Negócios

Finlandesa MaaS Global compra app de mobilidade como serviço Quicko

A finlandesa MaaS Global, dona do aplicativo Whim, acaba de adquirir a startup brasileira Quicko. As duas empresas têm modelos de operação bem semelhantes – agregam informações de opções de transporte diversas em um só lugar –, mas a Maas veio primeiro, é pioneira no conceito de mobilidade como serviço (por isso o nome da empresa), tendo começado a operar em 2015.

Atualmente, o Whim está disponível na Áustria (Viena), Bélgica (Antuérpia), Finlândia (Helsinque, Turku), Japão (Tóquio), Suíça (em todo o país) e Reino Unido (Birmingham). Se para a empresa finlandesa a aquisição da Quicko é um passo importante rumo a outro (e gigantesco) mercado, para a startup brasileira é a oportunidade de rentabilizar sua base de usuários mais rapidamente.

Em entrevista ao LABS, o CEO da Quicko, Pedro Somma, contou que a relação entre as duas empresas já vem de longa data, já que o Whim e a MaaS inspiraram a criação da startup brasileira. “Para nós poder fazer parte de uma marca global que lançou o conceito de mobility as a service faz todo o sentido. (…) A gente vem trabalhando para aumentar a base e agregar mais serviços. Além do transporte público, temos Tembici e 99 como parceiros, por exemplo, e sabemos que nos levaria um tempo para amarrar tudo isso. Na Finlândia, a Maas já agrega tudo isso em um modelo de assinatura. Por outro lado temos um trabalho de roteirização [de trajetos] que é algo que eles não têm. A troca de tecnologia é muito relevante.”

LEIA TAMBÉM: Sempre atrás de novos jeitos de ocupar suas bicicletas, Tembici vê receita crescer 40% em 2021 e quer dobrar resultado neste ano

A Quicko, segundo Somma, já é o principal app de recarga de créditos do transporte público em Salvador, por exemplo, e também já tem integração com o Bilhete Único de São Paulo, mas quer acelerar na criação de uma plataforma integradora nos moldes do que o Whim já oferece na Finlândia. “Para isso também vamos aproveitar o momento para conversar com outros parceiros privados e prefeituras. Também queremos lançar novos modelos de negócios e lançar, ainda neste ano, um pacote de serviços para os nossos usuários”.

Hoje, a Quicko é remunerada por um porcentual das vendas de transporte que realiza. Com novos pacotes de serviços, pode diversificar esses ganhos e, melhor ainda, torná-los recorrentes.

Atualmente, a Quicko tem mais de 500 mil usuários — a base teria crescido 15 vezes em 2021 – e opera em oito regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza e Campinas). Ao todo, o app lançado em 2019 em São Paulo já chegou a  mais de 100 cidades.

Somma não revelou o valor do aquisição, mas disse que a ideia é que as duas empresas sejam uma só, com 130 colaboradores distribuídos em quatro sedes: Helsinque, Madri, São Paulo e Tóquio. Sobre as marcas, ainda não há nada decidido. Em um primeiro momento, nada mudará para o usuário brasileiro, que continuará vendo a marca da Quicko no smartphone.

LEIA TAMBÉM: Vibra investe R$ 5 milhões em startup de eletromobilidade Easy Volt

Ambas as empresas estão capitalizadas para o investimento. Em agosto do ano passado, a Maas anunciou uma extensão da uma Série B de € 29,5 milhões levantada em novembro de 2019, levando a rodada para um total de € 40,5 milhões. Com a rodada, a Ferrovial e a Tesi se juntaram aos investidores existentes da empresa NordicNinja e Mitsui Fudosan. Desde a sua fundação, a empresa finlandesa levantou € 65 milhões em recursos externos.

Também no ano passado, a Quicko anunciou uma Série B de R$ 100 milhões liderada pelo Grupo CCR e com participação da J2L Partners – mesmos investidores responsáveis pela Série A de US$ 10 milhões da startup, levantada em 2018, e que se tornarão acionistas da Maas Global.

“Acreditamos que o Brasil pode dar um salto digital, pular o estágio de propriedade do carro e levar os brasileiros direto para os serviços MaaS. Isso melhoraria o bem-estar das pessoas, resolveria os problemas de tráfego das cidades e forneceria uma maneira eficiente de reduzir as emissões de CO2 (…) Junto com a Quicko, queremos proporcionar aos brasileiros uma liberdade de mobilidade, mais justa e sustentável do que a posse de um carro”, disse Sampo Hietanen, CEO e fundador da MaaS Global, em um comunicado à imprensa.

LEIA TAMBÉM: O que podemos aprender com a mobilidade urbana colombiana?

A Quicko conseguiu crescer não só em meio à crise estrutural do transporte coletivo no país, que precisa de um novo modelo de financiamento, mas em meio aos impactos da pandemia, com a alta do combustível pressionando empresas de transporte e prefeituras sendo obrigadas a aumentar ou começar a subsidiar o transporte público. Parte do segredo está no esforço tecnológico, de integrar informações de mobilidade urbana e dar previsibilidade ao deslocamento, oferecendo soluções que vão além do carro. Outra parte está no fato de que a maioria dos brasileiros ainda depende de transporte coletivo.

“Temos quem usa transporte público e quem depende do transporte público. E no Brasil esse segundo perfil ainda é gigantesco. Logo no começo da pandemia tivemos uma mudança no perfil do usuário do Quicko, com mais gente da periferia usando app. São pessoas que não tiveram o privilégio de trabalhar de casa; não puderam optar por trocar o ônibus por uma bicicleta ou outra alternativa. Então, sabemos também que temos que trabalhar olhando para essa população.”

This post was last modified on março 24, 2022 4:22 pm

Fabiane Ziolla Menezes

LABS Editor-in-chief Fabiane has more than 15 years of experience reporting on business, finance, innovation, and cities in Brazil. This last passion took her back to the classroom not long ago and made her a Master in Urban Management at PUCPR. At LABS, she tries to always keep on game-changing businesses and people driving these changes in Latin America.

Share
Published by
Fabiane Ziolla Menezes

Recent Posts

O que a venda do SVB significa para as startups e os VCs da América Latina

Compra dos ativos do banco pelo First Citizens não deve impedir mudança do modelo de…

março 28, 2023

Teste seus conhecimentos e prove que você é um especialista nestes diferentes tópicos

Teste seus conhecimentos sobre o mercado com a 'Bloomberg Línea'

março 27, 2023

Demissões em tech têm maior nível desde bolha ‘pontocom’, mas setor ainda paga bem

Indústria não vê cortes tão profundos desde a bolha das pontocom, mas salário médio em…

março 26, 2023

Em tempo de crise, este unicórnio brasileiro quer buscar o breakeven sem aporte

Startup de social commerce Facily fez demissões e fechou centros de distribuição em 2022; CEO…

março 25, 2023

Microsoft planeja realizar novas demissões na segunda, diz site

Segundo o portal Business Insider, novos cortes devem ser realizados na área de segurança da…

março 25, 2023

Gordon Moore, co-fundador da Intel e criador da Lei de Moore, morre aos 94 anos

Lei de Moore foi parâmetro para o avanço na indústria eletrônica; executivos de empresas de…

março 25, 2023