Chefe de Relações Públicas na Ualá, Julieta Biagioni. Foto: Ualá/Cortesia
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Fintech argentina Ualá dobra número de cartões emitidos em 10 meses

O aplicativo de gerenciamento de finanças pessoais está se expandindo rapidamente. Sua plataforma está vinculada a um cartão pré-pago Mastercard, que permite aos usuários fazer transações

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A crise do coronavírus aumentou o uso de meios de pagamento digitais, enquanto as medidas de distanciamento social diminuem a manipulação de cédulas no mundo inteiro. Nesse cenário não lucrativo para muitas empresas, a Ualá, financiada pelo SoftBank, encontrou seu caminho e vem se expandindo rapidamente. A fintech dobrou o número de cartões emitidos em 10 meses, de 1 milhão para 2 milhões.

Na startup argentina com 2 anos e 7 meses de idade, o rápido crescimento foi impulsionado pela pandemia, que levou a um aumento maciço de downloads e transações no aplicativo. Sobre isso, o LABS conversou com a Chefe de Relações Públicas na Ualá, Julieta Biagioni.

“Em geral, o que percebemos com a pandemia de coronavírus foi o crescimento da demanda à medida que as pessoas adotaram novos hábitos”, disse ela, acrescentando que um plano de crescimento para o ano inteiro ocorreu em meses. Com a pandemia e o decreto de lockdown, os argentinos tiveram que recorrer a meios digitais para pagar suas contas. Desde então, o serviço de pagamento de contas digitais da Ualá, que tem a Western Union como parceira, disparou nas transações no mês passado.

Antes da pandemia, a Ualá alcançou novos usuários com suas campanhas de anúncios digitais, mas, quando a crise do coronavírus atingiu a Argentina, Biagioni diz que a startup reduziu esse tipo de investimento em publicidade e, ainda assim, houve muitas pessoas com um interesse orgânico pela Ualá. “Mas não cresceu tanto quanto o próprio aplicativo”, relatou.

O aplicativo também permite ao usuário controlar despesas. Em outubro do ano passado, a empresa renovou os cartões, incluindo pagamentos com chip e sem contato, e inovou com um design vertical, o primeiro na Argentina.

Cartão pré-pago Mastercard da Ualá. Foto: Ualá/Divulgação

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O aplicativo está disponível para a Argentina no Android e iOS e está em todas as cidades do país. Mais da metade (68%) dos cartões emitidos estão na cidade e região metropolitana de Buenos Aires.

Biagioni disse que, devido às recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde) sobre distanciamento social, as pessoas deixaram de frequentar as ruas na Argentina, e quem antes usava a Ualá apenas para compras on-line, agora passou a utilizar para pagamento de contas como água, gás e outros serviços através de meios digitais.

Com o cartão da Ualá, os argentinos podem fazer compras em qualquer comércio físico ou online do mundo que aceite Mastercard. Por meio do aplicativo, os clientes podem realizar várias transações, como pagar contas por mais de 4.000 serviços, colocar saldo pré-pago de celular, solicitar empréstimos, investir em fundos de investimento gerenciados pelo grupo SBS com a possibilidade imediata de dinheiro.

Além da Western Union, a Ualá trabalha com o RapiPago e o PagoFacil, que são canais extra-bancários na Argentina dedicados à cobrança de contas e impostos públicos e privados. O cartão pré-pago da fintech pode ser carregado pelo RapiPago e PagoFácil ou mesmo por uma conta bancária ou virtual. Biagioni explica que, como esses canais foram fechados durante a quarentena, muitas pessoas que provavelmente nunca fizeram uma transação virtual começaram a fazê-lo e a aprovar o método de transações digitais em vez de pagar por esses canais.

É uma coisa nova. Essa pandemia fez com que hábitos que os argentinos levariam muito tempo para incorporar fossem incorporados imediatamente em meio à pandemia

Chefe de Relações Públicas na Ualá, Julieta Biagioni

Os números mostram que a fintech está indo bem. O AUM (ativo sob gestão) do fundo que a fintech possui com o grupo SBS teve picos de 25% durante a pandemia. Durante a quarentena, a startup abriu posições de trabalho e fez 50 onboardings de maneira remota.

Atualmente, a Ualá tem 330 funcionários e enviou todos para trabalhar em casa antes mesmo de o governo argentino estabelecer a política de lockdown. A startup tem agora 60 ofertas de emprego. “Esperamos terminar 2020 com 600 pessoas”, disse ela. Também não há planos de retornar ao escritório de Buenos Aires até agora, uma vez que a empresa de tecnologia pode trabalhar totalmente de maneira remota, de acordo com Biagioni.

