadores de negócios que possam ser escaláveis na região e/ou globalmente. Nos últimos anos, [observamos] que as companhias da região não são apenas modelos de sucesso do Vale do Silício replicados na América Latina. Agora, nós podemos achar startups, ideias e modelos de negócios inovadores que são criados e exportados de Colômbia, Brasil, México, Argentina, Uruguai e Chile para o mundo”, afirma Spitz.

Ao lado de Spitz no Newtopia VC estão ainda Patricio Jutard (cofundandor o unicórnio argentino Mural), Mariano Mayer (ex-secretário nacional para empreendedores e PMEs da Argentina e fundador da Marea Venture Partners), Jorge Aguado (ex-secretário nacional de ciência, tecnologia e inovação da Argentina) e Juan Pablo Lafosse (fundador e CEO da Almondo).

Além disso, o fundo de capital de risco também recrutou uma comunidade de mais de 70 executivos, investidores, mentores e sócios para guiar as companhias em seu portfólio. Um desses nomes é o de Marcos Galperin (fundador de outro unicórnio argentino, o Mercado Livre).

LABS — Quais são os principais desafios para encontrar negócios inovadores na Argentina e outros mercados da América Latina?

Sacha Spitz — Há uma revolução acontecendo por conta do talento impressionante que há na região, e esse talento é capaz de ultrapassar as situações e desafios de cada país. De certa forma, nossa missão com o Newtopia VC é fomentar a comunidade de empreendedores, compartilhar conhecimento e experiências sobre como superar obstáculos econômicos e sociais que afetam a região, e escalar regional e globalmente.

O Brasil e México são um pouco diferentes do resto da América Latina porque eles têm mercados domésticos gigantes, onde suas startups podem escalar antes de expandir para outros países. Esse não é o caso na Argentina, onde os empreendedores precisam desenvolver seus projetos com uma mentalidade regional para alcançar escala. Essa situação é similar ao que acontece em Israel, o exemplo mais claro de como o talento pode se destacar globalmente, aproveitando mais o potencial para inovação e transformação do que apenas as possibilidades do mercado interno.

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LABS — As startups na América Latina têm uma tendência a buscar inovações que resolvam problemas sociais e ineficiências da região. Da perpectiva de um fundo de investimento, quão importante é o impacto social ao escolher uma startup?

Sacha Spitz — Esse é um elemento fundamental na nossa escolha; a primeira pergunta que sempre fazemos quando buscamos uma startup é ‘como ela está fazendo o mundo um lugar melhor’? Nós focamos em startups com um propósito claro e com um senso de triplo impacto, projetos com habilidade de escalar em tempo curto e promover boas condições de trabalho, estudo, saúde, segurança, dentre outros. Ajudamos empreendedores a construir companhias admiradas com uma visão de longo prazo e que possam mudar os paradigmas de suas indústrias. Também promovemos empresas comprometidas com [impacto] social e ambiental. Esse é o grande poder da economia do conhecimento: não é apenas uma vertical por si só, mas ela impacta positivamente os outros setores ao ajudá-los em suas transformações digitais. De acordo com o relatório Tecnolatinas 2021, desenvolvido pela IDB, as startups da região geraram mais de US$ 21 bilhões em valor, levantaram mais de US$ 28 bilhões em capital, e têm mais de 245 mil funcionários.

Há uma revolução acontecendo por conta do talento impressionante que há na América Latina, e esse talento é capaz de ultrapassar os desafios de cada país da região

Sacha Spitz, Fundador do Newtopia VC

LABS — A tese de ESG tem se tornado cada vez mais relevante para investidores. Quais são as políticas de vocês nesse sentido? Vocês buscam por ESG nas startups investidas?

Sacha Spitz — Nós acreditamos que investidores, startups e consumidores estão alinhados na busca por empresas com propósitos fortes. Nos importamos muito no tipo de companhia que vai receber nosso investimento. Ainda há muito trabalho a ser feito no campo de ESG tanto na região quanto no mundo; da nossa perspectiva, queremos ajudar provendo as startups com as ferramentas e métodos necessários para estabelecer indicadores e formas de mensurar seus impactos.

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LABS — Mercado Livre e Decolar são provavelmente as companhias argentinas mais famosas no Brasil. Alguma aposta nas próximas startups argentinas que devem chamar a atenção por aqui?

Sacha Spitz — Claro, há uma série de startups nesse sentido; a Nuvemshop é outra startup argentina operando com sucesso no Brasil. Já investimos na Choiz (saúde) e Wibson (privacidade), duas startups da Argentina que levantaram capital e estão lançando seus negócios no Brasil.

Por outro lado, claramente, o setor de fintechs está em um momento espetacular, integrando conhecimento tecnológico com um olhar abrangente para serviços financeiros, microempréstimos, crypto ativos e finanças descentralizadas. Da mesma forma, agricultura e saúde são setores vivendo uma revolução, com vários projetos importantes de impacto no bem-estar, alimentação e nos cuidados com o planeta.