Há exatamente um ano, a Facily, startup de social commerce que permite que pessoas comprem produtos em grupo e via aplicativo, levantava sua rodada Série A. De lá para cá, a sopa de letrinhas seguiu e somente neste ano o número de pedidos entregues pela empresa cresceu 46 vezes, para 7,1 milhões em outubro. Essa escala e a capacidade de fazer dar certo no Brasil uma ideia de negócio que veio da China é o que atraiu investidores para uma extensão da rodada Série D da startup.
Nesta quinta-feira (23), a Facily anuncia o aporte de mais de US$ 135 milhões, que se somam aos US$ 250 milhões anunciados em novembro, vindos da gestora de investimentos americana Goodwater Capital e do grupo de tecnologia sul-africano Prosus. A rodada também teve a participação da Rise Capital, Emerging Variant, Tru Arrow, entre outros fundos.
“Com essa extensão, que estamos chamando de Série D-1, fomos avaliados em pouco mais de US$ 1,1 bilhão. Isso não tem um valor em si, de vaidade corporativa, mas tem um valor representatividade de um sonho de startup que começamos em 2018 e que já gerou tamanho impacto no mercado e a alcançou uma massa crítica”, diz CEO da Facily, Diego Dzodan, cofundador da startup junto com Luciano Freitas, ex-Airbnb e ex-Uber, e Vitor Zaninotto, ex-SAP, ao LABS.
O executivo, que antes do empreendimento era vice-presidente do Facebook para a América Latina, acredita que todo esse crescimento está intimamente ligado à conectividade e o comportamento altamente social dos brasileiros, que não exitam em compartilhar boas ofertas com amigos e familiares.
O que a Facily faz é usar tecnologia para desintermediar cadeias de valor, mirando na base da pirâmide. “Se hoje você compra uma banana no super mercado a R$ 8,40, comprará no app por R$ 1,99, sem custo de frete”, exemplifica Dzodan, que revela que a inspiração direta da Facily é a Pinduoduo, plataforma que conecta produtores rurais e consumidores na China e, em março, ultrapassou temporariamente o gigante Alibaba em número de usuários ativos. A empresa fechou o terceiro trimestre deste ano com mais de 741 milhões de clientes ativos na sua plataforma.
No caso da Facily, o app já registra mais de 17,5 milhões de downloads e cerca de 10 milhões de usuários ativos – este último número também tem impressionado os investidores.
A parte do modelo da Facily que não veio da China foram as adequações de logística, que no Brasil é algo custoso e que, de fato, se mostrou complicado também para a startup. Ao longo do ano, a Facily foi alvo de um grande volume de reclamações (150 mil) no Procon-SP, principalmente por atrasos na entrega ou falta de reembolso.
Em um encontro com o órgão para resolver as reclamações, a startup reembolsou os consumidores e se comprometeu a reduzir as reclamações em 80% e investir R$ 250 milhões em melhorias de atendimento e logística.
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“Sendo absolutamente honesto, sincero, claramente não estávamos prontos para lidar com esse crescimento e controlar 100% do processo (…) Quando a capacidade não está pronta, a entrega demora. Ou se a infraestrutura não está pronta, a encomenda pode se perder. Essas duas áreas, aumentar as entregas e aumentar os controles, são as nossas maiores prioridades nesse momento. Tanto os recursos e quanto todo o smart money vinculado a este capital [Delivery Hero e DX Ventures, investidora de Rappi e Glovo, fazem parte da Série D] estão voltados para isso”, diz Dzonda ao LABS.
Como funciona o aplicativo da Facily

Como um marketplace de produtos diversos, o app da Facily permite que consumidores se unam em grupos para comprar produtos e assim obter descontos. Os consumidores podem criar seus próprios grupos ou se juntar a outros já em andamento, com pessoas interessadas em comprar os mesmos produtos.
No esforço de desintermediar cadeias inteiras, a Facily não cobra frete do consumidor e nem comissão fixa de quem vende na plataforma. A empresa possui centros de distribuição em boa parte das cidades onde atua, mas não em todas, e confia etapas de logística a operadores “experientes”.
A startup também montou uma rede de mais de 12 mil pontos de retirada, formada, em sua grande maioria, por pequenos negócios que ganham 5% do valor de cada item até um máximo de R$ 1.

“A medida que o volume de encomendas cresce, essa comissão passa a ser interessante. Porém, para muitos negócios, o efeito maior é o do cross-selling [venda cruzada]. Eu visitei uma loja de conveniência aqui em São Paulo há algumas semanas que fica ao lado de um ponto de ônibus. Quem toma ônibus ali acaba escolhem a loja como ponto de retirada e o dono me disse que 40% de quem passa por ali acaba comprando alguma outra coisa da loja”, relata Dzodan.
Os vendedores, por sua vez, recebem mais pelo Facily do que receberiam numa operação tradicional, mesmo que os preços sejam menores ao consumidor e que a startup cobre uma comissão média de 15% por venda.
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Os consumidores podem pagar pelos produtos via depósito ou pagar em dinheiro na hora do recebimento – o que também é uma questão chave para um negócio que quer atingir a base da pirâmide, ou seja, pessoas de renda mais baixa, que não têm acesso a um cartão de crédito ou simplesmente não estão acostumadas a comprar online. “Utilizamos alguns parceiros como gateway para o repasse aos Pontos de Retirada parceiros. Nosso principal parceiro hoje, é o Starkbank [banco digital com sede em Sao Paulo focado em contas de grandes empresas ou startups que precisam escalar rápido]”, explica Dzodan.
Atualmente, alimentos, produtos de limpeza e bebidas são as categorias que mais vendem dentro do Facily. Outras duas categorias em ascensão e que devem crescer em 2022 são artigos importados da China e moda.
As cidades onde a Facily atua são: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Brasília, Recife, Porto Alegre e Salvador. Em 2022, a startup quer chegar mais sete cidades e mais…”Queremos fechar o ano com um projeto piloto em uma cidade no México e uma cidade na Colômbia”, diz Dzodan.