Imagine uma fazenda de sete metros de altura. É, isso mesmo. Uma fazenda vertical urbana de sete metros de altura.
Essa é a Pink Farms, farm tech localizada na Vila Leopoldina, no centro de São Paulo. Lá dentro, torres de até dez andares iluminadas por lâmpadas vermelhas e azuis, que simulam a luz do Sol e resultam num ambiente rosa pink, comportam o cultivo de vários tipos de hortaliças, folhosas, cogumelos e algumas frutas.
Fazendas verticais são um modelo de produção intensiva: muita produção em pouco espaço. São, também, um modelo totalmente baseado em tecnologia e automação, uma vez que submete a planta a um ambiente altamente controlado. A premissa é aumentar a eficiência do cultivo e a qualidade do produto final a um custo operacional reduzido.
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Em conversa com o LABS, Geraldo Maia, um dos cofundadores da Pink Farms junto com os irmãos Mateus e Rafael Delalibera, explicou que a farm tech nasceu da vontade do trio de criar um negócio de tecnologia focado no mercado de economia real, que agregasse tecnologia a algum produto ou processo para impactar a cadeia de produção de maneira disruptiva.
“Procuramos por problemas do dia a dia e descobrimos a baixa variedade e qualidade no cultivo de verduras, legumes e frutas. Percebemos que a fazenda vertical resolve bem vários problemas dessa cadeia produtiva: a falta de alimentos, o uso de terra nativa, a baixa qualidade de alimentos, o uso intensivo de agrotóxicos.”
Tecnologia dentro de casa
O sistema de produção vertical da Pink Farms foi todo desenvolvido pela startup. Tudo começa com a receita da planta. É aqui que a equipe multidisciplinar da startup estuda a genética de uma determinada planta e define “o que quer” dela – qual sabor, quanta crocância, de que tamanho etc. Depois, são avaliadas as condições ideais de produção, ou seja, qual é a taxa de germinação, qual é a variação da colheita, qual é o nível de produtividade por metro quadrado por mês, entre outros. Por fim, se define as variáveis aplicadas àquele cultivo, como a combinação de sistemas hidropônicos, de luzes, de temperaturas etc.

A etapa seguinte compete à equipe de engenharia, que se debruça sobre como automatizar esse cultivo específico em escala.
As especificidades do modelo, diz Maia, incentivou o desenvolvimento da tecnologia dentro de casa. “Não tem uma solução de mercado que atenda o nosso modelo. Por isso desenvolvemos 100% da tecnologia.”
O resultado é um sistema de cultivo fechado, ou seja, em não há troca de ar entre o ambiente de cultivo e o ambiente externo. A tecnologia garante o controle de 100% das variáveis da planta: desde a temperatura até os níveis de humidade e CO2, a iluminação, que é totalmente artificial (e rosa!), até a solução nutritiva que as plantas recebem.
O cultivo não fica sujeito às interpéries do tempo, como secas ou excesso de chuvas, muito sol ou geada, risco de contaminação por pragas e outras condições que estressam a planta. A solução garante constância à produção, com pouquíssima variação do processo produtivo.
Geraldo Maia, cofundador da Pink Farms
Evolução do negócio
A farmtech está em sua quarta fase, segundo Maia. A história toda começou em 2016, com a fase de validação tecnológica, quando os três cofundadores desenvolveram e submeteram o sistema de cultivo vertical a uma série de testes para verificar se era de fato eficiente.
Depois vieram as fases de validação econômica, com o modelo piloto da fazenda, verificação de processos e custos por quilo produzido, testes com fornecedores e experimentação com mais de 40 tipos de plantas, até se chegar ao portfólio ideal; e de validação comercial, em que a startup buscou ajustar o melhor modelo de logística e venda dos produtos e gerar recorrência.
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Esse processo todo durou cerca de três anos e respondeu à pergunta inicial do grupo: sim, o sistema é eficiente. A fazenda vertical da Pink Farms produz cerca de 3 toneladas por mês e até 130 vezes mais por metro quadrado de solo. Segundo Maia, gera uma economiza de 95% de água e de 60% de fertilizantes por quilo produzido. Bônus: é livre de agrotóxicos.
Da fazenda para fora, a Pink Farms distribuí seus produtos para o centro, Zona Oeste e Zona Sul de São Paulo e já está presente em mais de 75 pontos de venda, entre supermercados, hortifrutis e restaurantes. Toda a logística de distribuição também é de responsabilidade da startup.
A fase atual é de expansão: em setembro, a Pink Farms vai mudar de casa e estrear uma nova fazenda vertical, maior e mais automatizada, com torres de até 24 andares para o cultivo. A projeção é de que a produção salte de 3 toneladas por mês para até 120 toneladas, a um custo até 35% menor.
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Maia contou que a nova fazenda vertical vai ser a primeira unidade modelo da Pink Farms e, a partir dela, o plano é escalar a operação e replicar o modelo em outras regiões do Brasil. A Pink Farms não tem intenção de vender a tecnologia para outras empresas.
O futuro
Em pouco mais de seis anos desde que foi fundada, a Pink Farms já realizou três rodadas de investimento, totalizando aportes de R$ 8,8 milhões de reais. Entre seus investidores estão a SP Ventures, a Grão Venture Capital e a Capital Lab Ventures. A rodada de financiamento mais recente da startup, concluída em março, aconteceu via crowdfunding e levantou R$ 4,8 milhões, 20% a mais do que o esperado.
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Além do lançamento da nova fazenda vertical e dos planos de replicar o modelo em outras regiões do Brasil, Maia contou que estão nos planos da Pink Farms uma rodada Série A, possivelmente ainda esse ano e, no logo prazo, a construção de uma marca forte para toda a América Latina. Para o empreendedor, o agro ainda é um campo pouco explorado de oportunidades de negócios de base tecnológica e a Pink Farms quer surfar essa onda.
“Ainda há uma quantidade enorme de oportunidades no agro, que é um mercado que ainda depende muito das grandes empresas trazerem inovação. O agro ainda vai ser revolucionado pela startups, ainda há muito valor a ser agregado à cadeia produtiva”, disse.