Cartão e app da Ualá. Foto: Ualá/Divulgação

Segundo a Ualá, 6% dos usuários do aplicativo são estrangeiros, predominantemente venezuelanos e paraguaios. Além disso, 7% dos cartões são emitidos para menores de 18 anos, já que na Argentina é possível obter cartões a partir dos 13 anos com autorização dos pais.

O próximo unicórnio tem um cenário favorável para o crescimento na Argentina, uma vez que uma grande proporção de cidadãos de lá não tem banco. De acordo com o estudo Global Findex do Banco Mundial em 2017, quando Ualá nasceu, apenas 48% dos argentinos tinham uma conta bancária.

Falando sobre o setor, o mesmo índice mostrou que apenas 7% dos argentinos solicitaram empréstimo junto a uma instituição financeira e 41% possuem cartão de débito, contra 24% que possuem cartão de crédito. Além disso, quase 70% dos celulares na Argentina são pré-pagos.

Crescimento apesar da crise

Por outro lado, o país sul-americano é um dos ambientes de negócios mais difíceis para os investidores. O país está caminhando para o nono incumprimento de dívida soberana e, no entanto, grandes nomes da tecnologia como Tencent e SoftBank colocam suas infusões na startup. A Ualá recebeu uma rodada de investimentos da série C de US $150 milhões em novembro de 2019 e também gerou investimentos de capital e uma figura não pública para a Tencent em abril de 2019. Sobre as rodadas futuras, a fintech prefere não comentar.

“Economicamente falando, a Argentina tem muitas carências, mas temos esse contexto de crise de coronavírus em todo o mundo. Vemos que a indústria de fintech passará por ela, como tantas empresas de comércio eletrônico que estão crescendo”, diz Biagioni. “Verdade seja dita, a indústria de fintech geralmente mostra sinais de crescimento na Argentina e no Brasil. Vemos cada vez mais fintechs, não apenas para meios de pagamento, mas também para opções de investimento, financiamento coletivo”.

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Segundo ela, a Ualá e outras fintechs já deveriam crescer, mas como a pandemia promove o uso de meios virtuais, espera-se que ainda mais pessoas comecem a vender produtos e serviços online. “Para que as pessoas precisem de um método de pagamento digital e a Ualá continue crescendo também como um método de pagamento de produtos e serviços”, afirmou.

Crescimento por causa da crise

A carteira digital do MercadoLibre, MercadoPago, Brubank e o Nubank brasileiro são os principais concorrentes do unicórnio emergente, mas, tentando transformar a economia da Argentina digitalmente, os maiores rivais da fintech são de fato transações em dinheiro.

As fintechs estão crescendo apesar da crise, ou por causa disso. Uma pesquisa da Câmara Argentina de Fintech e Secretaria de Finanças em junho mostrou que a categoria fintech cresceu 63,1% e atingiu 217 empresas na Argentina. Dessas 217 empresas, o segmento com mais empresas no país é “Crédito”, respondendo por 58 delas, o que representa 26,7% do ecossistema.

Falando sobre a fintech em todo o mundo, a maioria das empresas está localizada na categoria “Pagamentos e transferências digitais”. Na Argentina, este é o segundo item mais importante, com 39 empresas (18%), seguido de “Fornecedor de tecnologia”, com 29 empresas (13,4%); “Blockchain & Crypto”, com 25 (11,5%); “Serviços fintech B2B”, com 21 (9,7%); “Gestão de patrimônio” (investimentos), com 18 (8,3%); e “financiamento coletivo” (16 ou 7,4%); “Insurtech” ou seguro (7 ou 3,2%); e cibersegurança (4 ou 1,8%). A maioria delas são PME.

Segundo o Estudo Kantar de agosto de 2019, 6 em cada 10 argentinos fizeram recentemente uma transição financeira com seus telefones celulares, um meio que cresceu mais entre homens (65%) e nos setores com maior poder de compra (73%) e entre pessoas com 35 e 49 anos (67%). Falando sobre os argentinos que estão usando o método de pagamento virtual, 94% disseram que a experiência do aplicativo foi excelente e 2 em cada 3 dizem agora que preferem esse tipo de aplicativo para essas operações. A maioria usa a plataforma para pagar por serviços (37%), recarregar um telefone celular (29%) e pagar pelo cartão SUBE (22%), que é um cartão usado nos serviços de transporte público em Buenos Aires.

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